O desafio das bibliotecas há alguns anos, e mais fortemente no século xxi, é corresponder às expectativas e às manifestações da sociedade. No intuito de ajudar a Biblioteca Mário de Andrade a atingir esse objetivo, em dezembro de 2009 foi aprovada a Lei 15.052. Com ela, a biblioteca passa a contar com uma Supervisão de Ação Cultural que tem a responsabilidade de oferecer ao público, de forma ampla e gratuita, uma programação diversa em natureza.
Pensando nisso, firmamos uma parceria com o Clube do Mecenas para criar o projeto Teatro na Mário. Os produtores do Clube nos ajudaram a selecionar catorze espetáculos que representam diferentes linguagens e oferecem um panorama da produção atual. As apresentações serão quinzenais, sempre às segundas-feiras às 19h; a periodicidade tem o objetivo de criar um público regular e firmar o auditório da biblioteca no calendário teatral da cidade.
O programa abriu com a peça Myrna sou eu, com Nilton Bicudo. Elias Andreatto adaptou as crônicas de Nelson Rodrigues para o jornal Diário da Noite, as quais assinava como a conselheira sentimental Myrna. Além de contar com espetáculos premiados e artistas aclamados pelo público, como Juliana Galdino, Georgette Fadel, Lulu Pavarin, Gero Camilo, Renato Andrade, entre outros, traremos duas companhias espanholas, a Sphota!Teatro e a Drume, Teatro e duas estreias: a peça Eu também, de Lucas Lassen, e a estreia mundial do novo espetáculo da companhia franco-brasileira Plataform 88.
Confira aqui a programação.
16 de junho – A procissão
A peça é o monólogo de Zé, um contador de histórias que participa de uma romaria. Entre velas e lampiões, com serenidade ele fala sobre a sobrevivência, a fé e a busca do ser humano. De cenário simples, a peça destaca-se pela poesia e pelo humor, embalados ao som de viola e percussão, instrumentos típicos nessas andanças. O texto e a direção são do ator Gero Camilo, que tem trabalhos premiados no teatro e cinema. Participam os músicos Eugênio La Sálvia e Zé Modesto.
30 de junho – Como ser uma pessoa pior
A atriz Lulu Pavarin interpreta a personagem Amabile, mulher de meia idade que, após diversos relacionamentos destrutivos, resolve permanecer em seu apartamento solitária, somente na companhia de uma samambaia e de uma garrafa de uísque.
Ficha Técnica
Direção: Mário Bortolotto
Texto: Germano Melo e Michelle Ferreira
Argumento: Lulu Pavarin
Codireção: Germano Melo
Cenário: André Cortez
Figurino: Paulo Valéria Andrade e Lulu Pavarin
Iluminação: Marcus Cardeliquio
Sonoplastia: Fernando Martinez e Rafael Burgos
Cenotécnico: Ivan Fagundes
Produção executiva: Dani Dezan e Lulu Pavarin
14 de julho – O beijo do homem
“Qual a forma de consentimento necessária para um beijo?”; “A cidade é suporte para o corpo?”; “Como lidar com desejos que estão prestes a ser demolidos?”. Essas são as questões que guiam a encenação do Núcleo C.U.L.T. O coletivo une artistas de representação e dramaturgia em torno da pesquisa e do desenvolvimento de novas linguagens teatrais. O texto da peça, indicado ao Prêmio Aplauso Brasil de Teatro 2013 na categoria Dramaturgia, é inédito e tem como inspiração as reflexões dos teóricos Zygmunt Bauman e Roland Barthes e as obras de Clarice Lispector, Pablo Neruda e Jorge Luis Borges. Nele, são tratados temas como perda, amor e desejo por meio da ação de personagens envolvidos em tramas tipicamente urbanas e contemporâneas (trânsito, violência, lutas de poder, vaidades).
Ficha técnica:
Dramaturgia e direção: Ed Anderson
Elenco: Marcelo Barranco, Marcos Valentim e Valéria Pedrassoli
Cenário e figurino: Wagner de Miranda
Iluminação: Lisa Medeiros e Tatiana Bueno
28 de julho – Entrevista com Stela do Patrocínio
Stela do Patrocínio, nascida em 1941, foi abandonada pela família em colônia psiquiátrica, onde passou trinta anos, até morrer, em 1997. Nos anos 1980, impressionou com sua fala poética a artista plástica Neli Gutmacher quando esta montou um ateliê na clínica Juliano Moreira, onde Stela ficou internada. A artista e suas estagiárias gravaram algumas dessas falas que, quinze anos depois, foram transcritas, organizadas e reunidas pela escritora Viviane Mosé no livro Reino dos bichos e dos animais é meu nome. A obra foi finalista do prêmio Jabuti de 2005, ganhou música pelo compositor Lincoln Antonio e foi encenada por Georgette Fadel, que ganhou o Prêmio Shell 2007 de melhor atriz.
Ficha técnica
Direção: Georgette Fadel e Lincoln Antonio
Música: Lincoln Antonio
Elenco: Georgette Fadel e Juliana Amaral
Piano: Lincoln Antonio
11 de agosto – Eu também
Em sua primeira obra para teatro, Lucas Lassen descreve um mundo fragmentado e acelerado. Nele, duas pessoas buscam se entender em meio a desejos individuais e acontecimentos cotidianos. O autor brinca com espaço, tempo e gênero buscando quebrar convenções. Construído como fluxo contínuo, o texto não especifica o cenário nem delimita o tempo em que a conversa entre os protagonistas ocorre. Além disso, os diálogos são construídos de maneira que não seja possível identificar o gênero dos personagens. A plateia será levada pela dramaturgia a interpretar e a resolver essas questões.
Ficha técnica
Direção: Fábio Ock
Elenco: Pedro de Alcântara Neto, Giovana Dorna, Marco Klein e Solange Cruz.
25 de agosto – Salamaleque
Dirigida por Denise Weinberg e Kiko Marques, a atriz Valéria Arbex encarna a neta de sírios Elizete. Em cena, ela narra histórias de seus avós e bisavós enquanto prepara quitutes da culinária árabe. A ideia é trazer à tona aspectos de memória afetiva e oralidade, e desmistificar alguns estereótipos contemporâneos sobre o mundo árabe. Ao final da peça, o público é convidado a desfrutar a ceia preparada durante a encenação.
Ficha técnica
Direção: Denise Weinberg e Kiko Marques
Texto: Alejandra Sampaio e Kiko Marques
Atriz: Valéria Arbex
Cenografia e figurinos: Chris Aizner
Consultoria gastronômica: Graziela Tavares
Trilha sonora original: Sami Bordokan
Iluminação: Guilherme Bonfanti
Fotos: Lenise Pinheiro
Cenotécnico: Mateus Fiorentino
Contramestre: Judite de Lima
8 de setembro – www para Freedom
Monólogo criado, dirigido e encenado por Ésio Magalhães, www para Freedom ironiza o uso da guerra para a conquista da liberdade. Soa familiar? Não é à toa. Para Ésio, a ideia de liberdade em que se fia a sociedade contemporânea, paradoxalmente, aprisiona. Na peça, o soldado Zabobrim recebe a missão de bombardear um local fictício a fim de libertar a população de um terrível ditador. Entretanto, no meio do caminho, o soldado se questiona: “de que liberdade estamos falando?”; “livrar-se de quem? De quê?; “é preciso a guerra para estar-se em paz?”.
Ficha técnica
Direção, atuação e concepção: Ésio Magalhães
Dramaturgia: Ésio Magalhães e Tiche Vianna
Produção: Barracão Teatro
15 de setembro – Estreia de espetáculo inédito da companhia Plataform 88
Plataform 88 é uma companhia franco-brasileira de teatro físico fundada em 2008 e dirigida por Janaína Tupan e Sébastien Loesener. Já se apresentaram em diversos países – Inglaterra, Espanha, Escócia, França e Brasil –, sempre com grande sucesso de público e crítica. O grupo também é responsável pela codireção artística do festival Mimesis – Plateau de la Créativité des Arts du Mime e du Geste, evento que reúne artistas e companhias ligadas ao teatro corporal.
Na bma, irão estrear um novo espetáculo.
06 de outubro – Quando a gente se bastava
Um das grandes apostas da nova dramaturgia nacional, Renato de Andrade estreou no teatro em 2008, com a comédia Retratos & canções. Este ano, lançou Quando a gente se bastava, peça que aborda as tensões existentes entre desejos e incertezas. O texto não é linear e mescla memória e tempo presente, seguindo o fluxo das lembranças dos protagonistas. A plateia acompanha o desenrolar da relação entre três personagens e desembaralha a trama de maneira independente e individual, de modo que cada espectador tira suas próprias conclusões.
Ficha técnica
Texto e direção: Renato Andrade
Elenco: Tatiana Ribeiro, João Carlos Mattos e Yheuriet Kalil
Cenografia e iluminação: Cristiano Panzani
Figurinos: Ricardo Antunes
13 de outubro – Comunicação a uma academia
A peça é baseada no conto Um relatório para a academia, de Franz Kafka, publicado em 1917. A história é o relato do macaco Peter, que se comporta como homem, à Academia (mais uma daquelas instituições kafkanias que ganham entidade fantasmagórica). Nele, Peter conta como se deu seu processo de humanização. No monólogo, é a atriz Juliana Galdino que interpreta Peter, papel que lhe rendeu indicação ao Prêmio Shell 2009 de melhor atriz.
Ficha técnica
Texto: Franz Kafka
Direção e tradução: Roberto Alvim
Elenco: Juliana Galdino e José Geraldo Jr.
Cenário e figurinos: Roberto Alvim
Iluminação e trilha sonora: Roberto Alvim
Fotografia: Julieta Bacchini
Realização: Club Noir
03 de novembro – Drume, Negrita
A companhia de teatro espanhola Drume Teatro traz ao Brasil o espetáculo Drume, Negrita. Lourditas, a protagonista, é uma menina cubana cuja família se vê obrigada a se exilar nos Estados Unidos. Lá, Lourditas cresce sonhando em ser uma grande estrela da Broadway, mas acabará mesmo indo parar na Espanha. Nesse trajeto, a personagem terá de se adaptar a novas culturas, sofrerá perdas e acabará chegando à conclusão de que, apesar de tudo, a vida pode ser brutalmente bela.
Ficha técnica
Direção: Pablo Boutou
Dramaturgia: Pablo Boutou e Sofia Cruz
Atriz: Sofia Cruz
Iluminação: Carlos Barahona
Colaboração de movimento: Adán Coronado
Figurinos: Ana Montes
17 de novembro – Negra es la noche que llega
A peça é inspirada no manuscrito inacabado de Antonin Artaud Já não há mais firmamento. O texto, apesar de inacabado, contém todos os ingredientes do teatro da crueldade. Com o espetáculo, o objetivo da companhia espanhola Sphota!Teatro! é falar de um mundo absurdo, encarar que, talvez, a verdade seja essa ausência mesmo de sentido e, a partir daí, aceitar a encruzilhada que é a vida humana.
Ficha técnica
Atores: Manuela Morales, Fernando Gervasi e Laura Salido
Texto: Lola Fernández de Sevilla
Cenografia: Jacobo García
Direção: Bárbara Risso