Peça “Mau Lugar” retrata mal estar da sociedade e discute suicídio

Neste Setembro Amarelo, apresentações no Teatro Flávio Império são gratuitas; dia 18, espetáculo é seguido de conversa sobre saúde mental

Diante de uma onda de suicídios, o governo decide torná-lo crime hediondo, e responsabilizar criminalmente as famílias dos suicidas. Esse é o pano de fundo da peça “Mau Lugar”, do Coletivo de Galochas, que se inspira no mal estar da sociedade hoje para discutir questões de saúde mental. Neste Setembro Amarelo, a peça conta com duas apresentações gratuitas no Teatro Flávio Império, nos dias 17 e 18. No domingo, a sessão é seguida por conversa com a médica-psiquiatra Doutora Liamar Ferreira.

“A distopia já é a realidade”, explica o diretor Daniel Lopes. “Vivemos uma das maiores crises humanitárias da história, que é reflexo de uma sociedade movida pelo ódio e pela violência”. Para o dramaturgo Rafael Presto, questões como a hipermedicalização da vida, alta no número de suicídios e as inseguranças relacionadas à precarização do trabalho foram algumas das inspirações para a ambientação da peça. “É a nossa realidade imediata o principal motor para a criação desse universo distópico”, explica.

O enredo enfoca na personagem Lúcia, gerente de uma fábrica de “remédios da felicidade”, cujas convicções são postas em xeque a partir do suicídio de sua própria filha. “Para mim, o que desencadeia Mau Lugar é a falta de consciência de classe representada pela protagonista Lúcia, que consentiu à classe burguesa o acesso ao poder dos corpos e o controle até da subjetividade do trabalhador, dos seus sonhos e de sua felicidade”, explica Lopes.

Os remédios de Lúcia, entretanto, não trazem a felicidade prometida. “A felicidade imposta já é por si só algo impossível, por que a verdadeira provém da liberdade”, afirma o diretor. “As pessoas passam por crises, instabilidades e esses momentos são tão importantes quanto aqueles de felicidade, são uma forma de conhecimento do que somos e do nosso entorno”. Ele afirma, entretanto, só acreditar na felicidade coletiva. “Daquela de saber que não tem gente passando fome, sendo humilhado pra ter o mínimo de dignidade, sem direito de sonhar, estudar e construir com as próprias mãos sua vida”.

A questão da hipermedicação também é central na peça. “Em um contexto de adoecimento mental severo, agravado, se espalhando, a resposta tem sido apenas a medicalização”, explica Presto, que critica a rotina regrada, hiperconectada e a necessidade de ser feliz e empreendedor o tempo todo. "Todas essas coisas vão gerando esse grande mal estar, que desemboca nessa onda de transtornos mentais, mas, ao invés da gente atacar a causa, a gente ataca o sintoma”, conclui.

Ao final da apresentação do dia 18, a médica-psiquiatra Doutora Liamar Ferreira, especialista em saúde mental, álcool e outras drogas, promove uma conversa com o público.

Por Gabriel Fabri

Serviço:

| Teatro Flávio Império - Teatro. Rua Professor Alves Pedroso, 600 - Cangaíba. 17/09, às 20h, e 18/09, às 19h. 50 minutos. Livre. LIBRAS em 18/09.