Nenhuma Luana a Menos! Roda de conversa no CFCCT debateu a violência contra mulheres negras

Essa foi uma atrações da 2ª Mostra da Mulher Afro, Latina e Caribenha

 “Acorda Maria Bonita, levanta vai fazer o café, que o dia já vem raiando e a Policia já tá em pé”. A música de Antonio dos Santos, cantada na voz da mediadora da noite Queila, deu início à roda de conversa “Nenhuma Luana a Menos”.

Na noite de terça (19), mais de 30 pessoas se juntaram para debater a brutalidade policial que deu fim à vida de Luana Barbosa dos Reis. Mulher, negra, periférica, lésbica. Isso foi determinante para que sua vida chegasse ao fim aos 34 anos.

Luana Barbosa morreu no dia 13 de abril desse ano, cinco dias depois de ser espancada por dois policiais militares em Ribeirão Preto (SP), segundo denuncia sua família. Em sua declaração de óbito, consta que ela sofreu de uma isquemia cerebral aguda causada por traumatismo crânio-encefálico. O que contam as testemunhas é que Luana foi brutalmente agredida após ser parada pela PM e ter se negado a ser revistada por homens – um direito dela.

Luana foi silenciada. Mas há muitas pessoas que representam sua voz e que nunca se esquecerão do ocorrido. A 2ª Mostra da Mulher Afro, Latinoamericana e Caribenha – Violências In’vibilizadas” é homenagem à Luana Barbosa e a muitas outras Luanas, Claudias e a tantas mulheres que estão à margem do sistema.

Andreia Rosa, umas das convidadas a dar seu depoimento na roda de conversa, sofreu uma enorme violência policial. Quando transitava pelo bairro onde mora em São Miguel Paulista, viu que dois jovens haviam sido atingidos pela polícia por conta do furto de um carro. Apenas um garoto estava sendo socorrido, enquanto o outro foi deixado de lado. Eles eram branco e negro, respectivamente. Quando Andreia foi questionar o porquê do garoto negro não recebera socorro, ouviu da polícia: “Ela é só uma negra maluca. Joga na viatura.”

“Violência policial é uma ruptura. Pensar já me deixa tremendo”, diz Andreia ao lembrar do ocorrido, se lamentando por ter seu destino muitas vezes traçado pelo racismo. Na delegacia, ela ficou algemada madrugada adentro e lhe foram negados seus direitos à telefonema, retirada das algemas quando já estava na cela, à dar seu depoimento. A delegada justificava que “quem defende bandido não tem direito nenhum ali”.

Violências e abusos desse tipo não são casos isolados. Segundo o Mapa da Violência Contra Mulheres Negras, se analisarmos o país no ano de 2003 e 2013, tivemos aumento de 54,2% no total de assassinatos às mulheres negras, com salto de 1.864, em 2003, para 2.875, em 2013. Em contraposição, houve queda de 9,8% nos crimes envolvendo mulheres brancas, que caiu de 1.747 para 1.576 entre os anos.

A segunda convidada da roda de conversa foi Renata Prado, moradora da Cidade Tiradentes e organizadora da festa Batekoo, que promove o empoderamento da mulher negra, é também uma das criadoras da campanha #15contra16 – que busca a conscientização das pessoas sobre todos os malefícios da redução da maioridade penal.

Além disso, Renata é agente de formação do Programa Jovem Monitor e pontuou que o jovem negro e periférico sofre com a violência policial e com tantas outras violências mais, como por exemplo quando lhe é negado o direito a uma escola de qualidade e a cultura de qualidade, ambos direitos assegurados no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).

As duas convidadas explicaram aos participantes da roda quais são os meios de resistência da mulher negra diante da série de agressões que ela sofre: se informar e saber sempre dos direitos que a lei lhe garante, conhecer as culturas africanas e não demonizá-las, rever sua ancestralidade, saber da história negra e suas conquistas, valorizar a estética negra e não aceitar padrões estéticos impostos pela cultura branca, educar as crianças negras de maneira que elas se conectem e se identifiquem com a sua cultura. E para terminar, fica a mensagem de Andreia, de que a mulher negra deve sempre: “RESISTIR, REVERTER E REVERBERAR!”