Shopping ao lado do Oficina pode ser embargado

Fonte: O Estado de S. Paulo

Obra retomada após 8 anos vai parar de novo caso o Iphan aprove tombamento do entorno

Sérgio Duran

O projeto do shopping do Grupo Silvio Santos na Rua Jaceguai, ao lado do Teatro Oficina, no centro, poderá ser embargado. Após oito anos paralisada, a obra foi autorizada no início do mês pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico (Conpresp). Mas o grupo não contava com a possibilidade de o entorno do teatro ser tombado - dessa vez, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Segundo o presidente do instituto, Luiz Fernando de Almeida, o processo do Oficina foi aberto em 2003 e está em fase final de instruções. “Eu ainda não sei qual será o recorte desse tombamento. Meu único pedido é que o processo termine o mais rápido possível”

O estudo é conduzido pelo escritório carioca do Iphan, que se encarregou de ouvir o diretor do Oficina, José Celso Martinez Corrêa. Esse é o último procedimento antes de enviar a documentação para Brasília, onde o tombamento é decidido.

O Oficina é tombado pelo Conpresp e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). Em ambos os casos, toda obra no limite de 300 metros de distância de prédio tombado está sujeita à análise prévia dos conselhos, para verificar se não há interferência. Ambos aprovaram o shopping.

Zé Celso reclama que não foi ouvido pelo arquiteto autor do projeto do centro de compras, Marcelo Ferraz, discípulo de Lina Bo Bardi - que criou o prédio do Oficina em parceria com Edson Elito. Além disso, o diretor afirma que a nova edificação guardará recuo de 7 metros da divisa do teatro, impedindo a entrada de luz natural pela janela lateral à construção, de onde sai uma árvore de pau-brasil. “Hoje a gente faz (o espetáculo) O Homem II com a luz do sol. É uma revolução na arquitetura teatral”, diz Zé Celso. “Acabar com isso é um atentado. Está acontecendo uma injustiça com o Oficina. Nunca fomos consultados pelo Conpresp para opinar sobre as restrições ao projeto do shopping, muito menos pelo arquiteto, apesar da receptividade do Silvio Santos quando conversamos com ele.”

Procurado pelo Estado, Ferraz não quis responder às acusações de Zé Celso. “Na verdade, eu não tenho nada a dizer. O projeto fala por si. Temos a convicção de que é o melhor para a cidade”, afirma o arquiteto.

Além dos inconvenientes apontados pelo diretor, o shopping seria a pá de cal que faltava ao projeto do Teatro de Estádio desenhado por Lina e Elito, em 1984, e repensado por Paulo Mendes da Rocha, em 1991. O estádio seria construído atrás do Oficina, na saída para a Rua Abolição. Embaixo do viaduto paralelo à Jaceguai, onde hoje funciona um sacolão, foi previsto um espaço para oficinas culturais, transformando o atual Oficina numa espécie de ligação entre os extremos - na concepção original de Lina, batizada de Teatro de Passagem.

Além de apostar no tombamento pelo Iphan, Zé Celso estuda uma medida judicial. “Esse shopping vai massacrar a gente, vão repetir Canudos conosco, que fazemos Os Sertões. Então vamos resistir”, promete.