Comissão da Memória e da Verdade discute crimes da ditadura e violência policial

Duas audiências públicas realizaram debates sobre a Vala Clandestina de Perus e os crimes de Carlos Alberto Brilhante Ustra e da Polícia Militar foram colocados em pauta

 A Comissão da Memória e da Verdade da Prefeitura de São Paulo (CMV) realizou duas audiências públicas para discutir o paralelo entre os crimes praticados na ditadura civil militar e as ações policiais atuais.

Membro da Comissão, o jornalista Camilo Vanucchi reforçou a importância destes encontros que visam, em primeiro lugar, a possibilidade de interlocução com a sociedade civil. “Nessas audiências, temos a oportunidade de nos encontrar com atores que tiverem participação relevante nos episódios investigados a fim de inquiri-los, argui-los”, declarou.

Violência de Estado na Cidade de São Paulo na Ditadura de Hoje

Audálio Dantas, membro da Comissão de Direitos à Memória e a Verdade, ao lado do jornalista Caco Barcellos

O primeiro encontro aconteceu na quinta-feira (2) e contou com a presença do jornalista Caco Barcellos, que durante sete anos investigou os crimes da polícia militar. “São crimes contra negros e pobres, e por isso não damos a devida importância”, afirmou. Caco foi um dos primeiros jornalistas a pesquisar a respeito da Vala Clandestina de Perus, que foi descoberta no início da década de 90 e continha ossadas e restos mortais de presos e perseguidos políticos da ditadura.

No seu relato, Caco Barcelos relembrou a apuração, que envolveu cruzamento de informações, depoimentos de familiares e documentos do Instituto Médico Legal (IML). Segundo ele, parte dos papeis aos quais teve acesso estavam sujos com sangue, pois ficavam presos ao punho das vítimas e outros traziam a letra “T”, designação feita pela polícia para identificar as vítimas consideradas terroristas.

Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra

O segundo encontro se dedicou a debater as torturas e violações de direitos humanos cometidas pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que ao lado de Sérgio Paranhos Fleury foi um dos maiores algozes do período. O coronel, responsável pelo Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) de São Paulo, torturou pessoalmente Amelinha e Janaina Teles, além de ter também torturado a presidente afastada, Dilma Rousseff. As duas primeiras estavam na audiência e cederam seus depoimentos. Além delas também estavam presentes ngela Mendes de Almeida, viúva do jornalista Luiz Eduardo Merlino, assassinado nas dependências do DOI-CODI, e juristas como Fábio Konder Comparato, que representava as famílias das vítimas que moviam processontra Ustra.

Ustra faleceu em outubro do ano passado e foios c o primeiro militar a ser reconhecido, pela Justiça, como torturador durante a ditadura.


Comissão da Memória e da Verdade

Instalada em 26 de setembro de 2014, a Comissão da Memória e Verdade da Prefeitura de São Paulo (CMV-PSP) trabalha para investigar violações dos direitos humanos praticadas no município durante a ditadura civil-militar (1964-1988). A iniciativa faz parte da Meta 64, do Programa de Metas da Cidade de São Paulo 2013-2016 e é a primeira comissão dessa natureza no âmbito municipal.

A CMV-SP é composta por cinco membros – a professora Tereza Lajolo, os jornalistas Audálio Dantas e Camilo Vannuchi, o advogado Fermino Fechio e também pelo geólogo Adriano Diogo – mais uma equipe de assessoria técnica.