"Atlas fotográfico" de São Paulo vence o prêmio Jabuti

Livro de Tuca Vieira retrata as desigualdades e vícios da metrópole em mais de 200 imagens


Foto: Carlos Ronchi


Mais uma obra realizada em parceria com o Museu da Cidade de São Paulo, da Secretaria Municipal de Cultura, leva o principal prêmio literário do país. No próximo dia 25 de novembro, o Prêmio Jabuti revelou os vencedores de sua edição de 2021. Entre os cinco indicados na categoria Arte, estava o “Atlas Fotográfico da Cidade de São Paulo e Arredores”, de Tuca Vieira, que foi escolhido como o grande premiado.

Nascido de uma exposição fotográfica realizada na Casa da Imagem em 2016, o livro traz um registro imagético da maior cidade do país, incluindo regiões adjacentes como Taboão da Serra, Osasco, Guarulhos e São Bernardo do Campo. Para dar conta de suas dimensões colossais, Vieira impôs ao trabalho uma regra simples: dividir o mapa metropolitano em 203 quadrantes, de dimensões idênticas, seguindo o modelo de antigos guias impressos para motoristas, e clicar uma única foto para cada seção.

As imagens, captadas entre 2014 e 2016, compõem agora um novo mapa da capital e suas vizinhanças - um mapa que revela uma São Paulo nua, sem distorções de peso entre bairros centrais e periféricos, entre cartões-postais e ruas menos conhecidas. A opção pelos quadrantes, afinal, limita o papel do fotógrafo na escolha dos objetos e o desafia a adotar um olhar mais homogêneo.

No papel, o que se vê é uma cidade em constante construção, que esconde alguns borrões de verde entre quilômetros de concreto, asfalto e poeira - uma poeira fina e seca que parece permear cada uma das fotografias, captando a poluição de uma região que se tornou excessivamente dependente do automóvel - elemento, esse, que também ocupa grande parte das páginas.

Certamente não é coincidência que seja de Tuca Vieira a imagem mais icônica dos últimos anos a representar a desigualdade nesta gigante urbana: a foto intitulada “Paraisópolis”, mostrando um edifício de luxo, no Morumbi, lado a lado com os barracos da comunidade que dá nome ao quadro, feita para a Folha de S. Paulo em 2004. “A Casa da Imagem vem mapeando o que há de mais relevante na fotografia documental de São Paulo”, escreve o diretor do Museu da Cidade, Marcos Cartum, no prefácio ao livro. De fato, o espaço cultural - que integra o conjunto de edifícios históricos e acervos do Museu - tem tido um olhar bastante atento aos diálogos entre artistas contemporâneos e a história da cidade, já tendo vencido o Prêmio Jabuti em 2014, pela capa de “A São Paulo de German Lorca” (assinada por Edson Lemos).

O “Atlas Fotográfico” já está disponível para consulta em todas as bibliotecas da Secretaria Municipal de Cultura e nas bibliotecas dos CEUs, além de integrar o acervo da Casa da Imagem