Pussy Riot prega a luta pela liberdade em show no Festival Verão Sem Censura

Banda russa traz pela primeira vez ao Brasil o show Riot Days e participa de debate após a exibição de seu documentário

Quase oito anos após a prisão de parte de suas integrantes, quando protestou contra o presidente russo Vladmir Putin com uma “oração punk” no altar da Catedral de Cristo Salvador, em Moscou, o grupo punk Pussy Riot retorna ao Brasil como convidado internacional do Festival Verão Sem Censura. A Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, em defesa da liberdade de expressão e artística, promove show da banda no dia 30, em frente ao Centro Cultural São Paulo (CCSP), com participação de Linn da Quebrada; além da exibição do documentário sobre o grupo, “Act and Punishment”, no dia 29, seguido de debate com as integrantes do próprio CCSP.

O show marca a primeira apresentação do concerto “Riot Days” na América Latina. O espetáculo é inspirado no livro de mesmo nome, escrito por Maria Alyokhyna, uma das três integrantes presas durante a apresentação na Catedral em 2012. A obra fala sobre o período de quase dois anos em que estiveram na prisão e a história de Maria na banda.

Em entrevista por e-mail, respondida em nome de todo o coletivo Pussy Riot, Maria Alyokhyna dá mais detalhes sobre a vida na cadeia. “Eu me senti incrivelmente pressionada para ficar em silêncio”, conta. Apesar de tudo, ela tentou seguir na batalha contra a violação de direitos humanos, focando no ambiente em que estava inserida. “As prisões russas são cópias do Gulag”, denuncia, em referência ao severo sistema de campos de trabalhos forçados da União Soviética (URSS). “Mulheres trabalhando de 12 a 14 horas por dia, quase sem pagamento. É uma escravidão legalizada”. Uma das últimas ações de Alyokhyna foi justamente colocar uma faixa em uma ponte de Moscou com os dizeres “Pare o Gulag” e as fotos de atuais presos políticos. “Mas, mesmo na prisão, os protestos, as amizades verdadeiras e o amor ainda são possíveis.”

Desde que foram presas, a situação na Rússia apenas piorou, com um aumento radical de violações de direitos humanos e políticas reacionárias. “Na verdade, a sentença de dois anos para o Pussy Riot foi, provavelmente, o primeiro caso de punição severa por palavras, discursos ou intervenção artística de protesto”, esclarece Alyokhyna. “Essa é a realidade na Rússia: qualquer um pode receber uma sentença de prisão ou uma punição em dinheiro astronômica apenas por um post, comentário ou um like nas redes sociais.”

Se Putin, o presidente russo, é considerado uma figura autoritária, Alyokhyna vê semelhanças entre ele e os presidentes Donald Trump, dos EUA, e Jair Bolsonaro, do Brasil. “Essa estranha necessidade por um Big Daddy realmente se tornou uma tendência”, ironiza. Esses “grandes papais”, em tradução livre, promovem a ideia populista de “restauração de valores tradicionais”, o que significa, entre outras coisas, militarização, preconceitos, dominação masculina e desrespeito à igualdade de direitos para todos. Alyokhyna, entretanto, encara essas circunstâncias como algo não definitivo, capaz de mudar. “Sim, são tempos difíceis, mas esses existem para que aprendamos a superar medos e dificuldades”, afirma. “Eles nos ensinam a lembrar no que acreditamos e se estamos prontos para lutar.”

A respeito do Brasil, Alyokhyna acredita que o país é um exemplo da fragilidade das conquistas democráticas e dos direitos humanos. Ela dá um conselho para os brasileiros: “A liberdade não existe a menos que você lute todos os dias por ela.”

Por Gabriel Fabri

Serviço: | Centro Cultural São Paulo (CCSP). R. Vergueiro, 1.000, Paraíso. Próximo da estação Vergueiro do metrô. Centro. | tel. 3397-0001 e 3397-0002


Debate e Exibição

Dia 29.
19h Exibição do longa metragem “Act and Punishment” de Yevgeni Mitta sobre a
trajetória do grupo Pussy Riot.
20h30 Debate com as integrantes da banda Pussy Riot – Sala Adoniran Barbosa (distribuição de
ingressos 2h antes)
21h Lançamento do livro “Riot Days” de Maria Alyokhna, fundadora do grupo Pussy Riot. Tradução de Marina Damaros.

Show Riot Days
| Área Externa. Dia 30, 20h.