Exposição: O circo modernista de Jorge de Lima

No centenário da Semana de 22, mostra revela fotomontagens raras do autor de "Invenção de Orfeu" (1952)

Na quinta do dia 12 de maio estreia na Mário a exposição “O circo modernista de Jorge de Lima: a poesia visual de ‘A pintura em pânico’”, com curadoria de Simone Rodrigues. Conhecido sobretudo pela obra poética, o escritor também criou as fotomontagens reunidas na mostra, algumas delas já presentes no livro “A pintura em pânico”, lançado em 1943 em edição de 250 exemplares e jamais reeditado. No dia 8 de junho, como complemento à exposição, Simone Rodrigues participa de um bate-papo sobre essa faceta artística de Jorge de Lima com o professor da USP e crítico literário Fábio de Souza Andrade, especialista no autor.

Jorge de Lima é o escritor fascinante e desafiador por trás de clássicos como “Poemas Negros” (1947) e “Invenção de Orfeu” (1952), tido com justiça como um dos maiores poemas da língua portuguesa. Em sua escrita, uniu o regional ao universal, o popular ao erudito e o clássico ao moderno, sempre buscando novos modos de se expressar.

O que poucos sabem, entretanto, é que essa busca por renovação fez com que ele trabalhasse com outras artes, sendo um pioneiro da fotografia artística no país. Ao longo dos anos 1930 e 1940, o autor realizou diversas fotomontagens, publicadas em veículos como as revistas “O Cruzeiro”, com repercussão muitas vezes negativa. Algumas dessas obras dariam origem, em 1943, ao livro “A pintura em pânico” (1943), apresentada pelo poeta Murilo Mendes, seu amigo e interlocutor.

Nas imagens recuperadas pela exposição “O circo modernista de Jorge de Lima”, observamos o poeta se valer de fotografias e ilustrações colhidas em jornais, revistas e material publicitário para criar composições que Simone Rodrigues situa “entre o absurdo e o verossímil”. Compartilhando uma atmosfera surrealista presente também em alguns poemas de Jorge de Lima, as fotomontagens são bastante influenciadas pelo trabalho do pintor e escritor Max Ernst (1891-1976), cujo romance em colagens “A mulher 100 cabeças” (1929) marcou profundamente o autor.

A redescoberta das imagens desse imenso poeta no centenário da Semana de Arte Moderna tem um sentido especial. Para além de reavivar o universo criativo de um autor modernista bem menos conhecido pelo público, a exposição traz a arte da fotografia ao primeiro plano, esta que foi, como o cinema, uma forma artística deixada de lado pela vanguarda de 22. Entretanto, as imagens também encontram o caminho de volta para o poético, afinal, como certa vez assinalou o próprio Jorge de Lima, “todas as artes são apenas veículos para a poesia”.