Exposição- Fósseis contemporâneos

A partir do dia 20 de fevereiro às 19h

Estreou no dia 20 de fevereiro a exposição "Fósseis Contemporâneos - Nossa fragilidade camuflada", de Miguel Anselmo.

A exposição compreende 17 telas, que misturam bordado e pintura a óleo, e mais uma instalação, formada por uma coluna vertebral de resina plástica e PVC sobre uma cama de azulejos quebrados. As obras foram produzidas entre 2014 e 2018.

Sobre a exposição: Fósseis contemporâneos é uma série de obras que propõe a articulação e o diálogo de tensão a partir de temas perturbadores de nossa contemporaneidade: aparência e ilusão, o tempo em seu transcorrer incontornável, a fragilidade humana. Para retratar esse universo temático, o artista opta por duas técnicas: o bordado sobre tela e a pintura a óleo.

O trabalho, utilizando os emaranhados com fios de algodão, remete a um passado ancestral, a uma prática de simplicidade e universalidade, cuja função utilitária passou com o tempo a adquirir características decorativas e artísticas, detendo assim refinamento e reconhecimento em manifestações diversas e riquíssimas. O fio de algodão do bordado pode ser visto também como fio da meada, possibilidade narrativa que se insere sub-repticiamente, que se incumbe de nos lembrar de nossa fragilidade orgânica e psíquica, de nossa própria condição humana. Miguel Anselmo toma por motivos de seus bordados ossos humanos, fragmentos que remetem não somente à unidade do esqueleto, mas também a uma esfera invisível e unificadora entre todas as diferenças possíveis entre os seres humanos – sejam culturais, indenitárias, socioeconômicas. Sob a pele, ainda e sempre os ossos – sob a mesma estruturação tão funcional e harmônica, resultado de uma criação superior de perfeição.

A perfeição criada por sua vez pelo homem só pode ser ilusão e assim, o que nas obras de Miguel Anselmo recobre os bordados, os fragmentos e ossos, são pinturas com técnica ilusionista, que exige enorme rigor e apuro técnico. Nesse plano mais externo de aparência e simulação de realidade, figuram revestimentos de ambientes de convívio: madeiras, papéis de parede, murais e azulejos. Peles inorgânicas, essas epidermes sociais também são capazes de narrar, revelar os efeitos do uso e da temporalidade, seus desgastes e feridas que podem ser simbólicas de outras, das humanas.

Artista de inquietude, Miguel Anselmo nos propõe, a partir dessa conjunção de técnicas, uma necessária reflexão sobre o conflito entre opacidade e transparência, aparência e ilusão, duração e efemeridade - em uma contemporaneidade marcada pela superficial superexposição de tudo e todos, pelo imediatismo de consumo que não envolve somente produtos, mas também pessoas, relações. Em uma síntese de singularidade e potência significativa, Fósseis contemporâneos nos instiga e convida para um mergulho para muito além do óbvio, da primeira vista: Miguel Anselmo, com ousadia, nos toma em desafio.

Eda Nagayama

Sobre o artista: As séries de Miguel Anselmo têm como principal força motriz a fragilidade e a efemeridade do ser, e buscam exteriorizar a profunda vulnerabilidade do homem à mercê da ação do tempo. Assim, como uma espécie de raio-x da essência de vidro que configura o ser humano e todos os seres viventes, suas séries Fósseis contemporâneos e De todo coração conduzem o espectador a uma indagação controversa, que busca ampliar a esfera das relações simbólicas: elas retiram a objetividade dos elementos e as deslocam a outro terreno, delicado e questionador, que evoca conceitos amplos como vida e morte. Outros valores igualmente essenciais perfazem a iconografia do artista: a liberdade ou a ausência dela, retratada em Pardais; a necessidade do autoconhecimento e do reconhecimento do outro no estabelecimento das relações afetivas, explorada em Uns; o sexo como fonte vital de perpetuação, explicitado em Rubor e Cruising.

​Local: Sala do terraço, 3º andar

Horário de visitação: 8h às 19h