22+100: SMC celebra a cultura nacional com campanha Modernista do Dia

Durante os últimos 100 dias, diferentes artistas brasileiros foram homenageados nas nossas redes sociais

Em comemoração ao Centenário da Semana de Arte Moderna 22, a Secretaria Municipal de Cultura criou o Modernista do Dia. A campanha, integrada ao 22+100, teve início em 22 de janeiro e celebra alguns dos artistas que representam o melhor da nossa cultura.

Se estendendo por 100 dias até a celebração do Centenário da Semana de 22, o material apresenta, breve e sucintamente, as novas manifestações artísticas do cenário cultural brasileiro das últimas décadas, separando 100 nomes divididos em quatro eixos: pré-modernistas, modernistas, pós-modernistas e novos modernistas.


"A proposta que se segue é trazer como manifestação do aqui chamado novo modernismo não apenas novos movimentos, mas sim os artistas específicos, entendendo que são eles os produtores e os que transcendem a arte cotidiana, é o artista unitário ou pequeno grupo que fura o cotidiano e concebe o novo", comenta Bruno Imparato, curador do projeto. “Estão todos convidados a revistar os nossos homenageados em todas as nossas redes sociais: Instagram, Facebook e Twitter”, finalizou.

Abaixo, confira as personalidades homenageadas nas nossas redes e saiba mais sobre suas biografias:

 

1. Abdias Nascimento | Com uma mão cheia de genialidade, era ator, poeta, escritor, dramaturgo e artista plástico, além de professor universitário, político ativista dos direitos civis e humanos e liderança do movimento negro brasileiro. Abdias Nascimento não fez pouco, não. Sua atuação sociopolítica teve segmentos importantíssimos para a população negra do país: fundou entidades pioneiras como o Teatro Experimental Negro (TEN), o Museu de Arte Negra (MAN) e o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO), além de idealizar o Memorial Zumbi e o Movimento Negro Unificado. Justamente por ser considerado um dos maiores expoentes da cultura negra e dos direitos humanos, tanto no Brasil quanto no mundo, foi indicado ao Nobel da Paz, em 2010. Filho de uma doceira e ama de leite e de um sapateiro e violinista, o realizador da série “Jesus Negro“ era neto de mulheres escravizadas. Exilou-se por 13 anos no exterior durante o Regime Militar e, na mesma época, viu o TEN ser dissolvido.

 

2. Alcione | Cantora, compositora e multi-instrumentista, a Marrom, como foi apelidada carinhosamente pelos fãs, é uma das sambistas mais renomadas do país. Não à toa, também é chamada de Rainha do Samba. Se viu no mundo da música desde muito nova: aos 12 anos, realizou sua primeira apresentação. A partir daí, começou a sua trajetória e encantou milhões de brasileiros com uma voz inconfundível, que lhe rendeu 8 milhões de cópias de discos em todo o mundo. Fundou a escola de samba mirim da Mangueira, o Centro de Arte da Mangueira - Mangueirarte e o Centro de Apoio. Junto a outros sambistas renomados, como Clara Nunes, Martinho da Vila e Dona Ivone Lara, também criou o Clube do Samba, na década de 80. Com mais de 45 anos de carreira, já levou a riqueza da música nacional para mais de 30 países e realizou o próprio pedido: não deixou o samba morrer.

 

3. Ailton Krenak | Considerado uma das maiores lideranças do movimento indígena nacional, Krenak também é ambientalista, filósofo, poeta e escritor. Da etnia Krenak, aborda em seus trabalhos a relação dos povos indígenas com o meio ambiente e sua cultura, de forma a combater a discriminação e racismo da sociedade. Defensor inabalável dos direitos indígenas, fundou o Núcleo de Cultura Indígena, em 1985, e, em 1987, e fez um dos discursos mais marcantes da Assembleia Nacional Constituinte, quando pintou o rosto com tinta preta de jenipapo, um costume da cultura, para protestar o que considerava um retrocesso na luta pelos direitos indígenas. Ainda hoje continua a lutar pelos direitos, diversidade e representatividade, estando envolvido na ONG Núcleo de Cultura Indígena. Para quem ficou curioso e quer conhecer um pouco mais do trabalho de Ailton Krenak, indicamos seu livro "Ideias para adiar o fim do mundo", uma das obras mais debatidas dos últimos anos no Brasil.

 

4. Anita Malfatti | Considerada pioneira da arte moderna no país, Anita foi pintora, desenhista, gravadora, ilustradora e professora. Nasceu com uma deficiência congênita no braço esquerdo, o que a levou a passar por uma cirurgia ainda aos três anos de idade, em Lucca, Itália. Mesmo nunca tendo se recuperado da atrofia, se tornou uma das artistas mais completas e importantes para a cultura nacional. Desenvolveu o interesse pela pintura por causa da mãe, e sonhava em aprender mais sobre a arte em Paris. Acabou indo para Berlim, na Alemanha, em 1910, época marcante para a Arte Moderna alemã, e passou a aprender mais técnicas por lá. Volta ao Brasil em 1917, preocupada com a instabilidade sociopolítica do país causada pela iminente Guerra. Nesta fase, sofreu duras críticas pela sociedade conservadora de São Paulo, que se chocou com suas pinturas e traços. Dois anos depois, em 1919, conhece Tarsila do Amaral por meio do pintor alemão George Fischer Elpons. Assim, passa a se aproximar dela, bem como de Del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade, que vieram a formar o Grupo dos Cinco. Teve imenso papel na Semana de Arte Moderna, expondo 22 de seus trabalhos.

 

5. Anitta | Ela levou o funk das comunidades do Rio de Janeiro para o mundo todo. Ajudou a introduzir os ritmos brasileiros nas paradas globais, e contribuiu para popularizar no Brasil os ritmos urbanos da América Latina. Nascida no subúrbio carioca, Larissa de Macedo Machado já mandava avisar que poderia conquistar tudo o que quisesse, na música “Meiga e Abusada” (2012). Como o desejo de uma diva é sempre uma ordem, os hits só se acumulam desde então. Sucesso instantâneo, “Show das Poderosas” consolidou o caminho para que o primeiro álbum, “Anitta”, estourasse no cenário nacional. Vieram então “Ritmo Perfeito” (2014) e “Bang” (2015). Seguindo a proposta do EP Solo (2018), a Poderosa lançou o quarto álbum trilíngue “Kisses”, indicando que o mundo já estava preparado para conhecer a estrela ascendente da música internacional. A gigante Madonna, J.Bavin, Maluma, Cardi B e Rauw Alejandro estão na lista de parcerias bem-sucedidas dessa nova fase. Direto do bairro de Honório Gurgel para o pioneiro número 1 do Spotify Global e Billboard Global 200 (exceto Estados Unidos) com “Envolver”, nossa girl from Rio está prestes a lançar mais um álbum trilíngue, com influências do funk, pagode e bossa nova, o “Versions of Me”.

 

6. Beth Carvalho | Uma das maiores intérpretes do samba, recebeu o apelido de Madrinha do Samba por ter ajudado a revelar outros grandes nomes do gênero, como Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho. Sua carreira se iniciou na bossa nova, tendo participado no movimento Musicanossa, criado por Armando Schiavo e Hugo Bellard e, desde então, trouxe ao samba um novo som, introduzindo em seus shows e obras instrumentos como o banjo, tantã e repique de mão, até então exclusivos nos pagodes do Cacique. Mas sua influência se estendeu para além da música. Sua família era extremamente engajada politicamente, o que transpassou para sua personalidade, fazendo com que sempre se envolvesse em movimentos sociais, políticos e culturais. Conquistou, ao lado de outros colegas artistas, a numeração dos discos, até então algo inédito no mundo. Para quem ficou com um gostinho de quero mais, indicamos Coisinha do Pai, de 1997, que chegou a ser tocada no ESPAÇO - quando a engenheira brasileira da NASA Jacqueline Lyra programou o despertar de um robô em Marte, foi o sucesso de Beth o escolhido para tal.

 

7. Bispo do Rosário | Uma figura complexa, Arthur Bispo do Rosário Paes foi um artista plástico que movimentou a discussão do preconceito com a saúde mental e dos limites entre insanidade e arte. Foi diagnosticado como esquizofrênico paranóico e, entre 1940 e 1960, alternou entre períodos de internação e de trabalhos em residências. É trabalhando na Clínica Pediátrica AMIU, no início da década de 1960, que ele começa a criar, produzindo obras com materiais vindos do lixo e da sucata para registrar o cotidiano das pessoas. Ao ser descoberto pela crítica, suas criações seriam consideradas vanguardistas e comparadas ao artista dadaísta Marcel Duchamp.

 

8. Caetano Veloso | O cantor baiano representa uma das maiores vozes da música brasileira, com uma carreira que ultrapassa cinco décadas. Se tornou, ao longo dos anos, um dos músicos mais reconhecidos da cultura nacional, com influência para além da música. Foi um dos principais nomes da Tropicália, movimento artístico do pós-Modernismo, que tinha o objetivo de difundir uma cultura de ruptura. Criticou severamente o Regime Militar, governo vigente da época, o que resultou em sua prisão e exílio político em Londres, em 1969, 14 dias após o AI-5. Por lá, lançou o disco Caetano Veloso (1971), caracterizado pela temática melancólica e por letras em inglês e português, voltadas àqueles que permaneceram no Brasil. Com uma mão cheia de releitura e renovação, sua trajetória, reconhecida internacionalmente, possui grande valor intelectual e poético, tornando-o um dos melhores compositores do século XX. Em 2004, foi reconhecido pela Ordem de Mérito Cultural (OMC) por suas contribuições para a cultura.

 

9. Candido Portinari | Considerado um dos maiores de todos os tempos e o brasileiro a ganhar maior projeção internacional no cenário da pintura, Portinari pintou mais de 5 mil obras, que vão desde esboços e telas de proporções padrão, até murais enormes, como os painéis ‘‘Guerra e Paz’’. Sempre apresentou uma vocação artística: aos 14 anos, foi recrutado, para trabalhar como ajudante, por um grupo de pintores e escultores italianos que trabalhavam na região em que nasceu, Brodowski, São Paulo. Aos 16 anos, vai para o Rio de Janeiro para estudar na Escola Nacional de Belas Artes, onde começou a chamar a atenção tanto dos professores quanto da imprensa. Foi lá que aflorou seu interesse pelo Modernismo, considerado, até então, marginal. Sonhava em ganhar uma medalha de ouro do Salão da ENBA e concorreu nos anos de 1926 e 1927, mas não ganhou. Anos depois, afirmou que os juízes do concurso se escandalizaram com os traços modernistas de suas telas. Em 1928, criou uma pintura que seguia os elementos acadêmicos tradicionais e venceu. Passou dois anos em Paris e, mesmo longe do Brasil, a saudade do país o aproximou ainda mais de suas raízes nacionais e despertou um profundo interesse social. Em 1954, começou a apresentar sintomas de intoxicação pelas tintas que usava. Desobedeceu às ordens médicas e continuou a pintar. Pintou até o final.

 

10. Carlos Drummond de Andrade | Um clássico, o escritor é considerado um dos poetas mais influentes do século XX e reconhecido como um dos principais nomes da Segunda Geração do Modernismo, mesmo que suas obras não sejam delimitadas a um movimento artístico específico. Com temas vastos e versos livres, suas criações abordam desde questões existenciais a temas cotidianos e políticos. Ele não tinha medo de se posicionar, não. Os governos ditatoriais e o neocapitalismo refletiram no eu lírico de suas criações. E adivinha só: o melhor poema brasileiro, segundo o jornal Folha de S. Paulo, é dele, A Máquina do Mundo. Ao trazer para os versos suas dúvidas quanto à compreensão humana, Carlos Drummond de Andrade produz uma de suas obras primas.

 

11. Carolina Maria de Jesus | Uma das primeiras escritoras negras do Brasil, viveu grande parte de sua vida na favela do Canindé, Zona Norte de São Paulo. Consagrada como uma das autoras mais importantes do país com o livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, de 1960, que ganhou reconhecimento mundial e foi traduzido para 14 idiomas. A voz da moradora do Canindé tem ecoado, sobretudo, através das pesquisas realizadas por Conceição Evaristo, umas das grandes estudiosas da literatura de Carolina Maria de Jesus.

 

12. Cazuza | Carioca, recebeu o apelido antes mesmo de nascer. Sua mãe, Lucinha, contou em entrevista que toda sua família só tinha filhas mulheres. Então, quando engravidou, tinha certeza de que seria uma menina. Mas seu marido dizia que não, viria um cazuza, sinônimo de moleque no Nordeste. Compositor, cantor, poeta e letrista, Cazuza se consagrou como um dos maiores nomes da música e do rock nacional. Começou sua carreira na banda Barão Vermelho e, nesta fase, chegou a ser apontado por Caetano Veloso como o maior poeta da geração. Em 1985, a banda se apresentou no quinto dia da primeira edição do Rock in Rio, coincidindo com a eleição de Tancredo Neves e o fim do Regime Militar. Para celebrar, Cazuza cantou Pro Dia Nascer Feliz, mais uma vez mostrando sua indignação com a situação social do país. Deixou o Barão Vermelho para seguir com sua carreira solo, na mesma época em que começou a apresentar os sintomas da AIDS, que se agravaria alguns anos depois. Morreu jovem, aos 32 anos, mas deixou um legado imenso para a música nacional.

 

13. Chacrinha | Chacrinha foi gigante. Autor da célebre frase "na televisão, nada se cria, tudo se copia", foi o responsável por apresentar ao país grandes artistas, como Roberto Carlos, Clara Nunes e Raul Seixas, ao dar espaço a eles em seu programa de televisão. Grande entusiasta do carnaval, lançava anualmente, em seu programa, uma marchinha, exaltando a cultura nacional em uma época que o governo vigente, o Regime Militar, fazia de tudo para censurar. Também chamado de Velho Guerreiro, após homenagem feita por Gilberto Gil na música Aquele Abraço em 1970, lançou personalidades que a sociedade conservadora insistia em negar, como as grandes Elke Maravilha e Rogéria.

 

14. Chico Buarque | Um dos maiores nomes da música popular brasileira, Chico Buarque é um marco na cultura nacional. Além de músico, desenvolveu uma carreira no ramo da literatura, tendo ganhado três Prêmios Jabuti e, em 2019, distinguido pelo Prémio Camões, o maior troféu literário da língua portuguesa. Sempre se mostrou socialmente engajado e, durante o Regime Militar, tornou-se um dos artistas mais críticos e politicamente ativos na luta pela redemocratização do Brasil. Teve que se auto exilar na Itália, em 1969, durante os anos de chumbo, ameaçado pelo governo vigente. Nessa época, a censura o fez um de seus principais alvos, proibindo obras como "Apesar de Você" e "Cálice", ambas manifestações contra a repressão. Chegou a adotar um pseudônimo para continuar produzindo sua arte e driblar a censura, produzindo três músicas sob o nome de Julinho de Adelaide - Milagre Brasileiro, Acorda Amor e Jorge Maravilha. Voltou ao país em 1970 e se consagrou como um dos principais nomes da resistência. Em 1971, lança Construção, tido como um de seus melhores trabalhos.

 

15. Clara Nunes | Dona de uma simpatia e sorriso contagiantes, foi cantora e compositora brasileira, considerada uma das maiores e melhores intérpretes do país. Mineira, se tornou a primeira cantora do Brasil a vender mais de cem mil discos. Trabalhou, principalmente, com a MPB, o Samba, o Forró e o Ijexá, ritmo oriundo da Nigéria (África) e levado para a Bahia durante o período da escravidão. Se ligou à Umbanda e trouxe, para suas canções e vestes, a cultura afro-brasileira, propagando conhecimento das músicas, danças e tradições africanas.

 

16. Clarice Lispector | Clarice Lispector (1920-1977), nascida Chaya Pinkhasivna Lispector, foi uma escritora e jornalista nascida na Ucrânia, mas radicada no Brasil. Mais do que escolher uma nova pátria, Clarice se dizia nordestina, de Pernambuco. Filha de família russo judaica, muda-se para o Brasil aos dois anos de idade com seus pais para fugir do antissemitismo resultante da Guerra Civil Russa. Clarice é considerada uma das maiores autoras brasileiras, conhecida por sua prosa psicológica, que acompanha os movimentos internos de seus personagens. Suas obras são consideradas uma das coleções mais importantes da terceira geração do Modernismo.

 

17. Criolo | Nascido e criado no Grajaú, Zona Sul de São Paulo, Criolo é uma das maiores vozes da música nacional. Começou a escrever rap e participar de disputas já aos 11 anos, influenciado por outros grupos como Racionais MC's, Facção Central e RZO. Em 2006, lançou Ainda Há Tempo, seu primeiro álbum de estúdio, ainda sob o nome de Criolo Doido. No mesmo ano, fundou a Rinha dos MC's, que abriga batalhas de freestyle, shows e exposições de grafitti e fotografia. Em suas letras, retrata o cotidiano da sua comunidade, como bem representado em Grajauex. Não se limita a trazer apenas o rap para sua arte: Convoque Seu Buda, por exemplo, traz o samba, reggae e afrobeat. Ou então um de seus maiores sucessos, Não Existe Amor em SP, que traz o soul. Com uma obra extremamente necessária, Criolo escancara desigualdade social e a realidade de tantos, trazendo para o palco diversas vivências negadas pela sociedade. Sua música pode, mesmo, nos trazer amor.

 

18. Daiara Tukano | Conheça a artista, ativista, educadora e comunicadora, Daiara Tukano. Daiara Hori Figueroa Sampaio, ou Duhigô, do povo indígena Tukano, do Alto Rio Negro na Amazônia, nasceu em São Paulo. Conhecida como Daiara Tukano, formou-se em Artes Visuais e Mestre em Direitos Humanos pela Universidade de Brasília (UnB). Pesquisa o direito à memória e à verdade dos povos indígenas, tendo sido voz fundamental também quando foi coordenadora da Rádio Yandê, primeira web-rádio indígena do Brasil. Daiara se tornou a artista indígena a ter o maior mural de arte urbana no mundo, também pioneira ao pintar uma empena. O mural “Selva Mãe do Rio Menino”, que integrou o Festival Cura, possui mais de 1.000 m²! Essa linda obra você pode conferir no histórico Edifício Levy, em Belo Horizonte. Em 2020, ela participou da exposição coletiva exclusiva de arte indígena ”Véxoa: Nós sabemos”, na Pinacoteca de São Paulo, junto a outros 22 artistas. Foi a primeira na história centenária do tradicional museu, sabia? Em 2021, Daiara ganhou o Prêmio PIPA Online, referência em Artes Visuais. Sobre essa trajetória fantástica e inspiradora, Daiara nos ensina: "Honrar a verdade e a memória de nosso povo é seguir nossa luta e celebrar nossa identidade".

 

19. Denilson Baniwa | Multiartista, Denilson é curador, designer e ilustrador, além de ser comunicador e ativista dos direitos indígenas. Nascido na Aldeia Darí e parte do conjunto de povos Baniwa, é um dos artistas mais importantes da atualidade. Com forte atuação no Movimento Indígena Brasileiro, rompe barreiras e abre caminhos para o protagonismo de outras personalidades indígenas. Foi com base nas referências culturais de seu povo, rituais e tradições, que construiu sua identidade artística. É criador de uma arte de resistência, que apropria linguagens e símbolos ocidentais para lutar contra os impactos da colonização e a estereotipação da cultura indígena. Retrata sua vivência e realidade em suas criações, que vão desde canvas, pinturas, instalações e pinturas em murais, até meios tecnológicos, como video mappings, vídeo arte e projeções a laser. Para quem ficou curioso, recomendamos começar pelo quadro “Reantropofagia”, que Baniwa fez repensando e ressignificando a herança Modernista e o livro “Macunaíma”, de Mário de Andrade.

 

20. Di Cavalcanti | Por meio de cores vibrantes e formas sinuosas, Di Cavalcanti se destacou como um dos pintores mais importantes do Brasil, por sua constante busca em criar uma arte e identidade nacional. Participou ativamente da organização da Semana de 22 e criou peças promocionais do evento. O cartaz oficial da Semana de 22 é dele! Em suas obras, exaltava o Brasil ao retratar temas característicos, como o carnaval, o tropicalismo, a classe operária e as favelas. Assim, levou a nossa cultura para diversos países, como Uruguai, Argentina, França e México. Mas não para por aí, não. Também se mostrava preocupado com as questões sociais que cercavam o país - um exemplo é a publicação do álbum "A Realidade Brasileira", em 1933, que satirizava o militarismo da época.

 

21. Dona Ivone Lara | Premiada com a Ordem do Mérito Cultural, em 2016, a Grande Dama do Samba foi a primeira mulher a assinar um samba-enredo e fazer parte da ala de compositores de uma escola, a Império Serrano, sendo homenageada por esta com o enredo Dona Ivone Lara: O enredo do meu samba, em 2012. Até o final da década de 1960, sua carreira artística era devota à comunidade carnavalesca. Isso, contudo, muda com suas apresentações nas rodas de samba em um teatro de Copacabana, Rio de Janeiro, frequentadas por intelectuais e artistas. Na década seguinte, com discos já gravados, é consolidada pela crítica como uma das maiores compositoras de samba do Brasil.

 

22. Dona Onete | Ionete da Silveira Gama é de Cachoeira do Arari, no interior do Pará. Passou a infância em Belém, e depois em Igarapé-Miri. Dona Onete, nome artístico da cantora, compositora e poetisa, possui uma trajetória de muito sucesso que se iniciou de forma tardia. Lecionou História por 25 anos, foi secretária de Cultura e fundou grupos de dança e música regional, como o Canarana. O sonho de viver de música começou a se tornar realidade só quando se aposentou, aos 62 anos, vindo a participar de grupos folclóricos como o Raízes do Cafezal e o Coletivo Rádio Cipó. Lançou o primeiro álbum, “Feitiço caboclo”, em 2012. O reconhecimento pelo carimbó chamegado, que ela própria criou, alcança outros países e reflete o auge de uma carreira que, apesar de ter iniciado tarde, tem todo o frescor e a vivacidade da cultura nortista. O segundo trabalho, “Banzeiro”, de 2016, traz como destaques “Tipiti”, “No meio do pitiú” e “Lua Jaci”. Em 2018, veio “Flor da lua”, ao vivo. Com visibilidade crescente dentro e fora do país e mais de 300 composições de sua autoria, Dona Onete também fez turnês internacionais, em que se apresentou nos Estados Unidos e na Europa. Participou de festivais, foi capa da revista e entrou para a World Music Charts Europe Top 20, em 2017, com a música “Banzeiro”. Também já foi indicada ao Prêmio da Música Brasileira e teve o álbum “Rebujo”, de 2019, eleito um dos 25 melhores discos brasileiros do ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Vida longa à Dona Onete!

 

23. Elifas Andreato | O paranaense Elifas Andreato é um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira, apesar de não ser músico. E você já deve ter visto e admirado vários de seus trabalhos, antes de colocar um LP para rodar. Elifas é artista gráfico que se tornou referência por produzir e ilustrar mais de 360 icônicas capas de discos, entre obras de Chico Buarque, Clementina de Jesus, Elis Regina, Paulinho da Viola, Adoniran Barbosa, Toquinho, Vinicius de Moraes, Paulinho da Viola e Gilberto Gil. Certa vez, para uma capa que celebrava os 70 anos do grande Adoniran, ainda na década de 80, Elifas o desenhou como o entendia: algo entre a verve de sambista e o amargor das vidas urbanas retratadas em canções como “Trem das onze” e “Saudosa maloca”. Desenhou um palhaço triste, que a gravadora que havia encomendado o trabalho rejeitou à época. Adotou um tom mais sóbrio que acabou virando a capa oficial. Tempos depois, ouviu do próprio Adoniran que o retrato dispensado era o que melhor o definia.

Essa sensibilidade ao mostrar personalidades tão diferentes quanto as que vemos em suas obras vinha acompanhada de profundo sentido social e olhar contestador que sempre lhe inspiraram também na concepção de cartazes de teatro, como em “Calabar”, de Chico Buarque e Ruy Guerra, e “A morte do caixeiro viajante”, de Flávio Rangel, além de gravuras e capas de livros, a exemplo da “Legião estrangeira”, de Clarice Lispector. Elifas partiu em março deste ano, vítima de complicações decorrentes de um infarto. De família voltada às Artes, era irmão do ator e diretor teatral, Elias Andreato, e da produtora artística, Sulla Andreato. E o retrato de Elifas quem ilustrou melhor foi Elias: “Meu irmão mais velho, desde pequenino, rabiscava seus sonhos e ia mudando o nosso destino. Tudo o que ele tocava com as suas mãos, virava coisa colorida, até a dor que ele sentia era motivo de tinta que sorria.”

 

24. Elis Regina | Não à toa, nossa Modernista do Dia ganhou, certa vez, o apelido de “Pimentinha” de Vinicius de Moraes. Genial e geniosa, foi brilhante intérprete que conferiu personalidade única a algumas das canções da MPB que permanecem no imaginário popular muito depois de sua passagem. Hoje falamos da inigualável Elis Regina. Foi do poetinha Vinicius e de Edu Lobo, aliás, a composição da música “Arrastão”, que lançou a gaúcha Elis do Festival da TV Excelsior, em 1965, à parceira com Jair Rodrigues, então estrela ascendente do samba, na condução do sucesso televisivo “O Fino da Bossa”, da TV Record. Carismática e versátil, mostrava grande afinidade com o trabalho de seus compositores, como João Bosco, Ivan Lins, Belchior, Gilberto Gil e Milton Nascimento. Das parcerias surgiram “Madalena”, “Romaria”, “Como Nossos Pais”, entre tantos sucessos. Na década de 70, obteve sucessos estrondosos com os álbuns “Falso Brilhante” e “Transversal do Tempo”. Fez dueto memorável com Tom Jobim, com quem gravou o álbum “Elis & Tom”, em 1974. Eternizaram canções como “Águas de Março”, “Inútil Paisagem” e “Triste”. A entrega visceral vista nos palcos também permeava sua vida, amores e dores. Engajada, defendia os direitos trabalhistas dos músicos brasileiros. Foi casada com o produtor musical, compositor e jornalista Ronaldo Bôscoli, entre 1967 e 1972, com quem teve João Marcello Bôscoli. Com o pianista Cesar Camargo Mariano, casada em 1973, gerou Pedro Carmargo Mariano e Maria Rita. Elis é daquelas estrelas cuja vida foi tão brilhante quanto fugaz. Morreu de forma precoce aos 36 anos, vítima de uma parada cardíaca causada por overdose. O imenso e icônico legado permanece inabalável na constelação dos maiores artistas brasileiros.

 

25. Elza Soares | A intérprete carioca, que recentemente nos deixou aos 91 anos, foi uma das grandes vozes da música brasileira nos últimos anos. Reconhecida como Melhor Cantora do Milênio em 2000 pela BBC de Londres, Elza deixou a sua marca, tornando-se símbolo da luta contra o racismo e promovendo uma obra rica e diversa, flertando até com o rap e a eletrônica, bem ao espírito dos modernistas. Ela, talvez, não aceitaria o rótulo de uma nova modernista, como não aceitava nenhum. “Sempre quis fazer coisa diferente, não suporto rótulo, não sou refrigerante”, ela afirmou em 2020.

 

26. Emicida | Um dos maiores nomes do Hip Hop do Brasil, começou a compor na mesma época em que entrou nos desafios de batalha de rimas. Ganhou diversas vezes a batalha de MC da Santa Cruz e a Rinha dos MC, o que o fez ser um dos MCs mais respeitados. Traz uma arte cheia de reflexão, consciência social e muito politizada, que dialoga entre diferentes gêneros musicais e propostas estéticas. Mas ele não se destaca só na música, viu? Se formou em desenho pela Escola Arte São Paulo e já atuou como ilustrador e roteirista de HQs. Não só isso, também marca presença na literatura, tendo lançado dois livros infantis: Amoras e E foi assim que eu e a Escuridão ficamos amigas. Faz uso de sua visibilidade para tratar de temas sociais de grande importância, como racismo, educação e desigualdade social. Traz para o holofote a presença de corpos negros e exalta suas raízes, tradições e culturas, resgatando importantes nomes para a cultura nacional que foram silenciados pelo racismo. Para que amanhã não seja só um ontem, com um novo nome.

 

27. Esmeralda Ribeiro | Nascida em São Paulo, em 1958, ela faz parte da Geração Quilombhoje, fundado em 1982, e que atua no movimento negro em busca de construir uma literatura que resgate memórias e tradições africanas e afrobrasileiras. Mas não para por aí, não. Esmeralda sempre se atentou ao papel da educação no combate ao racismo, defendendo a inclusão dos estudos sobre cultura e história afro-brasileiras no ensino escolar, para combater estereótipos racistas e o embranquecimento da população.

 

28. Fernanda Montenegro | Atriz e escritora, foi a primeira atriz latino-americana e a única brasileira indicada ao Oscar de Melhor Atriz, por seu trabalho em Central do Brasil. Não só isso, também foi a primeira brasileira a ganhar um Emmy Internacional de Melhor Atriz, graças à sua atuação em Doce de Mãe e, em 2021, a primeira mulher eleita para a cadeira nº 17 da Academia Brasileira de Letras. Seria impossível descrever toda a influência que Fernanda tem na nossa cultura - não é à toa que, neste ano, foi eleita pela terceira vez consecutiva a mulher mais admirada do Brasil, em pesquisa feita pelo Instituto Qualibest. É um verdadeiro tesouro nacional, tendo recebido diversas ordens - Ordem Nacional do Mérito (GCONM), Ordem do Rio Branco (CRB), Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul (COCS) e a Ordem do Mérito Cultural (OMC). Se mostra engajada nas causas sociopolíticas e dona de um espírito progressista, se posicionando constantemente contra opiniões preconceituosas e discursos de ódio propagados. Essa personalidade irreverente, vem, inclusive, de décadas atrás: durante o Regime Militar, sofreu diversas censuras em seus textos e peças teatrais e até mesmo ameaças de morte. São inúmeros os trabalhos de Fernanda que merecem destaque, mas deixamos aqui dois especias para muitos: O Auto da Compadecida, que deixou um legado imenso para o cinema brasileiro, e, claro, Central do Brasil.

 

29. Ferréz | Nascido Reginaldo Ferreira da Silva, Ferréz é um romancista que aborda em suas obras a “literatura marginal”. Desenvolvida na periferia, relata temas destas vivências e expõe, nas suas palavras, os dilemas ligados à marginalização dessa parcela da população. E saca só: ele é fundador da 1DaSul, grupo da região do Capão Redondo, São Paulo, que promove eventos e ações culturais ligados ao Hip Hop, de forma a incentivar novos talentos. Além de sua atuação político-cultural, Ferréz escreve letras de rap e canta em grupos locais. Usa a escrita para colocar em pauta uma realidade negada e invisibilizada, abrindo espaço para que mais façam o mesmo e conquistem espaço nos meios tradicionais da cultura, expandindo seus territórios e levando sua arte para outras bolhas.

 

30. Gaby Amarantos | Gabriela Amaral dos Santos é nascida em Belém, no Pará. Cantora, compositora, apresentadora e atriz brasileira, começou cedo a cantar no coral da Paróquia de Santa Teresinha do Menino Jesus, na cidade natal. Chamou atenção na cena paraense com a Banda Tecno Show, de tecnobrega, tendo contribuído para difundir o ritmo para além do norte do país. O primeiro hit veio com “Hoje Eu Tô Solteira”, versão da música “Single Ladies”, da Beyoncé, e o lançamento do álbum “Treme”, dos sucessos “Ex Mai Love” e “Xirley”. Com uma década de carreira, toda a exuberância vocal e o magnetismo natural da cantora se encontram no segundo e mais recente trabalho, “Purakê”, referência a um peixe elétrico pré-histórico da Amazônia. O disco conta com participações de Ney Matogrosso, Elza Soares, Dona Onete, Alcione, Liniker, entre outros grandes nomes da música brasileira. Multiartista, Gaby também participa como técnica em um programa que busca talentos mirins da música, além de ser apresentadora e atuar em uma novela que está no ar atualmente.

 

31. Gal Costa | Ela nem sempre foi conhecida pelo nome que, hoje, é ícone para a MPB: no começo de sua carreira, nos primeiros shows e no primeiro compacto, era chamada de Maria da Graça, seu nome de batismo. Seu produtor, contudo, não gostava: como em Salvador, era conhecida por Gracinha e, pelos íntimos, por Gau, preferiu pelo apelido, substituindo a última letra por L. Estreou o espetáculo "Nós, Por Exemplo'', em 1964, junto a outros grandes nomes da Música Popular Brasileira - Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Tom Zé, entre outros - e consagrou seu nome na cultura nacional. Quatro anos depois, viria a se tornar símbolo dos anseios políticos e sociais da geração tropicalista ao defender "Divino Maravilhoso". Esse papel de resistência se intensificou com o exílio político de Caetano e Gil. Virou um símbolo de liberdade, em especial quando usou seu corpo como instrumento político na capa do LP "Índia", censurado pelo Regime Militar. Se quiser saber mais sobre o papel da cantora durante a repressão, vale a pena conferir o livro "Não se assuste, pessoa! – As personas políticas de Gal Costa e Elis Regina na ditadura militar", de Renato Contente.

 

32. Gilberto Gil | Nascido em Salvador, em 1942, é um dos maiores nomes da música brasileira. Gil é conhecido por experimentar os gêneros musicais de maneira eclética, tendo influência pelo rock, funk, bossa nova e reggae. Ganhou diversos prêmios, como o Grammy Awards e o Grammy Latino. Entre 2003 e 2008, foi Ministro da Cultura.

 

33. Glauber Rocha | Foi um cineasta, ator e escritor que sempre pensou cinema. Glauber Rocha procurava criar uma nova arte que, ao mesmo tempo que pregava uma nova estética, fosse engajada e crítica à sociedade. Essa visão, contudo, o fez ser alvo de censura pelo Regime Militar. Acabou exilado, em 1971, para fugir do governo vigente. Em 2014, documentos da Comissão da Verdade mostraram que o regime descrevia Glauber como um dos líderes da esquerda e o considerava um "violento ataque ao País", pretendendo matá-lo. Em Portugal, declarava aos veículos europeus a brutalidade e repressão que atingia o Brasil. Aos curiosos, deixamos como indicação "Deus e o Diabo na Terra do Sol" e "Terra em Transe", os quais contém forte crítica social, compartilhada por outros profissionais do Cinema Novo, corrente artística liderada majoritariamente por ele.

 

34. Gloria Groove | Daniel Garcia Felicione Napoleão é nascido e criado na Vila Formosa, Zona Leste de São Paulo (daí o porquê de Lay Leste). Iniciou sua carreira em 2002 na nova versão da Turma do Balão Mágico, o grupo Galera do Balão, e seguiu para a dublagem, tendo se tornado um dos maiores nomes do mercado nacional. Expressa sua arte por meio da Gloria, tendo se tornado uma das principais drag queens do Brasil. Criou uma obra de resistência e representação e busca com que esta seja uma “plataforma de amor e auto aceitação” para o público LGBTQIA+. É um símbolo para muitos, representando corpos diversos no mercado musical e audiovisual e trazendo a representatividade para o palco. Com sua música, exalta a existência de tantos e celebra a diversidade de muitos.

 

35. Grande Otelo | É um dos atores mais importantes para a história do cinema brasileiro, tendo participado de grandes filmes de sucesso, como a adaptação cinematográfica de Macunaíma, em 1969, e as famosas Chanchadas das décadas de 1940 e 1950. Chegou até mesmo a participar do filme It 's All True, de Orson Welles, que o considerava o maior ator brasileiro. Ele era, também, cantor. Seu apelido, inclusive, remete a uma situação em que soltou a voz: certa vez, na Ópera Lírica Nacional, o maestro convidou-o a participar... O futuro Grande Otelo cantou então a ópera Tosca, e o tal maestro, impressionado, disse que, quando fosse crescido, cantaria O Othello. Mas o ator e comediante sabia separar bem seus personagens da vida real, e se mostrava preocupado com a situação sociopolítica do país. Chegou a dizer, certa vez: “O Grande Otelo é um ator, e o Sebastião Bernardes de Souza Prata é um cidadão preocupado completamente com todos os problemas do Brasil.".

 

36. Graciliano Ramos | Graciliano Ramos de Oliveira (1892-1953), o Modernista do Dia, foi um jornalista, político e escritor alagoano ligado à segunda fase do modernismo brasileiro, cujo projeto se volta a resgatar o Brasil profundo. Assim como João Guimarães Rosa e Jorge Amado, Graciliano é um autor regionalista. Seu romance, modernista e regionalista, “Vidas Secas” é visto como um clássico da literatura brasileira e reconhecido internacionalmente. “Memórias do Cárcere”, a crônica “Viagem” e o livro de contos “Histórias de Alexandre” estão na lista de suas obras póstumas com maior destaque.

 

37. Guimarães Rosa | Foi um dos maiores escritores da literatura nacional. A grande maioria de suas obras exalta o sertão brasileiro, assim como a cultura do país, por meio de regionalismos e a influência do vocabulário popular em sua escrita. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras e indicado ao Nobel de Literatura. E mais: não só poeta, novelista e escritor, Guimarães Rosa também era médico e diplomata. Foi no ano de 1938, em Hamburgo, Alemanha, que iniciou sua carreira na diplomacia. Lá, exerceu o cargo de cônsul-adjunto do Brasil e conheceu Aracy de Carvalho, que viria a ser sua esposa. Ela auxiliou centenas de judeus a fugirem para o Brasil durante o holocausto, o que lhe rendeu o apelido de Anjo de Hamburgo. Emitia mais vistos do que as cotas legalmente estipuladas e não identificava os passaportes marcados com a letra J, que distinguia os perseguidos pelo nazismo. Além de guardar o segredo da futura esposa, Guimarães Rosa assume o posto do antigo cônsul e passa a assinar a liberação dos vistos. Até hoje, não é possível quantificar quantas vidas foram salvas.

 

38. Heitor Villa-Lobos | Compositor, maestro, violoncelista, pianista e violinista, Villa-Lobos se destaca por ser o maior expoente da música Modernista nacional, tendo composto obras que trazem muito mais que o som das orquestras, agregando sempre a cultura regional, as canções populares e referências afrobrasileiras e indígenas. As 9 Bachianas Brasileiras do maestro são um ótimo exemplo, ao mesmo tempo em que trazem influências da música folclórica, também incorporam traços da tradição clássica europeia. Participou da Semana de Arte nos três dias do evento, com três diferentes espetáculos, aqui no nosso Theatro Municipal, o primeiro grande palco erudito a receber o músico.

 

39. Henfil | Apresentamos o cartunista, quadrinista, jornalista e escritor, Henfil! Henrique de Souza Filho nasceu no Rio de Janeiro, e se destacou como uma das vozes mais mordazes e atuantes na resistência contra o regime militar. Deu vida a personagens que entraram para o imaginário popular, com tirinhas de teor político que denunciavam o cotidiano sob a repressão da ditadura. Irmão do sociólogo Betinho e do músico Chico Mário, Henfil nasceu em Ribeirão das Neves, em Minas Gerais. Iniciou a carreira na revista Alterosa, em 1964, onde criou “Os Fradinhos”, personagens inesquecíveis junto à Graúna, o Bode Orelana, Zeferino, e Ubaldo, o paranoico. Colaborou com o Diário de Minas, o Jornal dos Sports, revistas Realidade, Visão, Placar e O Cruzeiro. A partir de 69, com o Jornal do Brasil e, principalmente, O Pasquim, junto a Ziraldo, Jaguar, Tárik de Souza e Sérgio Cabral. A publicação marcou o crescente envolvimento de Henfil com movimentos sociais. Ele também produziu para a televisão, cinema e teatro e literatura. Lançou a revista em quadrinhos Fradim, tendo publicado 31 edições até o ano de 1980. Ganhou os prêmios Cid Rebelo Horta, como melhor cartunista, e Vladimir Herzog, na categoria Artes, pelo conjunto da obra na revista Isto É. Assim como Betinho e Chico Mário, Henfil herdou da mãe a hemofilia, distúrbio que impede a coagulação do sangue. Por conta da condição, tiveram de passar por transfusões ao longo da vida. Henfil faleceu em 4 de janeiro de 1988, vítima de complicações decorrentes da AIDS, após contrair o vírus HIV em uma transfusão. A esperança de um país democrático, que seus traços expressavam como denúncia de tempos sombrios, segue como legado e inspiração.

 

40. Humberto Mauro | Nascido em Volta Grande, em Minas Gerais, Humberto Mauro é um dos patronos do cinema brasileiro. Mudou-se ainda na infância para a cidade de Cataguases. Usou uma 9,5 mm para filmar o primeiro filme, um curta de 5 minutos que gravou junto a Pedro Comello, amigo com quem compartilhava a paixão pelo cinema. Foram em busca de comerciantes que aceitassem investir em uma produtora de filmes na cidade. Fundaram, então, a produtora Phebo Sul América com participação do negociante Agenor Cortes de Barros, em 1925. No ano seguinte, lançaram “Na primavera da vida” e “Thesouro perdido”, premiado em 1927 como melhor filme brasileiro.
Com o reconhecimento, ampliou os trabalhos da produtora, estreando “Brasa dormida”, em 1929. “Sangue mineiro”, considerado uma obra-prima, obra de teor intimista que alcançou sucesso de crítica e público. À época, Mauro mantinha estreitas ligações com o Movimento Verde, criado em Cataguases e que se inspirou na Semana de Arte Moderna de 1922. Ainda em 1929, foi para o Rio de Janeiro, onde filmou “lábios sem beijos” pela companhia cinematográfica cinédia. Depois, vieram “Mulher”, “Ganga bruta” e o musical “Voz do Carnaval”. Passou a integrar a brasil vita filmes, onde filmou “favela dos meus amores” e “Cidade mulher”. Por quase 30 anos, atuou no Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE), onde produziu mais de 300 documentários de curta-metragem. Lançou também os longas “O descobrimento do Brasil”, “Argila” e “Canto da saudade”. Faleceu aos 86 anos, em Volta Grande.

 

41. Itamar Assumpção | Ita, como era carinhosamente chamado, foi cantor e compositor e se destacou na cena cultural alternativa dos anos 1980 e 1990. Tamanha foi a sua relevância que ele ganhou uma estátua em homenagem a ele, lá no Centro Cultural da Penha. Experimentou, principalmente, com o samba, a MPB e o reggae, inspirado na vanguarda paulista e nas tradições afro-brasileiras.

 

42. Itamar Vieira Jr. | O baiano Itamar Vieira Junior é autor do livro “Torto Arado”, consagrado romance lançado em 2019. Desde o impacto causado pela história de Belonísia e Bibiana, irmãs que vivem em condição de trabalho escravo contemporâneo em uma fazenda na Chapa Diamantina, o escritor tem recebido reconhecimento e premiações dentro e fora do País. A luta agrária, a falta de acesso à cidadania e a violência estrutural sofrida por mulheres negras em uma sociedade marcada pela desigualdade social e pelo patriarcalismo, fincam a narrativa a partir da perspectiva de protagonistas mulheres, de quem acompanhamos os conflitos internos, as transformações ao longo do tempo, os sonhos de liberdade e de um futuro melhor.

Temas que se relacionam com a formação de Itamar, geógrafo, mestre e doutor pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), sendo o primeiro aluno a receber a Bolsa Milton Santos, direcionada a jovens negros de baixa renda. A tese de doutorado na área de Estudos Étnicos e Africanos analisa a formação de comunidades quilombolas no interior do Nordeste. Publicou contos em “Dias” e “A Oração do Carrasco”, antes de “Torto Arado”, que lhe conferiu o Prêmio Leya 2018, Prêmio Jabuti 2020 e Prêmio Oceanos 2020. Lançou, em 2021, “Doramar ou a Odisséia – Histórias”, sua terceira compilação de contos.

 

43. Ivete Sangalo | Baiana de Juazeiro, Ivete Maria Dias Sangalo é cantora, compositora, multi instrumentista, apresentadora, empresária e atriz brasileira. Uma das carreiras mais bem-sucedidas do cenário musical brasileiro, Ivete já fazia imenso sucesso à frente da Banda Eva, alcançando 5 milhões de LPs vendidos, na década de 90. O talento e o carisma inconfundíveis da cantora impulsionaram uma carreira solo ainda mais bem-sucedida, a começar pelo álbum “Ivete Sangalo”, em 1999. Vieram os hits “Festa”, “Flor do Reggae”, “A Lua Que Eu Te Dei”. “Sorte Grande”, “Abalou”, dentre tantas outras canções que embalaram as playlists das rádios nos anos 2000. Veveta atingiu ainda marcas impressionantes: mais de 300 canções lançadas, 18 milhões de cópias vendidas e mais e 150 prêmios nacionais e internacionais. A voz que soube como poucos expressar, por meio da música, a alegria de um país solar, também representou o Brasil em eventos mundiais, performando na abertura da Copa América 2011, na Copa das Confederações 2013, Copa do Mundo 2014, e Jogos Paraolímpicos 2016. Na TV, Ivete teve participações em programas voltados à descoberta de novos cantores e, atualmente, comanda uma atração que já está na segunda temporada, em que personalidades fantasiadas interpretam canções de outros artistas. Com mais de 20 anos de carreira, o fenômeno Ivete Sangalo segue arrastando multidões onde quer que vá.

 

44. Iza | Isabela Cristina Correia de Lima Lima nasceu no bairro de Olaria, no Rio de Janeiro. O sobrenome se escreve assim mesmo, repetido, pelos pais da cantora serem primos de segundo grau. Formada em Publicidade e Propaganda pela PUC-RJ, também passou a publicar conteúdo no Youtube em que cantava músicas de outros artistas. A personalidade e a voz potente logo chamaram atenção de grandes gravadoras. Surgia, então, a IZA. Assinou o primeiro contrato em 2016, lançando o single “Quem Sabe Sou Eu”. O álbum de estreia entregou o hit “Pesadão”, parceria com Marcelo Falcão, de O Rappa. “Dona de Mim”, o segundo EP, trouxe mais collabs com nomes como Glória Groove e Carlinhos Brown. Na faixa título, canta o empoderamento feminino: “Sempre dou meu jeitinho/ É bruto, mas é com carinho”. Artista de muitas plataformas, IZA também participou como técnica da 8ª edição do programa The Voice Brasil. Quer samba no pé? Pois a diva conquistou o posto de rainha de bateria da tradicional escola Imperatriz Leopoldinense. O alcance da representatividade levou às 100 personalidades afrodescendentes mais influentes do mundo em 2020, na categoria mídia e cultura. A premiação incrível ocorreu após a abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU! E o merecido reconhecimento não parou por aí. Em 2021, foi eleita uma das “Líderes da Próxima Geração” pela Time, revista norte-americana. À publicação, ela disse: "Eu não falo sobre racismo por ser um assunto que gosto, falo porque é necessário. Posso dizer muito através da música. Nosso microfone é uma arma e precisa ser usado".

 

45. João Cabral de Melo Neto | Poeta e diplomata, o pernambucano é conhecido pela inovação e singularidade da sua escrita poética no Brasil. Autor do poema longo "Morte e Vida Severina'' (1955), consegue transitar com maestria entre a tendência surrealista e a poesia popular em suas obras.Sua literatura inaugurou uma nova poesia no país, marcada não só pelo rigor estético, mas também por rimas toantes e temáticas contrárias ao convencionalismo. Ganhou diversas premiações, como o Prêmio Camões, sendo, também, o único brasileiro a receber o Prêmio Neustadt, considerado o Nobel americano. É considerado por muitos escritores, como Mia Couto, o maior poeta da língua portuguesa.

 

46. Jorge Amado | Um dos autores mais famosos e traduzidos do Brasil, sua obra é uma das mais significativas da ficção moderna brasileira. Nunca teve medo de se posicionar politicamente, como pode-se observar em diversas de suas criações, como ‘’Capitães de Areia’’ e ‘’O País do Carnaval’’. Vale ressaltar, também, que o cunho social e político não era o único traço de suas obras. Amado também prezava pelo regionalismo, presente, por exemplo, em ‘’Gabriela’’ e ‘’Dona Flor e Seus Dois Maridos’’. Em 1961, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras e passou a ocupar a cadeira nº 23, cujo patrono é José de Alencar. Nesta fase, publicou ‘’Farda, Fardão, Camisola de Dormir’’, em referência ao formalismo da entidade e à senilidade de seus membros da época. Correspondeu-se com grandes intelectuais, escritores e artistas de seu tempo, como Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Pablo Picasso, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir.

 

47. Jorge Ben Jor | Filho do cantor e compositor carnavalesco, Augusto Meneses, e da etíope Silvia Saint Ben Lima, Jorge Duílio Lima Meneses ganhou do pai um pandeiro, aos 13 anos, e um violão da mãe, aos 18. Cedo, já cantava no coral da igreja e tocava pandeiro em blocos de carnaval. Compositor, cantor e músico autodidata, Jorge Ben Jor (que já foi Jorge Ben e Jorge Benjor) é um dos artistas brasileiros mais originais e reconhecidos dentro e fora do Brasil. Inicialmente tendo como referência a bossa nova, o artista já mostrava no LP de estreia, “Samba Esquema Novo”, a marca de inventividade que o tornou um dos maiores da música do mundo. Ao samba, trouxe elementos que até então não se misturavam como rock, o pop e o maracatu. Esses e outros ritmos tão diversos quanto as referências musicais que marcam a longeva e incrível carreira de 60 anos completados em 2022. Da batida inconfundível de “Mas Que Nada”, primeiro grande sucesso que ganhou diversas versões entre grandes intérpretes, dentre elas, a do pianista Sérgio Mendes com o grupo Brazil’66, passando pela excepcional fase da trilogia mística, nos anos 70, com “A Tábua de Esmeralda”, “Solta Pavão” e “África Brasil”, Ben Jor nunca parou de experimentar e influenciar as novas gerações. Trocou o inseparável violão pela guitarra elétrica, numa pegada mais pop, dançante e, claro, cheia de groove. É dessa fase a icônica “W/Brasil”, uma homenagem ao “síndico” mais famoso do Brasil, ele mesmo: Tim Maia. Vida longa ao grande Jorge Ben Jor!

 

48. Kaê Guajajara | Kaê é do Maranhão, mas cresceu no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Veio de uma aldeia não demarcada, na qual os conflitos com madeireiros eram constantes. Lá, fundou o Crônicos, grupo de rap que denunciava a brutalidade e a violência sofridas pela comunidade. Fundadora do Coletivo Azuruhu, Kaê faz uso do hip hop, de instrumentos tradicionais e de elementos da sua língua materna, Ze'egete, para criar música, na qual expõe a realidade dos povos indígenas urbanizados, debatendo o preconceito, o racismo e o apagamento das diversas identidades indígenas. Se ficou interessado em sua obra, indicamos “Mãos Vermelhas”, mas temos certeza de que irão se apaixonar por muitas outras.

 

49. Lasar Segall | Lasar Segall pode ter nascido no atual território da Lituânia, mas, como ele mesmo disse, foi no Brasil que sua arte ganhou o "milagre da luz e da cor". Um dos primeiros artistas modernistas a expor no Brasil, veio ao país em 1912 e realizou suas primeiras exposições em São Paulo e Campinas, introduzindo-nos à arte expressionista europeia. Um dos criadores da Sociedade Pró-Arte Moderna na capital paulista, teve influências do Impressionismo, Expressionismo e, claro, do Modernismo, em que procura retratar temas ligados ao sofrimento humano, como a guerra e a perseguição. Em 1957, quando o Museu de Arte Moderna prepara uma retrospectiva de sua obra, Segall morre por problemas cardíacos.

 

50. Leci Brandão | Nascida no Rio de Janeiro, a pioneira sambista foi a primeira mulher a participar da ala de compositores da tradicional Estação Primeira de Mangueira, na década de 70. Ao longo da carreira no cenário musical, produziu 26 obras, dentre LPs, CDs, DVDs e compactos. Passou a comentar os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro entre 1984 e 1993. Depois de uma pausa, retornou nos anos 2000 às transmissões do carnaval carioca e, depois, aos desfiles em São Paulo. Ainda, foi intérprete do samba-enredo da Acadêmicos de Santa Cruz em 1995, tornouse também madrinha da Acadêmicos do Tatuapé, escola que a homenageou com um samba-enredo em 2012, e do paulistano Bloco Afro Ilú Oba de Min. Mais de 40 anos de carreira acompanham essa que é uma das maiores artistas do samba, tendo ganhado, por “Simples Assim – Leci Brandão”, na “Melhor Cantora de Samba” da 29ª edição do Prêmio da Música Brasileira.

 

51. Lélia Gonzalez | Seria impossível descrever aqui toda a influência que Lélia Gonzalez teve para os movimentos sociais no Brasil: ela deixou um legado imenso. Com um trabalho abrangente em diversas áreas, sua atuação sociopolítica foi essencial para a construção filosófica, teórica e prática dos movimentos antirracistas e feministas no Brasil, bem como à luta de classes. Se tornou indispensável na discussão do papel da mulher negra na sociedade e do movimento negro, com um trabalho objetivo, acessível, de fácil entendimento e baseado em argumentações consistentes. Foi pioneira nos estudos sobre Cultura Negra no Brasil e co-fundadora do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras do Rio de Janeiro (IPCN-RJ), do Movimento Negro Unificado (MNU), do Olodum e do Coletivo de mulheres Negras N’Zinga. Angela Davis, outro nome no feminismo negro, já disse em visita ao Brasil: “Acho que aprendi mais com Lélia Gonzalez do que vocês aprenderão comigo”. Neste Dia Internacional da Mulher, indicamos uma de suas obras, “Por um Feminismo afro-latino-americano”, para entendermos mais sobre a construção social e o papel das mulheres no Brasil.

 

52. Liniker | Cantora, compositora, atriz e artista visual, encanta com uma voz potente, que consegue transitar entre o grave e o agudo, e com uma obra influenciada pelo jazz, soul e samba. Mulher negra e trans, aborda, em sua arte, desde temas cotidianos, como amor e sexualidade nas letras de músicas, até causas sociais, como a negritude nas referências musicais, e questões de orientação sexual e identidade de gênero. Chegou, inclusive, a morar com Linn da Quebrada. Elas dividiram quarto na Escola Livre de Teatro de Santo André! Faz parte de um grupo ainda seleto do mercado musical, mas traz a representatividade de corpos diversos para os holofotes e coloca em pauta causas sociais invisibilizadas pelo preconceito, LGBTQIA+fobia e racismo.

 

53. Linn da Quebrada | Nascida em São Paulo, em 1990, Lina Pereira dos Santos é uma das personalidades mais influentes na música brasileira atual. Atriz, cantora, compositora e ativista social, iniciou sua carreira como performer e, em 2016, lançou seu primeiro hit autoral, "Enviadescer". Dona de uma personalidade irreverente, essa nova modernista aborda temas sociopolíticos e considerados tabus para mostrar o efeito da música não só na própria trajetória, mas também na dos outros e no mercado da música. Colaborou para a fundação da ONG ATRAVESSA (Associação de Travestis de Santo André) e se considera "bicha, trans, preta e periférica. Nem ator, nem atriz, atroz. Performer e terrorista de gênero".

 

54. Ludmilla | Cantora, compositora e atriz, Ludmilla Oliveira da Silva nasceu em Duque de Caixas, no Rio de Janeiro. Começou cedo a cantar nos encontros de família, passando a publicar alguns vídeos das músicas que compunha no Youtube. Em 2012, seu funk “Fala Mal de Mim” estourou nas redes, numa época em que se apresentava como MC Beyoncé. O primeiro single, “Sem Querer”, foi lançado como a MC Ludmilla. No mesmo ano, já assinando apenas com seu nome, Ludmilla estreou o álbum “Hoje”, sucesso que contou com a participação dos cantores Belo e Buchecha. Vieram também parcerias com artistas nacionais e internacionais, toda a versatilidade de ritmos. A lista inclui Zé Felipe, Simone & Simaria, Thiaguinho, Biel, Gusttavo Lima e Filipe Ret, além dos rappers Snoop Dogg e Ty Dolla $ign. O talento era reconhecido e se consolidava no grande cenário musical com mais sucessos vindos das faixas “Cheguei”, “Bom”, “Sou Eu”, do segundo álbum, “A Danada Sou Eu”. “Numanice”, aguardado EP de pagode, trouxe seis faixas, das quais quatro foram compostas pela cantora. O ano de 2021 traria mais uma grande marca para o fenômeno Ludmilla, só que dessa vez no Spotify: ela foi a primeira cantora negra da América Latina a alcançar 1 bilhão de execuções na plataforma de músicas! Em 2022, a autora de muitos dos maiores hits dos últimos tempos tem não apenas sucessos a comemorar, mas também uma carreira intensa que completa 10 anos. E como Trabalho é o outro nome da diva, Lud nos brinda com o EP “Back to Be”, voltando às origens no funk.

 

55. Luna Bastos | O trabalho incrível dessa artista traz toda a potência da identidade negra para os espaços urbanos, para a pele e a tela em branco. Como diz a Luna: “A arte está presente em tudo”. Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI), imprime nos trabalhos o conhecimento adquirido na formação. A simetria é uma das marcas de seus traços. O alcance da representatividade, para além da altura dos lindos murais da Luna, já a levou a intervenções como a obra “Afrolatina”, pintura de empena na Rua Fortaleza, em frente a escadaria do Bixiga. O trabalho integra o Museu de Arte de Rua (MAR), projeto da Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura. Em homenagem ao Dia das Mulheres deste ano, algumas de suas pinturas também foram projetadas no Museu Nacional da República, em Brasília. Maravilhosa, né? E você encontra muitas das obras da Luna no instagram dela, o @lunabastos_.

 

56. Lygia Fagundes Telles | Conhecida como A Dama da Literatura Brasileira, Lygia teve uma grande representação no pós-Modernismo no país. É considerada, por muitos acadêmicos, críticos e leitores, uma das maiores escritoras brasileiras vivas, tendo, em seu acervo, obras que retratam temas clássicos e universais como a morte, o amor, o medo, a loucura e a fantasia. Advogada, romancista e contista, já ganhou todos os prêmios literários importantes do Brasil. E adivinha só: em 2016, aos 92 anos, se tornou a primeira mulher brasileira a ser indicada ao Nobel de Literatura.

 

57. Maiwsi Ayana | Artista visual, dançarina e figurinista, nossa Modernista da nova geração é paulistana da zona leste e nos enche de orgulho, pois já trabalhou aqui! Apesar de ter começado mais centrada no design de moda, curso no qual se graduou pelo Centro Universitário SENACSP, foi jovem monitora cultural da SMC, onde ajudou muito a gente! Em 2017, passou a fazer parte da Batekoo, coletivo que é importante manifesto do movimento negro e LGBTQIA+ em São Paulo e no Brasil como um todo, sempre lutando pela diversidade e buscando empoderar as minorias por meio da música e da dança. Hoje, Maiwsi tá arrazani e, além de dançar em vários videoclipes, dança nas companhias bafônicas Afro Oyá, Turmalinas Negras e a Kiki House of Black Velvet. Em 2020, criou o Afro 150BPM, projeto que oferece oficinas que juntam os movimentos de ritmos afro-diaspóricos, construindo uma narrativa que começa com as danças afro brasileiras e vai até funk carioca e paulista, descolonizando corpos e ensinando técnicas de todas essas danças. Gostou dela, né? Nós também gostamos e, por isso, vamos deixar uma dica… Além das oficinas e da dança, a Maiwsi tem uma marca incrível chamada #byMAIA, vale a pena checar os lookinhos!

 

58. Mano Brown | Mano Brown iniciou sua carreira no Racionais MC's, grupo de rap aqui de São Paulo, formado em 1988 por Ice Blue, Edi Rock e KL Jay. Costumava, antes, frequentar a estação São Bento, na época ponto de encontro para jovens que dançavam e cantavam rap. Lá, conhece Thaíde, um dos primeiros artistas do rap brasileiro que vê na televisão e contém críticas sociais em suas letras e se inspira, transitando para uma obra mais socialmente engajada. Com letras que retratam a periferia de São Paulo, Mano Brown se consagrou como um dos maiores nomes da cultura Hip Hop. Ao deixar explícito a realidade marginalizada de grande parte da sociedade, abre caminho e dá visibilidade para temas constantemente negados pela grande massa.

 

59. Manuel Bandeira | Este grande pernambucano, que foi poeta, crítico literário, professor de literatura e tradutor, é o autor do poema de abertura da Semana de Arte Moderna de 22, “Os Sapos“, lido por seu amigo Ronald de Carvalho, já que Bandeira estava doente e não conseguiu comparecer ao evento. O poema ridicularizava o Parnasianismo, movimento literário tradicionalista e conservador que os modernistas elegeram combater. Mesmo tendo um papel tão importante para a Semana de 22, não se entendia tanto como modernista. Produziu obras que se enquadram no movimento, mas, como o próprio disse em carta a seu amigo Mário de Andrade, que o considerava um dos maiores autores de seu tempo, ”não sabia que estava 'escrevendo moderno'”. Em suas obras, lida com formas e inspirações que a tradição acadêmica tinha como vulgares, envolvia poesia com temáticas amplas, como o erotismo, o pessimismo e a morte. Em 1940, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira nº 24, cujo patrono era Júlio Ribeiro. Lá, permaneceria até sua morte, em 1968.

 

60. Maria Bethânia | A Abelha Rainha da MPB é dona de uma linda carreira de mais de 50 anos! Cantora, compositora e poetisa, foi a primeira mulher a vender mais de 1 milhão de discos no Brasil. Ao longo das cinco décadas, totalizou mais de 26 milhões! Ela vem de uma família cheia de artistas: é irmã da escritora Mabel Velloso e do também cantor, compositor e poeta Caetano Veloso, e tia dos cantores Belô e Jota Velloso. E ó, Bethânia já disse que seu maior foco é o trabalho: "Se choro, guardo a minha lágrima para quando for cantar; se namoro, o prazer do namoro será para utilizar quando for trabalhar. É tudo assim. Tudo é o meu trabalho". Toda essa dedicação e paixão nos presenteou com um dos maiores talentos nacionais.

 

61. Marília Mendonça | Marília arrebatou a música brasileira durante uma década, com talento e potência impressionantes. Pudemos acompanhar tantos sucessos quanto os que a personalidade marcante e a voz inconfundível puderam nos brindar. E foram muitos. Já compunha aos 12 anos, passando a escrever para diversos cantores, como Cristiano Araújo, Jorge & Mateus, Henrique & Juliano, João Neto & Frederico, Matheus & Kauan, dentre outros. Lançou o primeiro álbum em 2016, dando início à intensa trajetória que levaria ao segundo trabalho, “Realidade”, dos hits “De quem é a culpa?” e “Amante não tem lar”. Vieram, então, “Todos os Cantos” e o EP “Nosso amor envelheceu”, além de trabalhos em parceria com a dupla Maiara & Maraisa, com quem Marília manteve grande amizade e sintonia dentro e fora dos palcos. Aliás, foi no projeto “Todos os Cantos” que ela viajou o país todo com shows em todas as capitais do Brasil, entre 2018 e 2019. As gravações viraram disco e uma das iniciativas mais bem-sucedidas e marcantes da cantora. Todo o domínio de palco, o jeito bem-humorado e as sofrências mais amadas dos últimos anos estão em faixas como “Ciumeira”, “Bebi Liguei” e “Graveto”. Os álbuns “Patroas” e “Patroas 35%”, lançados entre 2020 e 2021, com Maiara & Maraisa, consolidaram o caminho que Marília tanto trabalhou para iluminar: o reconhecimento do sertanejo feito por e para mulheres que um país inteiro aprendeu a amar.

 

62. Mário de Andrade | Mário Raul Morais de Andrade nasceu em 9 de outubro de 1893, em São Paulo. E ele não foi apenas um poeta, não. Também era musicólogo, historiador de arte, crítico e fotógrafo, sendo um dos fundadores do Modernismo no país. É conhecido por seus livros Paulicéia Desvairada (1922) e Macunaíma (1928). Não à toa, foi a figura central da vanguarda paulistana por mais de vinte anos. Justamente por ter atuado em tantas áreas das artes e incentivar a modernidade artística na cidade (e no país), foi nomeado, em 1935, o primeiro Diretor do Departamento de Cultura da Cidade de São Paulo, que, anos mais tarde, em 1975, viria a se tornar a Secretaria Municipal de Cultura.

 

63. Mário Peixoto | Mário Rodrigues Breves Peixoto foi cineasta de um único filme lançado em toda a sua vida. "Limite”, de 1931, considerado uma obra-prima do cinema mudo, estreou no Cine Capitólio, no Rio de Janeiro, e nunca mais saiu do panteão dos melhores do cinema brasileiro. A trama, intimista, revela as histórias passadas de um homem e duas mulheres náufragos em um pequeno barco. Vida, angústia, memória, fuga. Essas e outras questões podem ser levantadas a partir do mítico filme. A existência de apenas uma cópia, que permanecia sem os devidos cuidados, levou Plínio S. Rocha e Saulo Pereira de Mello a iniciarem o trabalho de restauro da obra, lançada depois em vídeo na década de 80. Mário tentou ainda rodar outras produções, sem sucesso, escrevendo roteiros que não chegaram a ser produzidos. O cineasta também é autor de diversos livros. Dentre os que foram publicados, estão “O inútil de cada um”, “Mundéu”, “Poemas de permeio com o mar” e “Escritos sobre cinema”.

 

64. Marisa Monte | A cantora, compositora, multi-instrumentista e produtora musical, Marisa de Azevedo Monte, nasceu na cidade do Rio de Janeiro. Já aos 18 anos gravou oficialmente a primeira música que marcou seu debut no cenário musical brasileiro, “Sábado à Noite”, escrita por Sérgio Sá. Chamou atenção do produtor musical, Nelson Motta, que dirigiu o primeiro show, “Veludo Azul”, em 1987, após o retorno da cantora. O primeiro hit, “Bem Que Se Quis” conquistou o público, fez parte da trilha sonora da novela “O Salvador da Pátria”, e ajudou a alavancar o álbum, “MM”. A carreira estelar começava a deslanchar com o lançamento do segundo álbum “Mais”, e o premiado terceiro LP, “Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão”. O primeiro álbum duplo foi “Barulhinho Bom – Uma Viagem Musical”. Abriu sua própria editora, a “Monte Songs Edições Musicais Ltda.”, e selo, “Phonomotor Records”. “Memórias, Crônicas e Declarações de Amor” iniciou a parceria muito bem-sucedida com Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown. “Amor I Love You” puxou o enorme sucesso de crítica e público que vendeu mais de 2 milhões de cópias no país, e garantiu um Disco de Diamante para a cantora. Outro fenômeno que envolveu o trio Marisa, Antunes e Brown, “Tribalistas” alcançou a marca de milhões de cópias vendidas tanto no Brasil quanto no mundo. Vieram, então, “Infinito Particular”, “Universo ao Meu Redor”, “O Que Você Quer Saber de Verdade”, e a tour mundial, “Verdade, Uma Ilusão”. “Portas” é o trabalho mais recente, lançado em 2021, e mais um grande sucesso no universo da brilhante Marisa Monte.

 

65. Maxwell Alexandre | Ele pode ter uma carreira jovem, mas o artista plástico da Rocinha já mostrou para o que veio e logo ganhou reconhecimento internacional. A convite do Museu de Arte Contemporânea Africana (MACAAL), participou de uma residência artística em Marrakech (Marrocos), o que lhe rendeu uma instalação na exposição coletiva "Have You Seen a Horizon Lately?". Não só isso, também realizou mostras em outros países, como a individual "Pardo é Papel: Close a Door to Open a Window", na Inglaterra, Londres. Em 2020, também foi convidado a atender ao PalaisPopulaire, em Berlim, como um dos três artistas do ano, promovida pelo Deutsche Bank.

 

66. MC Carol | Um grande nome no funk, traz em suas criações a união da música e de temáticas sociais. Denuncia o racismo, a violência contra mulheres, a gordofobia e o peso da pressão estética e a realidade das favelas, ao mesmo tempo que não deixa de abordar e exaltar questões como autoestima e sexualidade. Já relatou sua própria vivência enquanto mulher negra e gorda em Levanta Mina, single que tem como temática a auto aceitação e amor próprio. É, também, o primeiro trabalho de MC Carol para o Black Voices, projeto internacional do YouTube que visa dar visibilidade a artistas negros.

 

67. MC Dricka | Com suas canções diretas e irreverentes, MC Dricka conquistou seu espaço no funk com uma linguagem cantada costumeiramente apenas por MCs homens. Se consagrando como uma das vozes mais empoderadas do funk, a artista derruba as barreiras do machismo e eleva a autoestima de diversas mulheres. Não é à toa que ganhou o apelido de Rainha dos Fluxos: ela já ultrapassou a marca de 300 milhões de acessos no YouTube. E olha só: Dricka estampou um dos telões da Times Square, em Nova York, em uma ação global do Spotify com o EQUAL para promover a equidade e igualdade de gênero, levando o funk para o mundo. Engajada em movimentos sociais e manifestações desde adolescente, MC Dricka é uma mulher negra lésbica que, em suas letras, promove a igualdade social, racial e de gênero em uma sociedade que ainda convive com o racismo, homofobia e machismo.

 

68. Mercedes Baptista | Bailarina e coreógrafa foi a primeira mulher negra a fazer parte do corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Mercedes criou o balé afrobrasileiro, tendo se inspirado nos terreiros de candomblé, e elaborou uma identidade própria para essas danças. Declarou que sempre foi muito difícil lidar com o racismo presente na dança: "Nunca iriam me dizer isso, nem dizer que o problema era racial, mas eu sabia que era e, por isso, sempre lutei cada vez procurando me aperfeiçoar”. Integrou o Teatro Experimental do Negro, liderado por Abdias Nascimento, como bailarina, depois colaboradora e, então, coreógrafa. Chegou a ir para os Estados Unidos, a convite da coreógrafa e antropóloga Katherine Dunham e criadora de uma companhia de dança formada apenas por artistas negros, para estudar dança moderna e o ativismo negro. Quando retorna ao Brasil, funda o Ballet Folclórico Mercedes Baptista, voltado à formação artística de bailarinos negros e que incorporava a cultura afrobrasileira em seus trabalhos. Aos que ficaram curiosos para saber mais sobre a grande influência que ela teve na dança e cultura nacional, indicamos o filme documentário Balé de Pé no Chão – A dança afro de Mercedes Baptista, dirigido por Lílian Sola Santiago e Marianna Monteiro.

 

69. Milton Nascimento | Chegou o dia de um dos maiores nomes e compositores da música nacional. Milton Nascimento é filho de uma empregada doméstica, que morreu quando ele tinha apenas dois anos, sendo adotado pela filha da patroa de sua avó. Desde novinho, se interessou pela música graças à sua mãe adotiva, Lília, professora de música que estudara com Villa-Lobos. Seu talento impressionou grandes e vários nomes da música popular brasileira, o que lhe rendeu diversas parcerias. Elis Regina, a quem ele tem como grande inspiração, gravou mais de doze canções dele, como "Travessia'' e "Canção do Sal". Em 1970, formou o grupo Clube da Esquina e lançou dois discos com enorme repercussão, em especial por inovar em estilo, arranjo e repertório ao juntar cantigas do interior com uma melodia que vinha dos The Beatles. Foi o primeiro a gravar "Cálice", com Chico Buarque, crítica ao Regime Militar. Compôs a música da Missa dos Quilombos, projeto sociopolítico feito ao lado do poeta Pedro Tierra e do bispo Dom Pedro Casaldáliga. Milton Nascimento viria a se tornar o compositor com mais obras reproduzidas das Diretas Já, com títulos como "Coração de Estudante" e "Menestrel das Alagoas".

 

70. Negra Li | Liliane de Carvalho nasceu na Brasilândia, zona norte de São Paulo. Temas como a negritude e as vivências de uma mulher periférica a inspiraram a tirar das ruas do bairro em que nasceu representatividade, resistência e poesia. Renascia, então, como Negra Li, rapper que iniciou a vida, na década de 90, com um dos grupos pioneiros de rap brasileiro, o RZO (Rapaziada da Zona Oeste), de Pirituba. Lançou, então, álbum em parceria com Helião (RZO), “Guerreiro, Guerreira”. Grande intérprete, impactou com voz potente aliada à versatilidade que a conduziram a novos ritmos, como o pop, MPB e reggae. “Negra Livre” e “Tudo de Novo” consolidaram a artista no cenário da música brasileira, também em parcerias com Caetano Veloso, Mano Brown, Sabotage, Nando Reis, Projota, dentre outros. Em “Raízes”, a cantora voltou às origens, ao rap, às canções que expressam a resistência e a luta contra o racismo, como na faixa-título: “Coroa é o meu cabelo/ O Meu canto milenar/ Ninguém pode interrompê-lo”. Completando 22 anos de carreira, Negra Li lançou o clipe de “Brasilândia”. “Comando” despontou em 2021. A versatilidade de que falamos antes também levou a uma carreira de sucesso na atuação. Negra Li é atriz, e teve participação aclamada na série televisiva “Antônia”, como a personagem Preta, além de outras obras para TV e cinema.

 

71. Ney Matogrosso | Desde os Secos & Molhados, até sua carreira solo, Ney Matogrosso sempre encantou. Cantor, compositor, dançarino, ator e diretor, construiu um repertório extremamente versátil e de uma qualidade admirável. É considerado um dos intérpretes mais importantes, influentes e produtivos do cenário artístico nacional. Desde os anos 1970, rompe os conceitos sobre o comportamento masculino considerado apropriado no Brasil, em especial pelas maquiagens cênicas e vestuário exótico. Foi ameaçado diversas vezes pelo Regime Militar por sua personalidade transgressora - nesta época, lançou alguns de seus maiores sucessos, como Homem com H, Por Debaixo dos Panos, Sangue Latino e Pro Dia Nascer Feliz (autoria de Cazuza). Ney Matogrosso é, também, um dos precursores da androginia enquanto estética de arte, conceito desenvolvido inicialmente durante a era da Tropicália e que expôs toda sua ousadia nos tempos de chumbo. Dono de uma voz inconfundível, inspirou, e ainda inspira, toda uma geração de artistas.

 

72. Noriel Vilela | Infelizmente, nosso modernista do dia morreu jovem, aos 39 anos, em 1975. Mas, deixou um legado que influencia, até os dias atuais, novos artistas e conquista fãs na era digital. Um dos grandes sucessos do cantor carioca, "16 toneladas" é uma adaptação para o samba da canção country estadunidense “Sixteen Tons''. Mas Noriel foi muito maior do que esse hit. Começou como integrante do grupo Nilo Amaro e seus Cantores de Ébano, no qual se sobressaia por seu vocal baixo, depois seguiu carreira solo, gravando um LP e alguns compactos, nos quais combinava religiosidades de matriz africana com a melodia do que viria a ser conhecido como samba rock. Pro você que que gosta de “16 toneladas”, fica a nossa dica: “Eis o Ôme”, seu único disco solo, traz uma fusão da sonoridade dos terreiros com guitarras, órgãos e metais, transitando entre o samba, a gafieira e o samba rock, criando o que alguns críticos chamariam de sambalanço.

 

73. Oscar Niemeyer | O arquiteto é considerado uma das personalidades fundamentais para o desenvolvimento da arquitetura moderna. Impressiona não somente por seguir a estética modernista, mas também por ter uma identidade própria nos seus projetos, as curvas. Convidado por Lúcio Costa, participou do projeto arquitetônico do Palácio Gustavo Capanema, localizado no Rio de Janeiro, onde, atualmente, funcionam diversos órgãos públicos. Após o colega se afastar da iniciativa, Niemeyer assumiu a liderança do que viria a ser o primeiro edifício modernista do mundo a ser financiado pelo Estado. Sua marca é reconhecida internacionalmente, o que lhe rendeu diversos convites, desde atuar como arquiteto até lecionar em grandes universidades, como Harvard e Yale, Nos EUA. Planejou e construiu os prédios públicos de Brasília, a nova capital do Brasil, assim como participou da construção da sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York.

74. Oswald de Andrade | Um dos grandes nomes do Modernismo brasileiro, foi um dos promotores da Semana de 22 e integrou o Grupo dos Cinco. Poeta de mão cheia, escritor com pitadas de ensaísta e dramaturgo da lamber os dedos, ficou conhecido por seu comportamento ”irreverente”. Foi casado com sete mulheres, dentre elas Tarsila do Amaral e Pagu, dois nomes importantes para o movimento modernista. Uma de suas principais obras modernistas é o livro de poemas "Pau-Brasil". É de Oswald, também, o “Manifesto Antropófago” e o “Manifesto da Poesia Pau-Brasil”.

75. Pabllo Vittar | Uma das maiores drag queens do Brasil, conquistou um sucesso sem precedentes. Citada pela Forbes como a drag mais popular do mundo, Vittar é conhecida por seu ativismo LGBTQIA+, influenciando artistas para além da comunidade. Nascida e criada em cidades do interior do Pará e Maranhão, traz para a sua obra não só a diversidade social, mas também o regionalismo ao incorporar em sua música gêneros como o arrocha e o forró. Prega em suas criações o amor e a autoestima, além de romper com as barreiras e padrões cisgêneros, mostrando que as identidades de gênero são muito mais fluídas e extensas do que a sociedade considera. Cresceu ouvindo as artistas Aretha Franklin, Whitney Houston e Tina Turner, imitando-as quando, como disse, ainda "nem sonhava em ser drag". Aqui no Brasil, teve a influência de outros grandes artistas, como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Ney Matogrosso, considerado uma "divindade" por ela. Constantemente impulsiona artistas LGBTQIA+ (drag queens, trans e travestis) a entrarem no mercado musical, de forma a tornar a música cada vez mais inclusiva.

 

76. Pagu | Seu nome de batismo, Patrícia Rehder Galvão, não é muito conhecido; se tornou Pagu após conhecer o poeta Raul Bopp, que lhe deu o apelido ao dedicar a ela o poema “Coco de Pagu”. Ele pensava, contudo, que seu nome fosse Patrícia Goulart - daí, brincadeira com as primeiras sílabas. Talvez seja este o equívoco mais reconhecido do mundo. Nascida em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, sempre se mostrou contrária às expectativas da sociedade sobre as mulheres, defendendo as causas feministas e também se mostrando atenta às causas sociopolíticas. Apresentada aos artistas Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, Pagu, aos 18 anos, se integra ao movimento antropofágico, de cunho modernista.

 

77. ??Péricles | Péricles Aparecido Fonseca de Faria nasceu em Santo André, na Grande São Paulo. Cantor, compositor e instrumentista, Pericão começou a vida artística no grupo de pagode Exaltasamba. Produziram grandes sucessos, como “Me apaixonei pela pessoa errada”, “Separação” e “Como nunca amei ninguém”. Em 2012, iniciou carreira solo. Gravou o DVD do álbum “Sensações”, com a participação do cantor Luan Santana em “Cuidado cupido”, e do filho, Lucas Monteiro, em “Linda voz (Olá)”. A canção “Linguagem dos olhos” foi outro sucesso do trabalho. Nos anos seguintes, lançou o DVD “Nos Arcos da Lapa”, os CDs “Feito pra durar”, “Deserto da ilusão”, “Em sua direção”, “Pagode do Pericão” e “Mensageiro do amor”. O EP do “Acústico” veio em 2018. Péricles permanece um dos maiores expoentes do samba e do pagode no cenário musical brasileiro, tendo realizado parcerias com nomes como o parceiro dos tempos de Exaltasamba, Thiaguinho, Chrigor, Djavan, Sorriso Maroto e a dupla Jorge & Mateus. Com mais de 30 anos de uma carreira bem-sucedida, Péricles nos brindou, no final de 2021, com o álbum “Céu lilás”, celebrado por todos os apaixonados por pagode.

 

78. Pixinguinha | Um dos maiores compositores da música popular nacional, o músico carioca foi maestro, flautista, saxofonista e arranjador. Seu nome de batismo não é muito lembrado, Alfredo da Rocha Vianna Filho (1897 - 1973), mas o apelido dado por sua avó ganhou o mundo. Na verdade, a matriarca o chamava de Pinzindim, palavra de origem africana, de onde ela veio, e que no dialeto de sua terra significa “menino bom”. Pixinga, como era carinhosamente chamado pelos mais próximos, contribuiu para que o choro, ou chorinho, encontrasse uma forma musical definitiva. Em conjunto com Donga e João Pernambuco, integrou o grupo Caxangá, que viria a formar o conjunto Oito Batutas. Entre suas obras, as mais conhecidas são os choros Carinhoso e Lamentos.

 

79. Rachel de Queiroz | Nascida em 1910, a escritora ganhou reconhecimento ainda aos 19 anos, com o romance O Quinze (1930). Nele, aborda a luta no povo nordestino contra a seca e a pobreza, demonstrando sua preocupação com as questões sociais. No mesmo ano, ganhou o concurso Rainha dos Estudantes, promovido pelo jornal O Ceará, escrevendo crônicas e poemas modernistas sob o pseudônimo Rita de Queluz. Em 1977, foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira nº 5, e, em 1993, a primeira autora brasileira a conquistar o Prêmio Camões, maior reconhecimento literário da Língua Portuguesa.

 

80. Raul Bopp | Um dos principais nomes da Primeira Geração do Modernismo brasileiro, o poeta e diplomata participou da Semana de 22. Em suas obras, exaltava a cultura e beleza nacional, como podemos ver, por exemplo, no poema narrativo Cobra Novato, inspirado em sua ida à Amazônia, e que é a principal obra do Movimento Antropófago, uma corrente do movimento modernista. Por ter sempre convivido no ambiente literário, era amigo próximo de outros grandes nomes da literatura, como Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado. Como jornalista e diplomata, viajou Brasil afora e morou em Los Angeles (EUA), Berna (Suíça) e Lima (Peru), além de ter residido no Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre. Foi ele, inclusive, que apelidou Pagu - achava que a escritora e jornalista chamava Patrícia Goulart, e não Patrícia Rehder Galvão. Enfim, um erro que pegou.

 

81.Rincon Sapiência | Filho da COHAB 1, na zona leste de São Paulo, o rapper Rincon Sapiência nasceu Danilo Albert Ambrosio e em 2000, começou sua carreira. É considerado um dos MCs mais versáteis e promissores da cena atual do rap e teve seu sucesso reconhecido com o hit “Ponta de Lança (Verso Livre)”, em 2016. Suas letras agem com sutileza ao contribuírem para denunciar a discriminação racial e outras dificuldades estruturais. No final do ano passado, lançou um EP com duas músicas: “De Onde Cê Vem (Verso Livre)” e “Serenata”, brindando a todos os fãs com mais um incrível trabalho.

 

82. Rita Lee | A Rainha do Rock Brasileiro é uma das mulheres mais influentes do país, com um acervo regado com ironia, humor ácido e reivindicação pela independência feminina. Ao longo da carreira de mais de 50 anos, participou de importantes revoluções no cenário musical e flertou com diversos gêneros, como a psicodelia durante a Tropicália, o Pop Rock, a MPB e a Bossa Nova. Participou dos grupos "Os Mutantes" (1966 - 1972) e "Tutti Frutti", com o qual publicou o álbum "Fruto Proibido", tido como um pilar da história do Rock brasileiro. Em 1976, durante o Regime Militar, foi presa enquanto grávida de seu primeiro filho. Ficou 1 ano em prisão domiciliar, quando compôs "Arrombou a Festa", com Paulo Coelho.

 

83. Roberta Estrela D'Alva | Se você acompanha slam, certamente já a conhece. É uma das pioneiras dessa linguagem, ao fundar a Zona Autônoma da Palavra (ZAP!), e luta para concretizar o slam como prática artística que informa e relata a vivência de vários jovens. Não só isso. Ela é fundadora da primeira companhia de teatro hip hop do País, o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, e do coletivo Frente 3 de Fevereiro, que atua no movimento negro ao desenvolver ações contra o racismo. Roberta faz da oralidade sua ferramenta social: a usa como instrumento de expressão e reivindicação, criando uma arte de resistência. Para quem quer saber mais indicamos "Manifesto", canção lançada em uma campanha da Anistia Internacional Brasil pelos direitos humanos ao lado de outros grandes artistas, como Fernanda Montenegro, Criolo, Camila Pitanga e Chico César.

 

84. Ruth de Souza | Conhecida como uma das damas da dramaturgia brasileira, foi a primeira protagonista negra de uma novela da Globo, em "A Cabana do Pai Tomás", assim como a primeira artista brasileira a ser indicada a Melhor Atriz no Festival de Veneza, por Sinhá Moça. Sempre se interessou por teatro e, em 1945, se juntou ao grupo Teatro Experimental do Negro (TEN), liderado por Abdias Nascimento. Neste mesmo ano, o coletivo foi o primeiro grupo de teatro negro a atuar no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, levando ao palco a peça O Imperador Jones e abrindo espaço para os artistas negros do Brasil. Seu papel na dramaturgia foi imenso, assim como para o movimento negro e a classe artística. Ao aparecer em uma das maiores emissoras do país como protagonista, em 1969, logo em um tempo de repressão e represálias, vira símbolo de resistência e se transforma em arte. Em 2019, chegou a ser homenageada pela Acadêmicos de Santa Cruz, escola de samba carioca, com o enredo Ruth de Souza – Senhora Liberdade. Abre as Asas Sobre Nós.

 

85. Sabotage | Sabota, como também era chamado por seus fãs e amigos, é um dos pilares da música brasileira contemporânea. Junto com artistas como RZO, Racionais MC's, Facção Central e Z'África Brasil criou, a partir de São Paulo, as bases do que seria o rap nacional. Tendo uma infância difícil, encontrou no Rap uma saída e uma verdadeira vocação. Mudou o cenário do gênero no Brasil com suas criações, que expressavam a realidade dos jovens da periferia. Nasceu na Zona Sul de São Paulo, onde é considerado lenda, e inspirou vários outros artistas. Rapper, cantor e compositor, Sabotagem também se encontrou no cinema, tendo participado de dois filmes: O Invasor (2001), de Beto Brant, e Carandiru (2003), de Héctor Babenco, no qual também atuou como consultor técnico. Em 2003, Sabotagem foi vítima da violência urbana que denunciava em suas canções, provocando uma grande consternação pública e a reflexão sobre os caminhos que a sociedade brasileira percorria. Hoje, é lembrado como um dos maiores artistas de seu tempo e referência inescapável para contemporâneos como Emicida, Criolo, Karol Conká e Rincon Sapiência.

 

86. Sebastião Salgado | Fez sua primeira sessão de fotos nos anos 70, após viajar para a África a trabalho. Se inspirou tanto pela fotografia que, em 1973, se tornou fotojornalista. Registra pelas lentes diversos hábitos socioculturais e denuncia as desigualdades e explorações de diversos povos ao redor do mundo. Sua atuação política vai para além da arte: ao longo dos anos, contribui com organizações humanitárias, como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ONG Médicos Sem Fronteiras e a Anistia Internacional. Para quem ficou interessado, indicamos o livro Sahel: O Homem em Pânico, de 1986, resultado de uma colaboração de um ano com a organização “Médicos Sem Fronteiras” para cobrir a seca no norte da África.

 

87. Sérgio Vaz | Fundador da Cooperativa Cultural da Periferia (Cooperifa), Vaz também é criador do Sarau da Cooperifa, que reúne centenas de artistas da palavra no Jardim Guarujá, para ler e escrever poesia, e do Projeto Poesia Contra a Violência, que incentiva a leitura e a criação poética como ferramenta de exercício da cidadania e da arte pelas escolas da periferia. Ah, e adivinha só: Vaz promoveu um evento inspirado na nossa Semana de Arte Moderna 22, a Semana de Arte Moderna da Periferia. Realizada em 2007, transformando espaços públicos da Zona Sul de São Paulo em mostras de arte, com criações feitas por artistas da periferia de diferentes linguagens artísticas - literatura, música, artes plásticas, dança e cinema. Também é autor de outros eventos, como o "Poesia no Ar", no qual papeis com versos de poesia foram amarrados a balões de gás hélio e soltos, e o "A joelhaço", no qual homens se ajoelharam na rua para pedir perdão no Dia Internacional da Mulher.

 

88. Simonal | Cantor e compositor, foi um dos maiores de seu tempo, tendo feito muito sucesso entre as décadas de 1960 e 1970. Influenciou uma geração de cantores e compositores, como Jorge Ben Jor, compositor de “País Tropical“ e que ganhou uma versão na voz de Simonal, e Caetano Veloso, que transformou um de seus bordões, “Alegria, Alegria“, em título de um dos maiores sucessos do cantor baiano. Se envolveu em um dos episódios mais polêmicos da Música Popular Brasileira durante o Regime Militar e foi condenado pela classe artística, mesmo que houvesse se posicionado em várias ocasiões - como na convenção anual do Movimento Democrático Brasileiro, em 1970, e ao realizar um discurso de repúdio ao Comando de Caça aos Comunistas. Se quiser saber um pouco mais sobre o episódio, inclusive, vale a pena conferir o filme “Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei".

 

89. Tarsila do Amaral | Tarsila, como é conhecida, é uma das principais artistas modernistas de toda a América Latica. Membro do Grupo dos Cinco, já foi descrita como "a pintora brasileira que melhor atingiu as aspirações brasileiras de expressão nacionalista em um estilo moderno". De quebra, sua influência inspirou seu marido, na época, Oswald de Andrade a escrever o Manifesto Antropofágico, que se baseia na reapropriação das vanguardas Europeias ao contexto nacional. Sem dúvidas, uma de suas obras mais conhecidas é Abaporu, de 1928. O quadro recebe esse nome, de origem indígena, que significa algo como "homem que come carne humana", pois essa era a essência do Movimento Antropofágico, devorar o “inimigo” para absorver suas qualidades.

 

90. Tim Maia | O Síndico do Brasil, apelido dado por Jorge Ben Jor na música W/Brasil, deixou um legado enorme no cenário musical nacional. Eleito pela Revista Rolling Stone Brasil como o maior cantor brasileiro de todos os tempos, Tim Maia influenciou diversos artistas, entre eles seu sobrinho Ed Motta e seu filho Léo Maia. E olha só: ele passou alguns anos morando nos Estados Unidos para estudar inglês e aprender um pouco mais sobre a música estadunidense, chegando a participar de um grupo musical, The Ideals. Com essa experiência, trouxe os gêneros soul e funk para o Brasil, introduzindo-os na música popular. Com uma personalidade única e forte, Tim Maia foi um dos primeiros artistas independentes do Brasil. Grande parte de suas canções foi gravada em sua própria gravadora, Vitória Régia Discos, antes Seroma, união das sílabas iniciais de seu nome de batismo, Sebastião Rodrigues Maia.

 

91. Tina Gomes | Tina é paulistana de Cidade Tiradentes, extremo leste de São Paulo. E neste dia mundial da arte, falamos sobre a trajetória dessa artista de obra singular, que une a fotografia à composição de cena com materiais recicláveis, tecidos, guache, papel, como em um retrato pintura. Mãe solo de sete filhos e fotógrafa autodidata, seu talento foi descoberto quando ela publicava fotos tiradas com um celular na internet. A projeção continuou a crescer de forma acelerada, e no início de 2015 suas obras foram expostas no Conjunto Nacional, situado na Avenida Paulista, sob o nome de “Sonho de Sophia”. A rapidez e intensidade dos acontecimentos que levaram Tina à consagração acabaram por precipitar um quadro depressivo, tendo sido diagnosticada com transtorno esquizoafetivo. Vivenciou, por dois anos, fase dolorosa que a afastou de sua Arte. Já recuperada, retomou a incrível obra que a consagrou. Partindo de um trabalho de composição fascinante, adaptou o próprio apartamento em que vive a um estúdio de fotografia. Derrubou paredes, pintou fundos com tinta, compôs (e compõe) os cenários que vemos em suas fotos. Para os retratos que produz, tem como modelos os filhos Angel, Maria Flor e Nicole Sofia. Os figurinos ganham vida com tecidos e materiais diversos, num processo inventivo e experimental que encanta. Utiliza, ainda, pintura corporal nas criações. Tudo se recria, transforma-se e revive na sensibilidade criativa de Tina Gomes.

 

92. Tom Zé | Nascido Antônio José Santana Martins, é uma das personalidades mais originais no cenário musical nacional. Com uma ativa atuação no movimento Tropicália, foi reconhecido como uma das vozes alternativas mais influentes. Sua trajetória musical foi marcada por traços de uma cultura de ruptura, evidenciados no disco Grande Liquidação, um dos expoentes do movimento e que carrega fortes traços tropicalistas. Participou, também, do espetáculo Nós, Por Exemplo nº 2, junto a outros grandes nomes da época - Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia e Djalma Corrêa.

 

93. Uýra Sodoma | Artista visual, bióloga, educadora e drag queen amazônica, nossa Modernista do Dia é a Uýra Sodoma. Emerson nasceu em Santarém, no Pará, tendo se mudado para Manaus aos seis anos. Criou a performer artística drag, Uýra Sodoma, em 2016, passando a desenvolver trabalho como arte-educadora de comunidades, jovens e adolescentes ribeirinhos em defesa da natureza e da sustentabilidade ambiental. Atuou por dois anos na ONG Fundação Amazônica Sustentável, onde coordenou o projeto “Incenturita” como arte-educador para mais de 200 crianças, jovens ribeirinhos e indígenas amazonenses. A representatividade da persona Uýra, que costuma se definir como uma “árvore que anda”, atua como uma ponte entre mundos. Tece o diálogo atemporal entre os povos originários das florestas e a necessidade presente, mais do que urgente, de inclusão educativa para a preservação do meio ambiente. Inspirador, o trabalho vem recebendo reconhecimento crescente. Uýra já protagonizou capa da revista Vogue, em uma edição que projeta na proteção ambiental a esperança de um futuro melhor. Participou do Prêmio EDP nas Artes 2020, e da 34ª Bienal de São Paulo, expondo obras que encarnam forças ancestrais e os desafios do nosso tempo.

 

94. Vanessa da Mata | Vanessa Sigiane da Mata Ferreira nasceu em Alto Garças, interior do Mato Grosso. Cantora, compositora, modelo e escritora, começou a cantar ainda na adolescência, em Urbelândia, onde morou em um pensionato após ser aprovada para cursar o ensino médio técnico em um colégio federal. Ainda com 21 anos, conheceu Chico César e com ele compôs a música “A força que nunca seca”, gravada depois por Maria Bethânia. A faixa concorreu ao Grammy Latino na época. A mesma Bethânia voltaria a interpretar uma canção escrita por ela, assim como fizeram Daniela Mercury, Ana Carolina e Milton Nascimento. O álbum de estreia, “Vanessa da Mata”, foi lançado em 2002. Trouxe os hits “Não me deixe só”, “Nossa canção” e “Onde ir”. O segundo trabalho, “Essa boneca tem manual”, veio com o grande sucesso “Ai, ai, ai”, a música mais tocada nas rádios em 2006.

Gravado em parceria com o duo jamaicano, Sly & Robbie, o disco “Sim” contou com a participação de Ben Harper, João Donato, Wilson das Neves, dentre outros. Com Harper, Vanessa alcançou o topo dos charts com “Boa Sorte/Good Luck”. Ganhou o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Pop Contemporâneo Brasileiro pelo álbum. Lançou, então, “Bicicletas, bolos e outras alegrias”, quarto trabalho com 12 músicas autorais inéditas. Gravou “Vanessa da Mata canta Tom Jobim”, resultado de uma turnê em homenagem ao grande ícone da Bossa Nova. “Segue o som”, de 2014, conseguiu com a faixa-título ser a campeã de execuções nas rádios daquele ano. Seguiram os lançamentos de “Caixinha de Música”, ao vivo, e “Quando deixamos nossos beijos na esquina”, em 2019. Como autora, publicou seu primeiro livro em 2013, o romance “A filha das flores”, mostrando toda a versatilidade e talento de um dos principais nomes da música brasileira contemporânea.

 

95. Victor Brecheret | Victor Brecheret nasceu na Itália, mas veio logo cedo para cá. Sorte a nossa: é considerado um dos principais escultores do Brasil, tendo introduzido o Modernismo na escultura nacional. Mesmo assim, nunca deixou de lado sua formação clássica, ligada à arte greco-romana e renascentista. Voltou ao seu país natal em 1913, onde aprimorou suas técnicas artísticas, mas regressou ao Brasil logo em 1919. Como não conhecia muitos artistas brasileiros, se concentra na sua arte e tem uma enorme produção, o que chama a atenção de críticos e modernistas brasileiros, que viam na sua obra algo novo, antiacadêmico e fora dos padrões do cenário paulista. Participou da Semana de Arte Moderna, com 12 esculturas expostas no saguão do Theatro Municipal, e retornou algumas vezes para Paris, mantendo paralelamente sua carreira na Europa e no Brasil. De imensa importância para a cultura nacional, Brecheret chegou a inspirar Mário de Andrade a escrever Paulicéia Desvairada. Ao mesmo tempo que seus colegas modernistas influenciaram sua arte com um cunho nativista, o escultor marcou a sensibilidade artística deles.

 

96. Waly Salomão | Ele foi, e ainda é, uma importante figura para a cultura nacional: participou dos movimentos da Tropicália e da Contracultura e, após passar a circular no eixo Rio - São Paulo no âmbito cultural, consolida-se como um dos principais nomes da poesia tropicalista. Era dono de uma poesia de ruptura, que se distinguia pela estética do excesso e refletia uma época marcada pela transgressão nas expressões artísticas. Assim, sua obra é importantíssimo registro de como aquela geração entendia o papel da arte e da cultura. Participou ativamente do Centro Popular de Cultura (CPC) junto a outras figuras marcantes para a cultura brasileira, como Tom Zé, e chegou a trabalhar no Ministério da Cultura como Secretário Nacional do Livro, no início da gestão de Gilberto Gil. Em 2010, recebeu uma homenagem póstuma do Grupo Cultural AfroReggae, do qual foi coordenador: a sede passou por uma grande reforma, tendo sido batizada como Centro Cultural Waly Salomão. Dizia que o AfroReggae era um cardume do qual ele fazia parte.

 

97. Zé Celso | Apresentamos o dramaturgo, diretor, ator e encenador, Zé Celso. Nascido em Araraquara, interior de São Paulo, José Celso Martinez Corrêa manifestava grande inquietude criativa já na adolescência. No fim da década de 50, liderou o grupo do Teatro Oficina, surgido no Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Começou a vida cênica com peças de autoria própria, “Vento Forte para Papagaio Subir”, de 1958, e “A Incubadeira”, do ano seguinte. Em 1961, o Oficina se profissionalizou e se mudou para o teatro na Rua Jaceguai. A encenação do espetáculo “Pequenos Burgueses”, de Máximo Gorki, veio um ano antes do golpe que instaurou a ditadura militar no país, em 1964. Já sob censura, a peça viria a ser suspensa pelos censores do regime. Os diversos prêmios de melhor direção e a aclamação da crítica fizeram com que a apresentação voltasse aos palcos um mês depois. À frente do disruptivo Teatro Oficina, a dramaturgia antropofágica do diretor, que instiga o público a sair da passividade durante as peças, levou aos palcos “O Rei da Vela”, do modernista Oswald de Andrade, “Na Selva das Cidades”, de Bertolt Brecht, “Santidade”, de José Vicente, “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, dentre tantas outras obras encenadas pelo grupo cinquentenário. Zé Celso acumula prêmios pela direção e autoria dos mais de 50 espetáculos que subiram os palcos do Grande Oficina, e segue fazendo história com uma das mentes mais vibrantes do teatro brasileiro.

 

98. Zé do Caixão | Paulistano nascido em 1936, o ator, roteirista e diretor demonstrou interesse, desde jovem, em produzir filmes amadores. O cinema era verdadeira vocação para o autodidata Mojica. Mesmo sem recursos ou estrutura, criou estilo próprio eternizado pelo personagem que se confunde com o autor, num clássico dos personagens da cultura nacional, chamado Zé do Caixão. Era caracterizado com a capa preta, cartola e unhas compridas de sua persona cinematográfica que o pai do terror passou a integrar o imaginário popular. Já profissional, lançou o impressionante e assustador “À Meia Noite Levarei Sua Alma” (1964), que foi considerado um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos pela Associação de Críticos de Cinema (Abraccine) em 2015. Premiado, tem mais de 60 obras atuando como diretor, roteirista e ator, em sua longa e bem sucedida carreira na sétima arte e na televisão. Entre os títulos, “Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver”, “O Estranho Mundo do Zé do Caixão” e “Encarnação do Demônio” se destacam. Mojica faleceu em 19 de fevereiro de 2020, em São Paulo, por complicações de uma broncopneumonia. Seu legado único e pioneiro permanece na história da filmografia brasileira.

 

99. Zeca Pagodinho | Com mais de 20 discos gravados, Zeca Pagodinho é um dos maiores nomes do Samba, reconhecido por críticos, artistas e compositores como um grande intérprete, que consegue transpassar as emoções das canções escolhidas sem perder suas próprias características ao cantar. Começou a carreira em rodas tradicionais nos bairros de Irajá e Del Castilho, no Rio de Janeiro. Mesmo com o pagode no nome, nunca deixou o samba raíz de lado, mas constantemente se adapta a vertentes musicais variadas, de forma a levar a identidade do gênero para as novas gerações. Sua primeira gravação foi em 1983, a convite de sua madrinha Beth Carvalho, com "Camarão que dorme a onda leva", autoria própria ao lado de dois grandes sambistas, Arlindo Cruz e Beto sem Braço.

 

100. Zuzu Angel | Um dos nomes mais importantes da moda brasileira, Zuzu Angel é a nossa Modernista do Dia. Nascida em Curvelo, em 1921, Zuleika de Souza Netto OMC, mais conhecida como Zuzu Angel, foi uma estilista brasileira e incansável oponente do Regime Militar. Ela foi casada com o estadunidense Norman Angel Jones e teve três filhos: Stuart, desaparecido em 1971, durante o Regime militar, e as meninas Hildegard e Ana Cristina. A carreira como estilista começou ainda no final dos anos 1950 e a levou ao sucesso internacional nos anos 1970, tendo entre seus clientes estrelas como as atrizes Kim Novak e Joan Crawford. Após o desaparecimento de Stuart e a confirmação de sua morte por tortura, Zuzu passou anos denunciando os abusos da repressão militar. Em 1971, fez um desfile/protesto no consulado brasileiro em Nova York, com criações que destacavam elementos que denunciavam a situação, como estampas representando tanques de guerra, anjos amordaçados, canhões, meninos aprisionados e pássaros engaiolados. Zuzu morreu em 1976, em um acidente automobilístico na saída do túnel Dois Irmãos, em São Conrado (RJ), conforme classificado pela ditadura. Em 1998, a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos reconheceu, após julgamento, que o regime militar foi o responsável pela morte da estilista. Segundo depoimentos, ela teria sido jogada para fora da pista por outro veículo pilotado por agentes da repressão. Hoje, o túnel foi batizado de Zuzu Angel.