Espetáculo “violento.” expõe a vida do jovem negro urbano

Peça de Preto Amparo e Alexandre de Sena é apresentada nos dias 12 e 13, no Teatro Décio de Almeida Prado

A trajetória de um jovem negro, exposto aos mais variados tipos de violência e à hipersexualização de seu corpo, é contada de maneira verossímil em “violento.” O espetáculo, recentemente contemplado pelo Prêmio Leda Maria Martins de Artes Cênicas Negras de Belo Horizonte como Melhor Peça de Longa Duração, é apresentado nos dias 12 e 13 de março, no Teatro Décio de Almeida Prado, com ingressos a R$ 40.

Com dramaturgia de Preto Amparo e Alexandre de Sena, que também assina a direção, a peça surgiu a partir de uma pesquisa de Amparo iniciada a partir de uma apresentação na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) durante uma ocupação artística. A ideia era construir uma obra cênica que dialogasse com a ancestralidade e a vida do jovem negro urbano. O autor conta que essa pesquisa se deu em “vivência”, sendo um espetáculo vivo e conectado com a experiência preta no País. “Diferente da estrutura teatral clássica, em que se parte de uma sala de ensaio e de uma ‘imersão’ na qual o artista busca (re)produzir esteticamente o seu pensamento, neste espetáculo, a imersão se dá na realidade das nossas e outras vivências pretas.”

Para Preto, que também integra o elenco, a peça busca conectar o público negro que assiste ao espetáculo às suas potências estéticas, artísticas e sociais. Ele considera que pensar esteticamente, na arte, é, acima de tudo, reproduzir um ideal social. “É neste caminho que a montagem busca uma transformação para além dos espaços artísticos”, afirma.
Além de gerar reflexão, Amparo diz que a montagem busca “provocar ações”. Segundo ele, “é importantíssimo que haja espaços para refletirmos a situação racial do Brasil, mas, além de pensar, é necessário agir”. O espetáculo torna-se, então, um convite àqueles que anseiam por uma sociedade melhor.

O artista conta que a maior importância de “violento.” é a de continuar o processo histórico de resistência social e artística. Para ele, “a ‘voz’ que o espetáculo traz é uma voz silenciada por séculos na história brasileira”, e, ainda hoje, segundo Preto, estas experiências são taxadas “de forma simplória, como identitárias, panfletárias ou ativistas”. Por isso, é importante reconhecer as estéticas e propostas negras “como processos artísticos verdadeiros e potentes em sua essência.

Ao evidenciar as experiências de um jovem negro, tendo potencializada a exposição a toda violência da cidade, “violento.”, segundo Amparo, não tem, exatamente, este ângulo como escolha estética. Para ele, estas violências já explicitam-se diariamente na grande mídia. Ao contrário: “‘violento.’ busca reafirmar que estas não são as nossas únicas possibilidades. O que aparece na peça é uma experiência de um corpo negro potente, criador, estético e, acima de tudo, artístico.”

Por Reinaldo Silva

| Teatro Décio de Almeida Prado. R. Lopes Neto, 206 - Itaim Bibi. Zona Oeste.| tel. 3079-3438. 12/3 e 13/3. Quinta, às 18h, e sexta, às 21h. R$ 40. Livre.