Dicas de Leitura - Nadine Gordimer

Para comemorar o dia Internacional da Mulher, indicamos oito livros da escritora Nadine Gordimer, que sempre lidou com os temas de liberdade, segregação racial e justiça.

Nadime GordimerNadine Gordimer, escritora sul-africana, nasceu em Joanesburgo em 20 de novembro de 1923 e faleceu aos 90 anos em 13 de julho de 2014. É autora de mais de 30 livros, na sua maioria crônicas sobre a deterioração social que afetou a África do Sul durante o regime do apartheid.

Foi uma das mais importantes vozes contra o apartheid na África do Sul. Dedicou-se a dramatizar as difíceis escolhas morais surgidas numa sociedade marcada pela segregação racial. Em 1974 foi vencedora do Prêmio Man Booker, em 1991 recebeu o Nobel de Literatura e posteriormente a Legião da Honra, na França.

 

Dicas de leitura - Nadine Gordimer

A arma da casa
Harald e Claudia estão vendo televisão quando recebem a notícia de que seu filho, Duncan, está detido por ter cometido um crime. Pais dedicados, para eles a notícia é literalmente inacreditável. Aos poucos, porém, são obrigados a aceitar o que ninguém - nem mesmo o próprio Duncan - contesta: seu filho é um assassino. A história que se segue seria apenas um drama familiar e um thriller de tribunal, não fossem as contradições decorrentes do lugar e do momento em que se desenrola: a África do Sul pós-apartheid, um país que tenta se livrar dos fantasmas do passado numa transição política surpreendentemente pacífica, em meio a uma onda de criminalidade sem precedentes, que leva muitos cidadãos a se armar para proteger-se. Harald e Claudia pertencem à classe média branca sul-africana. Apolíticos, jamais ousaram protestar contra o regime brutal da era pré-Mandela. Agora que, como a classe a que pertencem, vêem-se ameaçados pelo crime, constatam que o próprio filho é um criminoso. É nesse novo mundo em que todas as certezas estão sendo questionadas que Harald e Claudia terão de reaprender a viver.

Beethoven era 1/16 negro e outros contos
Escritos em prosa inquieta e precisa, os textos de Beethoven era 1/16 negro perfazem um conjunto que retrata a África do Sul em nova configuração social. Filiação, cor da pele e origem étnica já não são tão determinantes, mas continuam informando as identidades de indivíduos que agora têm a chance de repensar o passado e intuir futuros incertos e promissores. A nova configuração política do país faz negros, mulatos, imigrantes e mulheres assumirem papéis proeminentes. Até os brancos precisam reinventar uma identidade nesse país "como ele é agora". Ganham destaque as personagens femininas, que guardam a chave de compreensão dos novos tempos. São elas que parecem mover a atual dinâmica social sul-africana, por meio do casamento e do divórcio, da gestação e do aborto, da meditação sobre o passado e da inserção no mercado de trabalho.

Contando histórias
Organizada pela escritora sul-africana Nadine Gordimer, esta coletânea traz 21 contos escolhidos pelos próprios autores. Trata-se de uma amostra representativa do que de melhor se produziu na literatura das últimas décadas. Basta lembrar que cinco dos autores reunidos aqui ganharam o Nobel de literatura: José Saramago, Gabriel García Márquez, Günter Grass, Kenzaburo Oe e a própria Nadine Gordimer. Se a morte ronda boa parte das narrativas, como as de García Márquez, Margaret Atwood, Amós Oz, Njabulo Ndebele, Kenzaburo Oe e John Updike, os descaminhos da sexualidade fazem a graça dos contos de Arthur Miller e Hanif Kureishi. Se alguns autores, como Nadine Gordimer e Chinua Achebe, optam por um realismo implacável para relatar os horrores da guerra e da fome, há outros que preferem o viés do mitológico ou do fantástico para se expressar. É o caso de José Saramago, Salman Rushdie e Paul Theroux. Da sátira exacerbada de Woody Allen à curiosa fábula de Michel Tournier, o volume ainda traz: Es'kia Mphahlele, Ingo Schulze, Susan Sontag, Claudio Magris, Christa Wolf. Trágicos ou cômicos, os textos tão díspares do volume têm em comum, além da excelência literária, um profundo empenho em compreender a humanidade de seus personagens. Contar histórias, mostra-nos este livro, é acender uma luz nas trevas da barbárie.

O engate
O romance O engate desloca uma jovem branca e rica da África do Sul pós-apartheid para a desolação de uma aldeia miserável às margens do deserto, num país árabe de sociedade paternalista e regime ditatorial. Julie Summers, filha de um banqueiro de Johannesburgo, conhece Abdu, um mecânico de pele escura, e por ele se apaixona. Trabalhando de forma ilegal na África do Sul, Abdu foi obrigado a ocultar seu verdadeiro nome, Ibrahim, a fim de permancer clandestinamente no país. Julie optou por um estilo de vida alternativo, em companhia de um grupo de amigos boêmios. Os dois se conhecem na oficina onde ele trabalha e a atração que sentem é imediata, não apenas no plano sexual, mas também pelas possibilidades de transformação que representam um para o outro. Abdu sonha com sua inserção definitiva no mundo ocidental. Para Julie, a reinvenção de sua própria vida pode estar na descoberta do universo islâmico. Por problemas burocráticos, Abdu é extraditado e volta à sua terra natal. Julie foge com ele e procura adaptar-se às tradições da pequena e empobrecida terra natal de Abdu. Ele, porém, alimenta sonhos de tentar a vida nos Estados Unidos. O conflito entre perspectivas de vida e anseios tão díspares move a trama dessa narrativa feita de intensos choques culturais e afetivos.

O melhor tempo é o presente
e também Impressão braile e em áudio para pessoas com deficiência visual
Amantes clandestinos no passado, devido às leis raciais que proibiam relações entre negros e brancos, hoje Jabulile Gumede e Steve Reed vivem numa África do Sul democrática. Ambos foram ativistas que lutaram com todas as forças pelo fim do apartheid, e seus filhos, felizmente, já nasceram em um tempo e em um lugar de liberdade. Mas à medida que os ideais de uma vida melhor para todos são ameaçados por tensões políticas e raciais, pela ressaca das ambiguidades morais e pelo enorme abismo entre os privilegiados e a grande massa pobre que só aumenta a cada dia, o casal pensa em abandonar o país pelo qual tanto lutou.

Tempos de reflexão: 1990 a 2008
Textos que tratam sobre a liberdade (e a falta dela), o ressurgimento político da África com as primeiras eleições democráticas e o próprio ofício de escritora. A “caçada” a um escritor, precisamente a Salman Rushdie, e a soltura de Nelson Mandela, depois de 27 anos na prisão, são o ponto de partida de Nadine Gordimer em Tempos de reflexão – de 1990 a 2008, segundo e último volume da coletânea que abrange mais de 40 anos de carreira da escritora sul-africana. Não por acaso o livro começa com o tema liberdade, ou a falta dela – assunto no qual a escritora mantém constantemente seu foco de atenção. Diz Nadine: “Salman Rushdie não tem sido visto por... quanto tempo? Ele se tornou um dos Desaparecidos, como aqueles que sumiram durante um período recente na Argentina e aqueles que desaparecem sob o apartheid na África do Sul. Os governos repressivos têm o poder de destruir vidas nos seus países; quando as religiões adotam esses métodos, elas têm o poder de aterrorizar, por meio de seus fiéis, qualquer parte do mundo. O edito do falecido aiatolá tem jurisdição por toda parte, desdenhoso das leis de qualquer país. Os refugiados políticos dos regimes repressivos podem procurar asilo político noutro lugar; Salman Rushdie não tem para onde ir”. Nadine é uma voz poderosa e arguta contra o papel do Estado, que, segundo ela, trata com pouco caso a cultura, os livros e os escritores: “[...] qual será a atitude oficial dos vários Estados africanos em relação à cultura e à literatura como expressão dessa cultura? Nós, escritores, não sabemos, e temos razão de estarmos inquietos. Sem dúvida, no século XX da luta política, o dinheiro do Estado tem sido gasto com armas, e não com livros; a literatura — na verdade, a cultura — tem sido relegada à categoria do dispensável. Quanto à capacidade de ler e escrever, desde que as pessoas saibam ler os decretos do Estado e os grafites que os desafiam, isso tem sido considerado proficiência suficiente”, escreveu.

Uma mulher sem igual
Hillela era uma menina de múltiplas facetas: inocente, criança-problema, oportunista. Impedida pelo pai de ter qualquer contato com a mãe, que o havia abandonado por outro homem, acaba sendo criada na casa de um embaixador onde aprende a manipular as regras do protocolo internacional. Jovem independente entre exilados políticos numa praia da África Central, Hillela casa-se com um revolucionário negro e torna-se, com o tempo, uma líder da África emergente citada nas retrospectivas de seu país e na história de seu continente. Ao contrário do que possa aparentar, no entanto, Hillela envolve-se mais e mais num futuro indefinido na África do Sul, onde prevalece a maioria negra.

De volta à vida
Paul Bannerman, um ecologista de 35 anos que luta contra a construção de uma central nuclear numa área ecologicamente sensível de seu país, a África do Sul, recebe um diagnóstico de câncer na tireóide. Por ironia do destino, a radioterapia a que se submete o torna radioativo. A esposa Berenice (Benni), uma executiva do ramo da publicidade, e o filho ainda novo Nicholas (Nickie) visitam Paul, mas precisam manter certa distância por causa da radioatividade. Durante esse período de quarentena, em que se compara a um leproso, um intocável, Paul mora na casa dos pais, a casa de sua infância. Lá passa o dia praticamente no jardim, um microcosmo da natureza mais ampla com que, em sua atividade para uma fundação pela conservação ambiental, está habituado a conviver. Quando Paul volta para sua casa, as mudanças se precipitam na vida de todos da família.

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