Ópera cômica de Strauss é encenada no Theatro Municipal

"O Cavaleiro da Rosa" estreia no dia 15 de junho

Conhecida como Marechala, a princesa de Viena tem um caso extraconjugal com um jovem nobre, Octavian. Para não serem pegos em flagrante pelo Barão Ochs, primo dela, o amante se esconde no guarda-roupa do quarto onde se encontram e, de lá, sai vestido como “Mariandel”, criada da princesa. Surpreso, o Barão propõe à “moça” que leve uma rosa para a mulher que ele ama, Sophie, pedindo-a em casamento. Mas Octavian e Sophie se apaixonam à primeira vista.

Essa é a premissa de O Cavaleiro da Rosa, ópera de Richard Strauss que estreia dia 15 no Theatro Municipal. A direção cênica é de Pablo Maritano, com acompanhamento da Orquestra Sinfônica Municipal, sob a regência do maestro Roberto Minczuk. Nesta montagem, a ação é ambientada em 1911, época da estreia da obra, retratando o fim da belle époque antes da I Guerra Mundial.

Um século depois

Maritano conta que a ação foi transposta do século XVIII para o início do XIX, pois a ópera fala, de maneira nostálgica, sobre um mundo que está desaparecendo. “O uso das valsas traz esse caráter melancólico, de uma realidade que estava sumindo e já tinha data para acabar”, explica o diretor. Na história, essas músicas também têm um caráter dramatúrgico. “Sempre que há uma valsa, alguém está sendo enganado”, revela.

Já Minczuk explica que as valsas eram algo bem contemporâneo àquele momento. “Strauss fez uma coisa muito original, pois a ópera se passava no século XVIII, na época de Mozart, mas a valsa só se tornaria símbolo de Viena um século depois”, explica. A montagem, portanto, transpôs a ação para o período em que esse gênero estava no auge. “A valsa de Viena é muito sofisticada, trata-se de uma música leve e perfeita para esse enredo”, completa o maestro.

O autor do libreto, Hugo von Hofmannsthal, já tinha trabalhado com Strauss em outra ópera, Electra (1909). Em O Cavaleiro da Rosa, se as valsas fazem parte do enredo, as palavras também são de suma importância – boa parte do humor da obra vem delas. “Cada palavra tem um sabor bem particular, mas muita coisa não está falada”, conta Maritano. “Os personagens pensam de um jeito, mas falam de outro”. A partir dessa reflexão, o diretor sintetiza a sua visão sobre o espetáculo: “É a ópera das coisas que não são faladas.”

Francesconi: Octavian ou Mariandel?

A provável fonte de inspiração para a criação de um homem travestido é a ópera As Bodas de Fígaro (1786), de Wolfgang Amadeus Mozart. Na história, cabe ao pajem Cherubino fingir-se de mulher.

Em O Cavaleiro da Rosa, quem interpreta o jovem Octavian é a mezzo-soprano Luisa Francesconi. A escolha de uma solista para o papel faz parte da tradição desta ópera, que já estreou com uma mulher no papel. “A partir do romantismo, no início do século XIX, papéis masculinos foram designados para mulheres com o intuito de mostrar a juventude do personagem, apresentando uma voz mais aguda”, explica a cantora.

Essa é a nona vez que Francesconi interpreta um papel masculino, dentre eles Cherubino. “Acho fascinante construir esse tipo de personagem, corporal e psicologicamente”, afirma. “Eu acabo me sentido poderosa, com um corpo mais livre”. O desafio está em transmitir uma masculinidade sem cair no exagero ou no caricato. “Essa masculinidade vem de estereótipos da sociedade, como sentar com a perna mais aberta ou não quebrar muito as gesticulações com o pulso”, conta a solista. “São diversos detalhes corporais que ajudam a construir esse homem.”

Entre vários momentos da ópera, Luisa destaca o trio final, no qual ela canta com as outras duas solistas principais: Carla Filipcic Holm (Marechala) e Elena Gorshunova (Sophie). “Strauss se superou nesse trio, é uma música muito bonita”, afirma. O maestro concorda com ela: “É o sonho de todas as cantoras de ópera fazer um desses três papéis, tamanha a beleza dessa música. É arrebatadora”, conclui Minczuk.

Por Gabriel Fabri

 

| Theatro Municipal de São Paulo. Dias 15, 19, 21, 23, 25, 20h. Dia 17, 18h. R$ 40 a R$ 150