Ex- convivente de Centro de Acolhida recupera autonomia e se torna funcionário da rede assistencial

Determinação e esforço foram os principais responsáveis por sua transformação de vida

Seu Francisco, dono de cabelos brancos, cor parda e rosto arredondado, aparece sorrindo para a fotografia. Ele aparece até a altura do peito em uma parede de fundo azul.

Texto e Fotos: Bianca Bezerra 

Francisco Ferreira da Silva, 57 anos, nascido em Minas Gerais, veio para São Paulo ainda criança com sua mãe e seus dois irmãos, logo depois da separação de seus pais.

Cinco anos depois sua mãe adoeceu e acabou falecendo deixando Francisco e seus irmãos, órfãos.
Os meninos foram encaminhados para a Fundação Casa, aonde na época eram levadas as crianças que não tinham um responsável para cuidar.

Quando Francisco atingiu a maioridade, deixou a Fundação e deu continuidade em sua vida. Trabalhando em funções variadas no ramo têxtil e em redes de supermercados, conquistou sua independência.

Dez anos depois, surgiu a oportunidade de voltar a Fundação Casa como trabalhador. Cozinha, lavanderia, xérox e limpeza, foram alguns dos setores que Francisco passou durante 21 anos que trabalhou na Fundação.

Um corte de funcionários na empresa levou a sua demissão. De forma estranha, seu contrato de trabalho desapareceu, anulando todos seus direitos trabalhistas.

Francisco se viu desempregado e sem auxílio. Buscou sua aposentadoria especial, já que trabalhou em situações de insalubridade por muito tempo, porém lhe foi negada devido à ausência de documentos que comprovassem sua ocupação.

Sem emprego, foi às ruas para tirar seu sustento “Eu vendia lâmina de barbear, cortador de unha, pipoca etc.” Infelizmente não foi o suficiente. Ele perdeu seu apartamento e não tinha para onde ir.

Auxiliado por assistentes sociais, Francisco buscou abrigo no Centro de Acolhida (CA) Dom Fernando, onde morou por um ano e realizou vários cursos profissionalizantes: bombeiro, engenharia hidráulica e elétrica, panificação, portaria, etc.

Depois do processo de preparação, foi encaminhado para o Centro Temporário de Acolhimento (CTA) Aricanduva.
Participou do Projeto Trabalho Novo, que empregou milhares de pessoas em situação de rua. “Fui a algumas entrevistas e logo consegui uma vaga em uma rede de supermercados, mas recusei quando recebi outra proposta.”

As pessoas ao seu redor viam o comprometimento e força de vontade de Francisco. Ele transparecia o desejo de se reerguer novamente, e não deixava que as circunstâncias o desanimasse.

Por essa razão, ele foi convidado para trabalhar como agente operacional no CTA Mooca I. Muito feliz, ele aceitou o convite.

Depois de 90 dias trabalhando, deixou o CTA Aricanduva e alugou seu cantinho, como ele costuma falar. “Nada como o nosso canto, onde temos mais liberdade e conforto. Eu lutei e não parei enquanto não consegui isso” revela Francisco.
O ex- convivente nunca pensou em seguir caminhos errados.

“Quando caímos temos que aprender a levantar e tentar de novo pelo caminho honesto. Esse compensa. Estou colhendo os frutos do meu esforço e trabalho.”

Eleito funcionário do mês, ele revela sua satisfação em trabalhar no CTA.

“Sou feliz trabalhando aqui, me dou bem com todos, tenho uma ótima convivência. O segredo é agarrar as oportunidades. Quem muda nossa história somos nós mesmos” acredita o funcionário.

Seu Francisco é um exemplo de superação e persistência para todos os amigos que fez nos Centros por onde passou.
“Eu aconselho dizendo ‘Busque o melhor pra você, evolua, dê um passo de cada vez”.

Frequentador fiel de sua igreja, ele afirma nunca perder a fé “A fé é minha força. A fé, meu emprego, minha saúde e minhas amizades são as coisas que mais valorizo” encerra com um sorriso.