Cultura e cidadania se encontram em projeto que leva pessoas LGBTI em situação de vulnerabilidade ao teatro

Nos dois últimos sábados (04 e 11/09), o projeto “Leva ao Teatro” proporcionou uma experiência única a 115 pessoas atendidas pelos Centros de Cidadania LGBTI Laura Vermont e Luana Barbosa dos Reis

O acesso à cultura é uma das formas de inclusão e da plena realização da cidadania. Com esse propósito, a Coordenação de Políticas para LGBTI, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), promoveu nos dois últimos sábados (04 e 11/09) o projeto “Leva ao Teatro”. A ação proporciona às pessoas que que vivem em situação de vulnerabilidade social, beneficiárias de programas e serviços dos Centros de Cidadania LGBTI, a oportunidade de vivenciar a magia do teatro.

“O preconceito sofrido por pessoas LGBT, que para muitas já começa dentro da própria casa ou da escola, acaba por impedir ou limitar o acesso ao teatro ou outros eventos culturais” conta Xênia Star, assessora da Coordenação de Políticas para LGBTI. “Dar a elas esta oportunidade é também uma forma de resgatar a cidadania, e abrir caminhos para novos experiências e maneiras de ocupar os espaços públicos”, afirma.

As idas ao teatro aconteceram com cerca de 115 pessoas, atendidas pelos Centros de Cidadania LGBTI Laura Vermont e Luana Barbosa dos Reis, localizados na zona Leste e Norte, respectivamente. Para muitas destas pessoas, foi a primeira vez que tiveram a oportunidade de assistir uma peça de teatro. O espetáculo escolhido nas duas ocasiões foi “As Bunytas do Rádio”, que no primeiro sábado (04) foi exibido no Teatro Alfredo Mesquita e, no segundo (11), no Teatro Cacilda Becker.

É o caso de Agatha Plácido, 35 anos, mulher transsexual, que vive uma fase de descobertas. Ela conta que sempre gostou de escrever, inclusive peças de teatro e poemas, mas que nunca havia ido ao teatro. “Meu sonho era ser atriz, com todas as dificuldades que uma mulher trans enfrenta, e eu vivi isso na peça, senti um pouco da minha história, das muitas coisas pelas quais passei, no enredo que se passa em um programa de rádio, e o preconceito da sociedade”, conta. Na peça, um rapaz desiste de um romance com uma mulher transsexual por pressão da sociedade.

Além de nunca ter ido ao teatro, também foi a primeira vez que Agatha saiu como mulher trans, depois que assumiu sua identidade feminina. De família evangélica, perdeu o pai quando tinha nove anos, de quem ela sente muito a sua falta. Saiu de casa aos 17 e, agora, com o incentivo do Transcidadania, programa da SMDHC que incentiva travestis, mulheres transsexuais e homens trans a concluírem os estudos, cursa o último ano do Ensino Médio, depois que o bullying que sofreu na escola na infância prejudicou seus estudos. “Posso dizer que hoje eu vivo e me sinto realizada”, conclui.

Para a travesti Dávila Ravache, 45 anos, essa foi a sua segunda experiência no teatro. Se declara uma pessoa vivida, já tendo morado na Europa. Também está no programa Transcidadania, e vai concluir o Ensino Médio em 2022. Ela compara a experiência rara de ir a um evento cultural às chances no mercado de trabalho. “É preciso estar preparada e se portar bem, e nem sempre algumas meninas compreendem isso”, afirma. “Em uma sociedade preconceituosa como a nossa, é preciso saber o que vestir e como se portar, e ir ao teatro também requer essa atitude. Temos 14 milhões de desempregados no país disputando vagas, e se você não está preparada é ainda mais difícil para uma mulher trans ou travesti. Você precisa dar o seu melhor para conseguir uma chance”, afirma.

A iniciativa contou com a parceria da Associação Cantinho da Família, Allibus Transportes Ltda. e ACESD (Associação Cultural, Educacional e Social Dynamite), que garantiram o transporte e alimentação. As(os) participantes foram recepcionadas(os) pelo diretor do Teatro Alfredo Mesquita.

E o projeto “Leva ao Teatro” vai seguir oferecendo experiências únicas e, neste sábado (18/09), será a vez de pessoas atendidas pelo Centro de Cidadania LGBTI Edson Neris entrarem em contato com a magia do teatro.

As Bunytas do Rádio

A peça assistida no último sábado (04/09) aborda as nuances do amor, a partir da temática poética da Era do Ouro do Rádio. Três drag queens – Jhenny (Renato Lima), Mercedez Vulcão (Pedro Machitte) e Thelores (Beto Souza) – constroem histórias românticas através das músicas de grandes divas brasileiras, como Dolores Duran, Dalva de Oliveira, Irmãs Galvão, Ângela Maria, Inesita Barroso, entre outras.

As cenas são inspiradas na dramaturgia de radionovelas, e a peça culmina em um grande programa de auditório ao vivo, com a participação do público. Sendo assim, a cada cena o espetáculo ganha nuances diferentes.

Programa Transcidadania

O Transcidadania é um programa da Prefeitura de São Paulo, sob a responsabilidade da SMDHC, que oferece uma bolsa mensal para pessoas trans que se comprometem a buscar a progressão escolar, nas escolas públicas referenciadas, que oferecem um ambiente mais propício para essa diversidade.

O Programa é descentralizado nos Centros de Cidadania LGBTI da prefeitura, onde as participantes têm apoio psicológico e de assistência social, reforço escolar, e cursos e oficinas de capacitação. Em 2020, o Transcidadania mais que dobrou o número de vagas, de 240 para 510 bolsistas.

Centros de Cidadania LGBTI

Sob responsabilidade da Coordenação de Políticas LGBTI, da SMDHC, os cinco Centros de Cidadania LGBTI desenvolvem ações permanentes de combate à homofobia e respeito à diversidade sexual. Nos equipamentos é possível ter acesso à orientação jurídica, social e psicológica, além de oficinas e programas como o Transcidadania, que visa a continuidade dos estudos e fortalecimento da cidadania para travestis, mulheres transsexuais e homens trans em situação de vulnerabilidade.

Veja abaixo mais informações sobre cada unidade:

Centro de Cidadania LGBTI Claudia Wonder (Zona Oeste)
Avenida Ricardo Medina Filho, 603 – Lapa
Segunda a sexta-feira, das 9h às 18h
Telefone: (11) 3832-7507
centrolgbtoeste@prefeitura.sp.gov.br

Centro de Cidadania LGBTI Laura Vermont (Zona Leste)
Avenida Nordestina, 496 – São Miguel Paulista
Segunda a sexta-feira, das 9h às 18h
Telefone: (11) 2032-3737
centrolgbtleste@prefeitura.sp.gov.br

Centro de Cidadania LGBTI Luana Barbosa dos Reis (Zona Norte)
Praça Centenário, 43 - Casa Verde
Segunda a sexta-feira, das 9h às 18h
Telefone: (11) 3951-1090
centrolgbtnorte@prefeitura.sp.gov.br

Centro de Cidadania LGBTI Edson Neris (Zona Sul)
Rua: Conde de Itu, 673 - Santo Amaro – São Paulo-SP
Segunda a sexta-feira, das 9h às 18h
Telefone: (11) 5523-0413 / 5523-2772
centrolgbtsul@prefeitura.sp.gov.br

Centro de Referência e Defesa da Diversidade Brunna Valin (CRD)
Rua Major Sertório, 292/294 - República
Segunda a sexta-feira,das 11h às 20h
Telefone: 11 3151-5786 / 5783
crd@crd.org.br