SMC em Foco: Em busca do sonho doce

Na segunda edição do boletim interno da SMC, confira nossa homenagem à colega Fernanda Carvalho Costa

Todo o mundo sabe que quem tem a sorte de nascer num lar mais abastado tem mais chance de vencer na vida do que aqueles que vivem numa comunidade mais carente.

Nossa colega Fernanda Carvalho Costa, supervisora de parcerias e prestações de contas da SMC, pôde bem constatar isso em sua infância.

Descendente de portugueses, Fernanda nasceu e foi criada numa rua simples de Cachoeirinha, bairro que ela considera periferia, na zona norte da cidade.

- Meu avô era pedreiro, minha avó costureira, meu pai pintor e minha mãe manicure. Tenho tanto orgulho da minha mãe! Ela é a pessoa mais importante da minha vida. Todos ganhavam pouco, mas o suficiente para sobrevivermos. Nunca faltou comida em nossa mesa nem roupa decente para vestirmos.

 

 

A periferia é solidária

Mas, se a família Carvalho Costa conseguia “se virar”, nem todos ao seu redor podiam dizer o mesmo.

- Havia muita gente carente no local, conta Fernanda. Mas a periferia é solidária. Todos se conhecem e um procura ajudar o outro. Se alguém está sem comida ou agasalho, dá-se um jeito. Se alguém fica doente e precisa correr ao hospital, sempre consegue a ajuda de um que tem carro e o socorre. Minha avó mesmo, apesar das limitações financeiras que tinha, prontamente resolveu adotar uma menina, filha de uma moradora de rua que não tinha condições de sustentar a nenê. E assim ganhei uma tia incrível que para mim, é como se fosse minha irmã.

 

A importância da escola

O pai de Fernanda sabia que o estudo é importante para se assegurar um futuro melhor. Por isso cobrava com rigidez a atuação dos filhos na escola. Achava que o ensino numa escola particular era melhor, mas não tinha condições de arcar com as mensalidades dos três filhos. Assim a família resolveu que todos contribuíram para o pagamento do ensino particular do menino enquanto as irmãs se matriculariam no ensino público do bairro.

- Acho que foi um investimento acertado, afirma Fernanda. Meu irmão teve uma boa formação, fez curso superior e foi morar em Portugal, onde é chefe confeiteiro de um restaurante famoso. Além disso, já chamou para morar com ele meus pais e minha irmã. Só eu fiquei no Brasil.

 

Amor à Gastronomia

O sonho de Fernanda sempre foi estudar Gastronomia.

- Sempre gostei de cozinhar. Desde menininha, colhia ervas e flores no jardim de nossa casa e inventava um monte de receitas. Queria fazer a Faculdade de Gastronomia, mas meu pai era contra “Que é que você vai fazer com isso? Preparar marmitas para peões?” “Advogado é quem ganha dinheiro e você sem dinheiro no bolso não é ninguém”.

A moça acabou por seguir o conselho do pai. Com o dinheiro que conseguia (foi cobradora de lotação, balconista de loja e secretária num escritório de advocacia) conseguia pagar as mensalidades do curso particular de Direito.

 

Minhas duas madrinhas

- Logo percebi que o Direito não era a minha praia, mas, foi graças a ele que entrei na SMC como estagiária do Departamento Jurídico do Theatro Municipal. Foi lá que encontrei minhas duas protetoras e incentivadoras: Beatriz Franco do Amaral, então diretora da casa e Maria Rosa Sabatelli, chefe de cerimonial do teatro. A Bia gostou do meu trabalho e me contratou como comissionada para atuar junto ao cerimonial e sabedoria da minha vontade de fazer Gastronomia, foi categórica: “Vai em busca de seu sonho, mulher! No que a gente puder ajudar, conta conosco”.

A partir daí, Fernanda largou o Direito (já tinha feito três anos) e usava praticamente todo o seu salário para se aprofundar naquilo que gostava: primeiro o curso de Nutrição e depois a Faculdade de Gastronomia.

- Sempre procurei retribuir o incentivo que recebi me empenhando no serviço, ficando além do expediente (com Maria Rosa era comum sair sempre depois da meia-noite) e estando sempre à disposição das minhas duas madrinhas, as quais infelizmente, morreram ambas este ano.

 

É comida brasileira, com certeza

Com o Theatro Municipal transformado em Fundação, Fernanda veio para o gabinete da SMC e em seguida para o setor de Supervisão de Parcerias, onde cuida das emendas indicadas pelos deputados federais, Ministério do Turismo e Caixa Econômica Federal.

- Amo o que faço, afirma Fernanda, mas, se sair daqui, meu plano B fica do outro lado do Atlântico: sonho juntar-me ao meu irmão para montarmos um café e doceria com delícias e ingredientes tipicamente brasileiros. Por isso, uso todo o meu tempo livre para dedicar-me à cozinha e inventar novas receitas. Já estou craque na preparação de bolos de moranga, de macaxeira, tapioca, coco e milho, além de brigadeiros, beijus, bolinhos de cará, pamonha e torta de cupuaçu.

- Lisboa, me aguarde! Fernandinha está chegando!

 

Jornalista: Gilberto De Nichile

Fotógrafo: Carlos Ronchi

Produção: Ivani Yara dos Santos