Caravana da Anistia julga o caso do estudante Alexander José Ibsen Voeroes

Chileno, Voeroes veio para o Brasil em 1952 e, no período da ditadura, engajou-se na luta de resistência. Preso pelo DOI-CODI paulista, acabou assassinado em fevereiro de 1972. O secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Rogério Sottili, compôs a mesa

Aconteceu na quarta-feira, dia 9, na Faculdade de Educação da USP, a 82ª Caravana da Anistia. Realizada pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, a sessão julgou o caso de Alexander José Ibsen Voeroes, aluno do Colégio de Aplicação entre os anos de 1968 e 1972. Chileno, Voeroes veio para o Brasil em 1952 e, no período da ditadura, engajou-se na luta de resistência. Atuou nos grupos de luta armada Ação Libertadora Nacional (ALN) e Movimento de Libertação Nacional (Molipo). Preso pelos agentes do DOI-CODI paulista, acabou assassinado em fevereiro de 1972.

A mesa do evento foi composta por Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia; Rogério Sottili, secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania; Marco Antonio Zago, reitor da Universidade de São Paulo; Lisete Arelaro, diretora da Faculdade de Educação; Adriano Diogo, presidente da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva; Clóvis Bojikian, ex-diretor do Colégio de Aplicação; e Lira Alli, estudante da USP. Paulo Abrão abriu os trabalhos e, depois, cada um dos integrantes fez uma fala. Carmen, mãe de Voeroes, estava presente.

"O poder público, seja município, estado ou União, deve muitos esclarecimentos aos familiares dos mortos e desaparecidos políticos, aos militantes que sofreram todos os abusos e atrocidades praticadas pelo Estado na época e à sociedade em geral. A Prefeitura tem reiterado o seu compromisso de trabalhar na busca da verdade e no fortalecimento da memória sobre as graves violações de direitos humanos ocorridas na Cidade. Entre outras iniciativas, está em trâmite na Câmara de Vereadores o projeto de lei que cria a Comissão da Memória e da Verdade da Prefeitura, para investigar o papel da administração municipal durante a ditadura civil-militar", disse o secretário Rogério Sottili.

"Ao trabalhar as políticas de memória e verdade, queremos lembrar a trajetória de vida dos militantes da resistência, valorizar sua luta e disseminar suas biografias, para que sirvam de referência e de inspiração às novas gerações. Essas histórias têm um enorme potencial transformador para a juventude que está nas ruas, nas periferias, convivendo diariamente com a violência de Estado", completou Sottili.

Lira Alli, representando os jovens, reforçou: "Temos de romper com esse ciclo de impunidade, porque a polícia de hoje faz exatamente o que fazia naquela época, mas agora com jovens negros e pobres da periferia".

Depois de quase três horas de evento, Paulo Abrão, em nome do Estado brasileiro, pediu desculpas à mãe de Alexander. Desde 2001, a Comissão de Anistia já recebeu mais de 70 mil pedidos de reparação. Até agora, o Estado já julgou favoráveis mais de 35 mil deles, declarando essas pessoas "anistiadas políticas". Em pelo menos 15 mil casos, a Comissão, além do pedido de desculpas oficial, reconheceu o direito à reparação econômica.

No fim do ato, foi descerrada uma placa em homenagem a Voeroes, colocada na parede da Faculdade de Educação, com os seguintes dizeres: "Homenagem ao aluno Alexander José Ibsen Voeroes. Em reconhecimento ao seu valor histórico e político, por ter dado sua vida lutando por liberdade e democracia. Foi aluno do Colégio de Aplicação entre 1968 e 1972. Morto pela ditadura militar em 2 de fevereiro de 1972".

A Caravana da Anistia, criada em 2001, retira os julgamentos do Palácio da Justiça Raymundo Faoro, sede do Ministério da Justiça, em Brasília, para tornar o processo transparente, aberto e acessível a qualquer cidadão. Segundo Paulo Abrão, "o golpe tentou criminalizar a política e isso não pode mais acontecer". Por isso, as Caravanas pelo Brasil levam o caso ao local em que ele aconteceu ou a um local simbólico que fez parte da trajetória do anistiando, para que se conheça a história e para que ela não mais se repita.