PREFEITURA DE SÃO PAULO

Indicações da equipe- Resenhas de Novembro

22/11/2018 11h19

 #Márioindica Laika, de Nick Abadzis

Livro sobre prateleira cinza, ao fundo, janela onde aparecem partes tronco e folhas de uma árvore. Capa com ilustração de céu azul estrelado, foguete preto decolando ao fundo, cachorro, sobre a neve, na cor branca com manchas marrons e roupa cinza azulada. Título em vermelho no canto direito, com o nome do autor em azul claro.

 

 

 

 

 

“Não há fogo no inferno.
O inferno é onde a esperança morre congelada.
Nunca falei daquele lugar por medo que ele me seguisse.
Ele me persegue. Você entende?
Como poderia? Você é uma cadela.
Mas, mesmo assim, você se manifestou – no momento crucial. Por quê?
Destino, talvez?
Não sei o que me manteve vivo naquele inferno. Tentei acreditar no destino…
E acabei sendo trazido de volta para Moscou. Eles perceberam que eu poderia ser útil.
Eu estava faminto quando saí do gulag. Fazia cinquenta graus abaixo de zero. Eu delirava; foi como se um anjo iluminasse meu caminho…
Percebi que morreria em muito pouco tempo.
Sabe o que me salvou?
Eu ouvi o latido de um cão.”
(ABADZIS, 2017, p. 130)

A história de Laika ou Kudriávka (rabinho enrolado), uma vira-lata que tornou-se símbolo da corrida espacial na Guerra Fria. Com traço preciso e falas afiadíssimas, o autor discute o patriotismo russo, crueldade contra os animais, avanços tecnológicos e laços afetivos entre humanos e animais, sempre colocando em pauta como foi o tratamento da cadelinha e como foram os estudos posteriores à ida de Laika ao espaço a bordo da Sputinik II. Um quadrinho histórico emocionante, que faz com que o leitor perceba que nem tudo é justificável para alcançar um objetivo, mesmo que seja para a evolução tecnológica.

#Márioindica O último dia de um condenado, de Victor Hugo

 #PraCegoVer: Livro sobre superfície de madeira, ao fundo, estante com livros. Capa totalmente preta, com o nome do autor na parte superior em letras na cor branca. O título está logo abaixo, em vermelho. No centro da capa há uma ilustração de um rosto com feições de um homem com barba e bigode, expressão triste, em cores branca e preta.

 

 

 

 

 

“[…] E nesse registro por escrito do pensamento agonizante, nessa progressão sempre crescente de dores, nessa espécie de autópsia intelectual de um condenado, não haverá mais de uma lição para os que condenam? Será que essa leitura não lhes deixará a mão menos ligeira quando, numa próxima vez, tratar-se de lançar uma cabeça que pensa, uma cabeça de homem, no que eles chamam de balança da justiça? Será que alguma vez refletiram, esses infelizes, sobre a lenta sucessão de torturas que a fórmula expeditiva de uma sentença de morte encerra? Alguma vez se detiveram na ideia pungente de que, no homem que eliminam, há uma inteligência, uma inteligência que contava com a vida, uma alma que nunca se dispôs para a morte? Não. Eles veem, em tudo isso, apenas a queda vertical de um cutelo triangular, e certamente pensam que, para o condenado, nada existe antes, nada existe depois.” (HUGO, 2017, p. 17)

Como é a sensação de um prisioneiro condenado à morte? Um condenado narra essa sensação em um diário curto, mas intenso, mostrando as nuances do estado físico e psicológico a cada dia que se aproxima de enfrentar a tão temida guilhotina. Como os guardas, juízes e populares estão lidando com um ato tão cruel? Nesse livro de apenas 96 páginas, Victor Hugo, de forma brilhante, mostra sua faceta mais política, fazendo um manifesto contra a pena de morte, que vigorava na França no ano de 1829. Narrado em primeira pessoa, sem que o leitor saiba o nome do condenado, apenas seus sentimentos, a novela é uma grande apologia aos direitos humanos, dos quais o autor era ativista. É uma ótima pedida pra quem nunca leu Victor Hugo e uma obra importantíssima da literatura mundial.