Inspirada pela mãe, servidora do Campo Limpo atua há mais de três décadas como assistente social

Genice Leite atravessou diferentes períodos e encarou grandes desafios ao longo dos anos, sempre empunhando a bandeira do serviço social

Na foto aparecem duas mulheres e um homem sentados em uma mesa.

Genice Leite ingressou na Prefeitura em julho de 1992
após atuar com assistente social na rede hospitalar

 

Texto: Roberto Vieira
Foto: Arquivo pessoal

Ser uma profissional realizada, que acorda todos os dias motivada a fazer melhor que ontem, com disposição, resiliência, versatilidade de ideias e pronta para ensinar e aprender na mesma intensidade é a realidade vivida pela paulistana Genice Leite dos Santos, 60, assistente social que somente na Prefeitura de São Paulo atua há exatas três décadas.

A formação no curso de Serviço Social veio em 1987, mas a inspiração chegou muito antes disso. Genice, que atualmente coordena o Centro Especializado de Assistência Social (Creas) do Campo Limpo, zona sul, conta que a sua mãe, a professora Edith Leite, foi a sua grande inspiração.

“A minha mãe sempre trouxe a questão da desigualdade para gente. Ela era professora, dava aula de reforço para aqueles que tinham mais dificuldades e sempre se mostrou uma pessoa além do seu tempo, atuando com essa questão da desigualdade desde aquela época e isso me inspirou muito”, disse Genice, que é viúva desde 2020 e tem um filho de 29 anos.

A partir do exemplo obtido em casa, Genice revela que ainda assim se esforçou para descobrir se era essa sua verdadeira vocação e constatou que, de fato, nasceu para atuar com o social. “Eu fui estudar, compreender o que é o serviço social, que aliás passou por uma grande transformação na década de 90, vários estudos, a nova política, isso tudo eu fui absorvendo, concretizando e adquirindo experiência. Eu costumo falar para as pessoas que eu vivenciei todas essas mudanças e isso tudo foi muito rico”, acrescentou.

 

Genice é coordenadora do Creas Campo Limpo,
mas já passou por diversos serviços ao longo de 30 anos

 

Com satisfação e sensação de dever cumprido, aliás, que ainda está em curso, a servidora destaca a história que viveu e ajudou a construir, principalmente, na região do Campo Limpo. “Atuar aqui foi um grande aprendizado, aqui foi o berço das manifestações, um local com grandes lideranças que se manifestaram em plena ditadura, com mulheres fortes, enfim, as mobilizações sempre foram muito fortes”, relembrou.

Genice contou também sobre ações pioneiras no Campo Limpo como o primeiro ‘PATI’ Programa de Atenção a Terceira Idade, que era apenas um projeto. “Também me recordo da Casa Sofia, sobre combate a violência contra mulheres, que nasceu antes da consolidação da Lei Maria da Penha, enfim, essas passagens me deixam muito feliz. Quando você vê uma família saindo de uma situação, tendo noção dos seus direitos e percebendo que elas são protagonistas das suas histórias, é gratificante", afirmou.

Ao longo dos anos atuando como assistente social – história que se inicia com a primeira experiência no Centro de Referência e Treinamento Aids -, Genice revela que, em sua opinião, um dos principais avanços no serviço social foi quando se estabeleceu a tipificação da atuação.


“Eu sou de uma época em que a gente participava de desocupação de área, situações de emergências, embora nós tenhamos nosso papel até hoje, agora a função está normatizada, a função da habitação da mesma forma, enfim, isso foi um avanço muito grande nos últimos. As normativas de onde nós atuamos e onde não atuamos”, contou.


Nos últimos dois anos, Genice viveu a inédita experiência de atuar no serviço social em meio a uma pandemia mundial provocada pelo novo coronavirus. A assistente social não encontrou palavras para descrever esse momento tão sensível. A tarefa foi difícil, complicada, mas em nenhum momento pensou em desistir de executar aquilo que ela tem convicção de que nasceu para desempenhar.


“É um desafio que eu não tenho palavras para dizer. Hoje, principalmente, com a questão da pandemia e aumento do desemprego, nó tivemos que nos reinventar. Foi uma força tarefa de todos os profissionais envolvidos, foi tudo mundo rápido, trocamos o pneu do carro com ele em movimento. As vulnerabilidades e as desigualdades aumentaram e uma cidade como São Paulo nos traz um desafio a cada dia que a gente levanta e vai trabalhar”, pontuou.