Monólogo "Rilke" chega à Biblioteca Mário de Andrade

Em meio a um cenário de cartas, espetáculo reúne textos de um dos maiores poetas de língua alemã

Em um mundo cheio de ruídos, um escritor faz do silêncio o elemento essencial para conversar com deuses e anjos. Esta é a premissa do espetáculo Rilke, estrelado por Ivo Müller e dirigido por Arieta Correa. O monólogo ganha três apresentações gratuitas em dezembro, no auditório da Biblioteca Mário de Andrade.

Inspirado em trechos extraídos de poemas, romances e também da vasta obra epistolar (histórias a partir de cartas) de Rainer Maria Rilke, o espetáculo não pretende localizar o poeta no tempo. Decisão que reforça a atualidade de seus textos e de seus pensamentos.

Entre as obras de Rilke que serviram de inspiração para a peça, estão trechos de Os Cadernos de Malte Laurids Brigge, escrito durante o tempo em que o autor viveu em Paris (França); Ewald Tragy, conto autobiográfico sobre sua infância; e O Livro de Horas, com poemas que lembram orações.

“Costumo dizer que Rilke é conselheiro e os seus textos ajudam as pessoas a entrarem num mundo subjetivo”, explica Arieta. A diretora também detalha a decisão minimalista para a construção visual do espetáculo: “O cenário foi criado por pouquíssimos elementos e é basicamente formado por um oceano de cartas, no qual o protagonista se afoga, renasce, se expressa e entra em crise.”

Mergulho poético

Mergulhar emocionalmente na obra de Rilke não é uma tarefa inédita para a carreira de Müller. “Entre 2010 e 2013, me apresentei com Cartas a um Jovem Poeta. Agora, oito anos depois, o escritor voltou a me perseguir. Veio então o novo espetáculo, dessa vez com o nome dele.”

Para o ator, “Rilke nos faz lembrar que somos seres humanos. É como um poeta sacerdote que vem abrir caminhos para que possamos compreender o mundo ao nosso redor e o que está por vir. Foi assim durante o tempo em que viveu, e o que deixou escrito é tão universal que será atual em qualquer momento da história.”

Apesar de toda a profundidade e o caráter atemporal das obras do escritor, Müller acredita que ele é menos conhecido do que deveria por aqui. “Mais importante que ele na língua alemã, só Goethe. No Brasil, as Cartas a um Jovem Poeta se tornaram populares talvez pelo seu conteúdo mais acessível. Espero que nossa insistência em levar Rilke para os palcos faça com que mais gente leia as obras do poeta por aqui.”

Quem foi Rilke?

Rainer Maria Rilke nasceu em Praga (República Tcheca) em 1875, época em que a cidade fazia parte do império austro-húngaro. Considerado um dos grandes poetas de língua alemã do século XX, estudou Literatura e História da Arte nas Universidades de Praga, Berlim e Munique e, em 1894, publicou seus primeiros poemas de amor na obra Vida e Canções.

Durante a Primeira Guerra Mundial, o autor morou em Munique (Alemanha) e por lá começou a escrever Elegias de Duíno, publicado apenas em 1923. Após o conflito, Rilke mudou-se para a Suíça, onde permaneceu até a sua morte em 1926.

O livro Cartas a um Jovem Poeta, publicado postumamente em 1929, é a obra mais famosa do escritor e reúne dez cartas que Rilke trocou, entre fevereiro de 1904 e dezembro de 1908, com um jovem admirador conhecido como “senhor Kappus”.

Por Cristiano Filiciano

Apresentações:
Biblioteca Mário de Andrade – Auditório. 60 min. 12 anos. Dias 3, 8 e 10, 19h. Grátis (retirar ingresso a partir das 18h)