Em 1942,
Albert Camus, filósofo e escritor franco-argelino, lançou “O
Estrangeiro”. O livro, traduzido em diversos idiomas, trouxe uma
contribuição fundamental à filosofia, completando o Ciclo do Absurdo.
Ganhou uma versão cinematográfica em 1967, dirigida por Luchino
Visconti, e inspirou os irmãos Coen ao produzirem o filme “O Homem que
Não Estava Lá”. No dia 10, o texto chega aos palcos do Teatro Cacilda
Becker em um monólogo.
“O Estrangeiro” conta a história de
Mersault, indivíduo normal que leva uma vida sem grandes emoções e
encara as situações cotidianas com indiferença. Até o dia em que comete
um assassinato e se vê em uma situação conflituosa ao longo do
julgamento.
O trabalho começou em 2007, quando o professor e
ator dinamarquês Morten Kirkskov sugeriu que o ator Guilherme Leme
montasse a peça no Brasil. “Li a adaptação dele e fiquei encantado
(...), trabalhei durante dois anos fazendo leituras dramatizadas no Rio,
em Brasília e em São Paulo”, conta. Assim foi nascendo a ideia da
concepção para o palco. “Seria uma pessoa, um ator contando uma
história, e quando a Vera Holtz entrou para me dirigir, gostou muito
dessa proposta e foi ainda mais radical, sugerindo algo minimalista”,
completa.
Qualquer gesto poderia ser encarado como um excesso, já
que a essência estava na palavra de Camus. A função de Leme seria
apenas contar essa história. Uma das maiores dificuldades do ator foi
extrair a emoção do personagem. “Sou uma pessoa muito forte,
principalmente em termos físicos no teatro. Eu uso muito o corpo, sou
muito dinâmico no palco”, explica. Ele precisou trabalhar esse lado para
apresentar uma pessoa sem emoções, que se guia pelas sensações, pois
Mersault não é um ser humano verdadeiro, é um mito, uma ficção.
Leme
contracena com a iluminação. “Quando convidei o Maneco Quinderé, falei:
‘você não vai fazer a luz, vai interpretar o Sol’. E assim foi feito,
com grande maestria, por sinal”. A estrela entra na história como uma
protagonista, que permeia toda a angústia do personagem.
Embora
seja uma versão condensada do livro, o monólogo reflete da mesma forma a
complexidade do ser humano e sua dificuldade para se adequar à
sociedade.
Teatro Cacilda Becker recebe adaptação de 'O Estrangeiro'
Solo teatral é protagonizado pelo ator Guilherme Leme, com direção de Vera Holtz
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