“1975” debate desaparecimentos durante a ditadura uruguaia

Monólogo é apresentado no Teatro Arthur Azevedo entre os dias 1º de fevereiro e 1º de março

O sentimento de perda, sob a difícil perspectiva do desaparecimento político, é o tema central no monólogo “1975”. O espetáculo, dirigido e estrelado por Angela Figueiredo, fica em cartaz no Teatro Arthur Azevedo até o dia 1º de março.

A história se passa após a última ditadura militar uruguaia, ocorrida entre 1973 e 1985. Teresa, uma mulher de 60 anos, ao desocupar a casa de seus pais, encontra cartas que escreveu em sua adolescência para o irmão, desaparecido durante o regime, e para sua avó, uma das Abuelas de Plaza de Mayo, organização de direitos humanos que busca localizar as crianças sequestradas ou desaparecidas pela ditadura militar argentina e restituí-las às suas legítimas famílias.

A abordagem não é meramente política. “O monólogo traz uma reflexão profunda sobre os sentimentos desencadeados pelo desaparecimento de uma pessoa amada”, conta Angela. “Sem menosprezar o contexto da época, o lado emocional é a essência da peça.”

A ditadura militar no Uruguai foi resultado a partir de uma escalada autoritária em toda América Latina, onde, em praticamente todos os países, déspotas assumiram o poder político por meio de golpes políticos e militares.

Segundo os números oficiais da Comissão da Verdade uruguaia, a ditadura militar deixou um saldo de 196 desaparecidos, 123 mortos, além de 300 mil pessoas forçadas a sair do País. À época, o Uruguai tinha por volta de 3 milhões de habitantes.

A peça foi dirigida em uma conexão São Paulo-Montevidéu, por Angela e a uruguaia Sandra Massera, que também escreveu o texto original. “Fizemos duas imersões de ensaios, tempos curtos, intensos, concentrados e precisos”, conta a atriz. “Estivemos juntas no início do processo, e, depois, no final, quando o espetáculo estava praticamente definido.”

Sandra desenvolveu o texto a partir de outro escrito seu, chamado “Boneco Sem Rosto”, criado para a convocatória para autores uruguaios e argentinos de textos curtos e monólogos para os 10 anos do Teatro De La Identidad, organizado pelas Abuelas de Plaza de Mayo. A obra tem referência em uma história real, vivida por Sandra durante a adolescência, nos últimos anos da ditadura. “Cadáveres anônimos eram lançados por aviões no Rio da Prata, no Uruguai. Estes voos eram conhecidos como ‘voos da morte’”, conta ela.

Angela revela que não imaginava ser possível poder um dia divulgar o movimento das Abuelas de Plaza de Mayo. “É muito importante falar sobre o sentimento das pessoas que estão vivendo essa dor e que, muitas vezes, é para sempre”, afirma e conta a importância desse tema nos dias de hoje: “[é] uma reflexão e um alerta para que este tipo de violência não volte a acontecer.”

Depois de ser apresentada na Argentina, França e Peru, a peça chega agora à Sala Multiuso do Teatro Arthur Azevedo, de 1º de fevereiro a 1º de março, às sextas e sábados, às 19h.

Por Reinaldo Silva

| Teatro Arthur Azevedo. Av. Paes de Barros, 955, Mooca, Zona Leste | tel. Tel. 2605-8007. De 1/2 a 1/3. Sexta e sábado