Dicas de Leitura - Pandemias

No passado algumas epidemias foram tão intensas que quase chegaram a aniquilar cidades inteiras: as Pestes Negra, do Egito, Antonina, Cipriano e Justiniano são alguns exemplos de epidemias de febre tifóide, varíola, sarampo e bubônica. As pandemias de tifo, cólera e de gripes, como a asiática, espanhola, suína e agora o coronavírus são preocupações para toda a humanidade, e muitas são relatadas na literatura.

Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou o surto de COVID-19 (coronavirus) como uma pandemia, ou seja, uma epidemia de doença infecciosa que se espalha entre a população de uma grande região geográfica como um continente ou mesmo o Planeta Terra. Vivendo nesta nova realidade, enfatizamos a importância da prevenção de doenças, seja com hábitos de higiene, vacinas e outras políticas públicas de saúde, sanitária e também pelas experiências passadas. Procuramos trazer para as Dicas de Leitura de março livros conhecidos pelo tema ou pelas épocas de sérias epidemias. De obras clássicas a publicações recentes, fatos reais e fictícios, os autores apresentam suas visões para que os leitores interpretem e absorvam suas histórias.

Lisboa não tem beijos nem abraços
          Não tem risadas ou terraços.
                    E nem passagens
                              Ou apertos de mão entre garotas e garotos
                                        Tem praças cheias de ninguém.
                                                  Ainda tem sol, mas não tem.
                                                            Não a gaivota da Amália nem vela nenhuma
                                                                      não restaurantes ou bares nem cinema
                                                                                Ainda é fado é poesia ainda
                                                                                          Fechada dentro de si mesma é Lisboa ainda
                                                                                                    cidade aberta
                                                                                                              Ainda a Lisboa de Pessoa alegre e triste.
                                                                                                                       Que em todas as ruas desertas
                                                                                                                                  Ainda resiste.

Lisboa ainda - Manuel Alegre
20 de março de 2020

Dicas de leitura - Pandemias

O amor nos tempos do cólera - GARCÍA MÁRQUEZ, Gabriel
Ainda muito jovem, o telegrafista, violinista e poeta Gabriel Elígio Garciá se apaixonou por Luiza Márquez, mas o romance enfrentou a oposição do pai da moça, coronel Nicolas, que tentou impedir o casamento enviando a filha ao interior numa viagem de um ano. Para manter seu amor, Gabriel montou, com a ajuda de amigos telegrafistas, uma rede de comunicação que alcançava Luiza onde ela estivesse. Essa é a história real dos pais de Gabriel García Márquez e foi ponto de partida de 'O amor nos tempos do cólera', que acompanha a paixão do telegrafista, violinista e poeta Florentino Ariza por Fermina Daza.

A cavalo pálido, cavaleiro pálido - PORTER, Katherine Anne
Cavalo Pálido, Pálido Cavaleiro (1939) é uma reflexão profunda sobre a natureza humana e a futilidade da guerra. Reúne três novelas essenciais na obra de Katherine Anne Porter: Velha Mortalidade, O Vinho do Meio-Dia e o conto que dá nome a este tríptico, tido pela obra-prima da autora. Estudo magistral sobre o mal, O Vinho do Meio-Dia é uma história de ganância e crime numa quinta do Sul do Texas, inspirada na paisagem de infância da autora. Em Velha Mortalidade e em Cavalo Pálido, Pálido Cavaleiro, enredam-se a infância, dominada pela enigmática figura da tia Amy e por histórias de família, e a vida adulta da heroína Miranda, alter ego da autora. Num brilhante exercício de escrita, Cavalo Pálido, Pálido Cavaleiro revela a mente febril de Miranda, os seus delírios e memórias estilhaçadas, quando, vítima da gripe espanhola, está à beira da morte. 

A dança da morte - KING, Stephen
Após um erro de computação no Departamento de Defesa, um vírus é liberado, e um milhão de contatos casuais formam uma cadeia de morte: é assim que o mundo acaba. O que surge em seu lugar é um ambiente árido, sem instituições e esvaziado de 99% da população. É um lugar onde sobreviventes em pânico escolhem seus lados ou são escolhidos. Os bons se apoiam nos ombros frágeis de Mãe Abigail, com seus cento e oito anos de idade, enquanto todo o mal é incorporado por um indivíduo de poderes indizíveis: Randall Flagg, o homem escuro. Neste livro, King cria uma história épica sobre o fim da civilização e a eterna batalha entre o bem e o mal. Com sua complexidade moral, ritmo eletrizante e incrível variedade de personagens, A dança da morte merece um lugar entre os clássicos da literatura contemporânea.

O enigma de Andrômeda - CRICHTON, Michael
Quando um misterioso elemento espacial aniquila uma cidade no estado do Arizona, a maior crise já vista na ciência se inicia na procura por respostas. E dois sobreviventes podem ser a chave para conter uma tragédia ainda maior. De Michael Crichton, mesmo autor de Jurassic Park e o Mundo Perdido, o techno-thriller O Enigma de Andrômeda inspirou um filme homônimo, lançado em 1971, que tornou-se referência para os fãs de ficção científica. Mais tarde, em 2008, Ridley Scott adaptou o livro para uma série de TV, que ganhou indicações para o Emmy Awards.

Ensaio sobre a cegueira - SARAMAGO, José
Um motorista parado no sinal se descobre subitamente cego. É o primeiro caso de uma "treva branca" que logo se espalha incontrolavelmente. Resguardados em quarentena, os cegos se perceberão reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas.O Ensaio sobre a cegueira é a fantasia de um autor que nos faz lembrar "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam". José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos maiores visionários modernos, como Franz Kafka e Elias Canetti. Cada leitor viverá uma experiência imaginativa única. Num ponto onde se cruzam literatura e sabedoria, José Saramago nos obriga a parar, fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto: essas são as tarefas do escritor e de cada leitor, diante da pressão dos tempos e do que se perdeu: "uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos".

Estação onze- MANDEL, Emily St. John
Certa noite, o famoso ator Arthur Leander tem um ataque cardíaco no palco, durante a apresentação de Rei Lear. Jeevan Chaudhary, um paparazzo com treinamento em primeiros socorros, está na plateia e vai em seu auxílio. A atriz mirim Kirsten Raymonde observa horrorizada a tentativa de ressuscitação cardiopulmonar enquanto as cortinas se fecham, mas o ator já está morto. Nessa mesma noite, enquanto Jeevan volta para casa, uma terrível gripe começa a se espalhar. Os hospitais estão lotados, e pela janela do apartamento em que se refugiou com o irmão, Jeevan vê os carros bloquearem a estrada, tiros serem disparados e a vida se desintegrar. Quase vinte anos depois, Kirsten é uma atriz na Sinfonia Itinerante. Com a pequena trupe de artistas, ela viaja pelos assentamentos do mundo pós-calamidade, apresentando peças de Shakespeare e números musicais para as comunidades de sobreviventes. Abarcando décadas, a narrativa vai e volta no tempo para descrever a vida antes e depois da pandemia. Enquanto Arthur se apaixona e desapaixona, enquanto Jeevan ouve os locutores dizerem boa-noite pela última vez e enquanto Kirsten é enredada por um suposto profeta, as reviravoltas do destino conectarão todos eles. Impressionante, único e comovente, Estação Onze reflete sobre arte, fama e efemeridade, e sobre como os relacionamentos nos ajudam a superar tudo, até mesmo o fim do mundo.

Morte em Veneza - MANN, Thomas
Em A Morte em Veneza, Thomas Mann apresenta uma escrita complexa e profunda, onde quase cada parágrafo pode ter várias leituras. Em contraponto, o enredo é praticamente inexistente: um homem de meia-idade viaja até Veneza, apaixona-se platonicamente por um jovem rapaz polaco extremamente atraente e morre sem sequer ter trocado uma palavra com ele. Durante um passeio em Munique, Gustav von Aschenbach, autor consagrado, decide romper com a rotina e partir em viagem chegando em Veneza. Em seu hotel, depara com um adolescente de extrema beleza, de uma família polaca: o jovem Tadzio. O tempo quente e úmido afeta a saúde de Aschenbach, que decide partir, mas a caminho da estação começa a arrepender-se, e quando descobre que a sua bagagem foi encaminhada para o comboio errado e que terá que aguardar o seu retorno, fica satisfeito por poder continuar na proximidade de Tadzio. Embora observe Tadzio obsessivamente, jamais ousa falar com ele, no máximo trocam um olhar furtivo e fugaz um com o outro. Apesar dos sinais de uma epidemia de cólera, que é ocultada pelas autoridades para não prejudicar o turismo, mas que lhe é revelada por um agente de viagens britânico, Aschenbach permanece em Veneza, sacrificando sua dignidade e bem-estar pela experiência imediata da beleza corporificada por Tadzio. Poucos dias depois, Aschenbach descobre que a família polaca planeia partir; vai até a praia onde está Tadzio com um menino mais velho, Jasiu. Os dois rapazes lutam, e Tadzio é facilmente vencido. Com raiva, deixa o seu companheiro e se dirige à parte do mar próxima de Aschenbach. Após contemplar por um momento o mar, dá meia volta para olhar o seu admirador. Para Aschenbach, é como se o menino estivesse a acenar-lhe. Tenta levantar-se e retribuir, no entanto caí morto na sua cadeira. Seu corpo é descoberto minutos depois. "E ainda no mesmo dia, um mundo respeitosamente comovido recebeu a notícia de sua morte."

Oryx e Crake - ATWOOD, Margaret
“No princípio havia o caos.” O Homem das Neves pode ser o último homem na terra, o sobrevivente solitário de um apocalipse sem nome. Quando ainda se chamava Jimmy, ele vivia com os pais nos Complexos, cidadelas fundadas por multinacionais onde a elite financeira do planeta dava seus primeiros e pouco inibidos passos na direção da engenharia genética, na tentativa de atender as constantes demandas dos conglomerados farmacêuticos. Agora, o Homem das Neves vive em um amargo isolamento, sobrevivendo como um pária em seu próprio habitat. Quando não precisa sair em busca de comida em um deserto infestado de insetos, ou encarar a destruição da antiga plebelândia, a terra dos desprivilegiados, hoje povoada pelos animais criados nas experiências transgênicas do passado, seu único prazer está em assistir a filmes antigos em DVD que o fazem lembrar do mundo de outrora e em entreter os Filhos de Crake, crianças de uma nova espécie com estranhas habilidades que o tratam como um ídolo. Como tudo veio abaixo tão depressa? Enquanto o Homem das Neves reconstitui suas lembranças na tentativa de descobrir as origens dessa catástrofe irreversível, sua mente é povoada pelas vozes de seus amigos da juventude, o enigmático Crake e a sedutora Oryx, personagens-chave por trás do Projeto Paradiso, o grande responsável pela modificação definitiva da Terra e a derrocada da espécie humana. O primeiro de uma trilogia que inclui O ano do Dilúvio e se encerra com MaddAddão, Oryx e Crake consolida o retorno de Margaret Atwood ao gênero da ficção científica, em uma narrativa marcada pelas questões éticas e morais sobre o futuro da humanidade, e na qual a verdade está na descoberta dos mundos interiores de seus personagens. Por mais estranho que tudo pareça, o futuro é um cenário assustadoramente familiar.

A peste - CAMUS, Albert
Romance que destaca a mudança na vida da cidade de Orã depois que ela é atingida por uma terrível peste, transmitida por ratos, que dizima sua população. É inegável a dimensão política deste livro, um dos mais lidos do pós-guerra, uma vez que a cidade assolada pela epidemia lembra a ocupação nazista na França durante a Segunda Guerra Mundial. A peste é uma obra de resistência em todos os sentidos da palavra. Narrado do ponto de vista de um médico envolvido nos esforços para conter a doença, o texto de Albert Camus ressalta a solidariedade, a solidão, a morte e outros temas fundamentais para a compreensão dos dilemas do homem moderno.

Salão de beleza - BELLATIN, Mario
A obra narra em poucas páginas como um cabelereiro travesti transforma seu estabelecimento no último abrigo de uma série interminável de jovens vítimas de uma peste incurável. O protagonista, que não tem nome, assim como o lugar onde a história acontece, assiste à agonia simultânea de seus hóspedes e dos peixes de seus aquários sem ter a menor intenção de curá-los, até chegar a sua própria agonia. “Evidentemente não se trata de nenhuma madre Teresa de Calcutá em versão travesti”, explica Bellatin, “pois ele mesmo zomba daqueles que ajudam os doentes com ânimo piedoso, como as freiras ou determinadas organizações solidárias. Sua lógica da morte disfarçada de filantropia pode ser muito perversa, mas seus raciocínios são impecáveis: com sua ajuda, os doentes terminais sofrem menos”. No salão transformado em morredouro não são aceitos nem mulheres nem contaminados sem sintomas, e também não entram remédios.

Um diário do ano da peste - DEFOE, Daniel
Defoe escreveu uma reportagem sobre a epidemia de peste bubônica que dizimou 70.000 vidas em Londres, no ano de 1665. Misturando reportagem e ficção, se esmera em registrar os fatos sem deixar de lado a técnica do escritor, criando personagens, tratando literariamente as cenas, cedendo ao ritmo indispensável de diálogos que recompõem um clima novelesco irresistível. Este livro tem sido modelo, há quase trezentos anos, de um rigor descritivo que não abre mão do olhar apaixonado do repórter. Repórter que não trai a verdade, porém, para melhor recuperá-la, utiliza-se da beleza da forma, acrescentando no texto o que os dados não oferecem.

ilustração de uma das capas do Enigma de Andrômeda e Dança com a morte

Dicas de leitura baseada na lista da Revista Venture - Pandemics: An Essential Reading List e sugestões de nossos usuários.

 
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