Itaim Paulista estimula atividades econômicas e reduz exclusão social

Com criação da Câmara de Animação Econômica, foram montados quatro setores vocacionais na região: confecção/bordado, alimentação, serviços e reciclagem.

O que precisa ser feito para que o distrito de Itaim Paulista saia do 2º lugar no ranking de exclusão social na Cidade de São Paulo (segundo dados do IBGE)? Como arrumar emprego e trabalho para grande parcela dos 420 mil habitantes que vivem numa região caracterizada como cidade-dormitório? Essas questões, somadas às conversas com lideranças comunitárias para saber como a população se vira para sobreviver, levaram à criação da Câmara de Animação Econômica (CAE) pela Subprefeitura local, que montou quatro setores vocacionais na região: confecção/bordado, alimentação, serviços e reciclagem.

Tudo começou há dois anos, quando, ao deparar-se com os dados nada positivos da região, o subprefeito de Itaim Paulista pensou em resgatar uma atividade econômica que no passado foi comandada por renomadas empresas do setor têxtil, como fábricas de cuecas e lingerie, além de uma indústria de máquinas para confecção. Atualmente, concentram-se na região 237 oficinas de costura. "Muitas delas foram embora, mas a mão-de-obra ficou. Temos um número considerável de costureiras e bordadeiras que recebem encomendas do Brás, mas, como as peças passam por vários intermediários, elas acabavam recebendo uma remuneração muito pequena", conta o subprefeito.

Diante da falta de apoio aos trabalhadores, a Subprefeitura montou, em janeiro deste ano, a Câmara de Animação Econômica em conjunto com a Secretaria Municipal do Trabalho, o Sebrae, a USP Leste e a Fatec Leste. O programa pôs à disposição do público duas linhas de microcrédito: uma é o São Paulo Confia (da Secretaria Municipal do Trabalho) e a outra o Banco do Povo (do Governo do Estado), beneficiando mais de mil pessoas desde janeiro.

Câmaras setoriais
A maior câmara setorial de Itaim Paulista é a cooperativa de serviços, que inclui a capacitação de 647 profissionais como pedreiros, encanadores, azulejistas e eletricistas. Como forma de alavancar as oportunidades de trabalho para esses profissionais, uma casa de materiais de construção firmou parceria com a Associação Nacional das Empresas de Material de Construção (Anamaco). O acordo possibilita a indicação desses profissionais para a prestação de serviços, como o de colocação de um telhado, por exemplo, na casa ou na empresa da pessoa que comprou o produto. "São profissionais que já atuam na área, mas que muitas vezes estavam desempregados. Com o curso de capacitação, eles recebem as mais diversas instruções, inclusive no quesito segurança, o que passa maior tranqüilidade para o cliente", avalia o subprefeito.

A CAE vem possibilitando que 387 costureiras e bordadeiras vendam seus produtos com maior valor agregado nas regiões da rua 25 de Março e do Brás. São blusas e calças bordadas e outros acessórios como bolsas feitas de fuxico. "Elas recebem a assessoria de um designer holandês que está articulando a possibilidade dos produtos serem vendidos até para a Europa", conta o subprefeito. No setor de alimentação, foram resgatadas as chamadas "boleiras", donas de casa que fazem bolos para casamentos e festas de aniversário. Cerca de 100 pessoas fazem parte da associação e participam do curso de aperfeiçoamento que ensina como montar um bufê. Já a cooperativa de reciclagem conta com 160 participantes que trabalham em dois centros de triagem: o Itaim Paulista e o de Vila Curuçá. Eles coletam papel e plástico, empacotam e comercializam o material bruto.

Agentes de saúde foram essenciais na montagem das câmaras setoriais
Dentre as muitas ações realizadas para tentar mudar o perfil econômico do distrito de Itaim Paulista, a gerente-geral da Câmara de Animação Econômica, Rosane Keppke, relembra que o contato com as líderes comunitárias e com os agentes das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) foram fundamentais para saber como a população sobrevive. "Devido ao trabalho que realizam, eles têm um vínculo intenso com a população. Fomos formando nossa base de dados em busca dos caça-talentos". Ela relembra que, no passado, o pólo de costureiras foi se formando na região porque era uma função que as mulheres realizavam dentro de casa, o que permitia cuidar do lar e dos filhos para ajudar no orçamento doméstico. "Com o tempo elas foram se aperfeiçoando, algumas compraram até o tipo de máquina overloque e passaram a trabalhar para grandes indústrias".

Costureira no passado e hoje agente comunitária de saúde, Ilza Donizete Barbosa, de 44 anos, foi uma das responsáveis pela formação da cooperativa de costureiras e bordadeiras no Itaim Paulista. Em suas visitas, cerca de 200 mensais que faz a famílias no bairro Cidade Kemel, ela encontrava uma mulher aqui e outra acolá, pregando pedras e outros metais com brilhos em calças, blusas e vestidos, e aos poucos foi apresentando uma a outra. "Assim fomos montando os grupos. Aqui no Itaim tem muitas oficinas de costuras. Com a criação das cooperativas através das Câmaras as pessoas não precisam atravessar São Paulo para trabalhar. Foi uma das melhores coisas que nos aconteceu. Assim, o nosso pessoal tem como se virar e pagar as contas no final do mês", diz.