São Paulo investe em novo pólo cultural

Por Luiz Quesada

Vila Itororó será recuperada para abrigar um centro dinâmico de atividades

Construída na década de 1920 no bairro da Bela Vista pelo imigrante português Francisco de Castro, ex-gerente de uma fábrica de tecidos em Americana, interior de São Paulo, a Vila Itororó tem características que a diferenciavam do urbanismo que existia na cidade na época. Por ser também um mestre de obras com uma imaginação maior do que os padrões estéticos vigentes, Castro utilizou os mais diferenciados materiais que adquirira nas demolições de construções antigas, inclusive do extinto Teatro São José, palco das temporadas líricas paulistanas antes da inauguração do Theatro Municipal, em 1911. Dessa forma, em meio a uma série de surpresas decorativas, encontram-se carrancas femininas, esculturas de animais, colunas gregas e outros elementos de adorno, que dão ao local um aspecto cenográfico.

A Vila constitui-se de 37 casas distribuídas na encosta do Vale do Itororó, com forte inspiração nas pequenas cidades mediterrâneas e em bairros europeus como o da Alfama, em Portugal.Castro era também um visionário. Aproveitando a água vinda de uma nascente, construiu a primeira piscina em propriedade particular da cidade de São Paulo, justamente no casarão que serviria como sua residência. Mais tarde, essa novidade transformou-se em equipamento de lazer para a vizinhança.


Parcerias

A iniciativa da Prefeitura, por meio da Secretaria de Cultura, com a participação integrada das Secretarias de Planejamento (Sempla), Habitação e Desenvolvimento Urbano (Sehab) e Empresa Municipal de Urbanização (Emurb), além da colaboração da Secretaria dos Negócios Jurídicos (SNJ) e da SP Turismo, prevê a implantação de obras e serviços de recuperação com a participação da iniciativa privada. O projeto foi elaborado pelos arquitetos Décio Tozzi e Benedito Lima de Toledo, com base em uma proposta de 1974, mas que ficara apenas no papel. Nesta nova fase, há a colaboração do também arquiteto José Eduardo de Assis Lefèvre, do Departamento do Patrimônio Histórico. Para que haja um suporte necessário para as intervenções planejadas, foi assinado no dia 23 de janeiro, o decreto de utilidade pública. Isto, porém, não significa que todas as áreas e imóveis da quadra serão desapropriados, mas somente aqueles que interferirem no projeto urbanístico.

Mais cultura

O conjunto arquitetônico, tombado pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), possui um grande potencial para atividades culturais, educacionais e de lazer, com conseqüências imediatas no turismo da cidade.
Depois da recuperação, a Vila Itororó poderá ser utilizada para sediar oficinas artísticas, de moda, apresentações de teatro de rua, cinema ao ar livre (idéia original do mais uma vez visionário, Francisco de Castro), galerias de arte, pequenas editoras, sebos, escolas integradas à proposta do espaço, restaurantes típicos, entre outras. Uma das idéias é criar a Casa Flávio Império em uma das residências tombadas, que deverá abrigar acervo e documentação do arquiteto e artista plástico, antigo morador do local.  
Não se pretende transformar a área em um novo museu ao ar livre ou centro cultural, mas em um conjunto dinâmico de atividades com condições de se auto-sustentarem, sem vinculação exclusiva com o poder público

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