Inventário de Obras de Arte em Logradouros Públicos da Cidade de São Paulo

Monumento a Carlos Gomes

Os Annaes da Câmara Municipal de São Paulo de 1908 mencionavam a existência de um projeto para homenagear o compositor Antônio Carlos Gomes (Campinas, 1836 – Belém, 1895) com uma estátua em praça pública. No ano seguinte, por iniciativa do maestro Luiz Chiafarelli e de Gelásio Pimenta, jornalista campineiro e professor do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, formou-se uma comissão executiva destinada a arrecadar fundos para a construção de um monumento ao compositor. Os membros da comissão eram figuras de destaque da colônia italiana radicada em São Paulo, como os condes Francisco Matarazzo e Alexandre Siciliano, que pretendiam homenagear a cidade e o Brasil no Centenário da Independência. A escolha de Carlos Gomes se deveu ao amor do compositor pela Itália, onde residiu e compôs grande parte de suas obras. A execução do monumento, no entanto, só foi providenciada mais tarde, com a contratação do escultor Luiz Brizzollara (Chiavari, Itália, 1868 – Gênova, Itália, 1937) em 1920, através de um acordo entre italianos e o Governo do Estado. A colônia italiana teria contribuído com metade dos custos; o Governo do Estado e a Prefeitura com outra parte.

O projeto do monumento foi aprovado pela Lei Municipal nº 2516, de 7 de agosto de 1922, assinada pelo prefeito Firmiano de Moraes Pinto. O local escolhido para sua implantação foi a esplanada do Theatro Municipal, no Parque Anhangabaú. Para tanto, a Prefeitura autorizou, conforme orçamento apresentado pelo engenheiro Francisco de Paula Ramos de Azevedo, uma verba de sessenta e cinco contos e sessenta e um mil e quinhentos réis, destinada às obras necessárias para adaptação do local, de forma a receber o monumento, inaugurado no dia 12 de outubro de 1922. O conjunto escultórico foi executado pela Camiani e Guastini Fonderia Artística in Bronzo, de Pistóia, na Itália.
Composto por alegorias e estátuas de personagens das óperas mais importantes de Carlos Gomes, o monumento forma, com o Theatro Municipal, um conjunto harmônico e grandioso. No alto, em destaque, está a estátua em bronze do compositor, ladeado pelas alegorias à Música e à Poesia, esculpidas em mármore Carrara. Abaixo, no centro da fonte, um grupo escultórico denominado Glória, é formado por uma figura feminina – a República – sobre a esfera celeste com a inscrição positivista “Ordem e Progresso”, conduzida por um grupo de três cavalos alados e com nadadeiras, que jorram água pelas narinas.

Em 1957, o prefeito Adhemar de Barros recebeu a escritora italiana Mercedes La Valle, que lhe entregou um frasco com água da Fontana di Trevi, de Roma. Durante cerimônia no Monumento a Carlos Gomes, o prefeito despejou a água na fonte, como num batismo, dando a ela o nome de Fonte dos Desejos.

Em nível intermediário das escadarias, encontram-se as estátuas de Lo Schiavo (ópera de 1889) e de Maria Tudor (1879). Junto ao guarda-corpo das escadarias, no seu ponto mais baixo, estão Condor (Odalea, 1891) e Fosca (1873). Salvator Rosa (1874) e O Guarany (1870 - baseado no romance homônimo de José de Alencar), estão nos degraus à frente da fonte. Os grupos escultóricos Itália e Estados Unidos do Brasil estão posicionados nas extremidades do conjunto e em primeiro plano. Itália é representada pela figura de uma mulher ajoelhada, com uma espada na mão direita e apoiando a mão esquerda sobre uma estatueta da Vitória de Samotrácia, que, por sua vez, é sustentada pelo gênio das Belas Artes – um homem sentado aos pés de Itália. Estados Unidos do Brasil traz uma mulher em pé, com a bandeira do Brasil na mão esquerda. Um homem, representando o povo, se ajoelha e beija seus pés.

A estátua de Condor amolda-se à extremidade inferior do balaústre da escadaria. Quem desce a escadaria tem a impressão de que Condor lhe estende a mão, como num cumprimento. De tanto ser tocado, o bronze perdeu a pátina e São Paulo ganhou uma lenda: em visita à capital paulista, o viajante que tocar um dos dedos de Condor encontrará a sorte. Em respeito à tradição popular, restauradores do DPH optaram por não recompor a pátina da mão de Condor durante a restauração executada em 2001.


Seção Técnica de Levantamentos e Pesquisa
Divisão de Preservação - DPH