M' Boi Mirim ganhou versos, poesia e história

Festa do Natal de Livros da Cooperifa – Cooperativa Cultural da Periferia - distribuiu mais de dez mil livros no Jardim São Luiz

A iniciativa do poeta Sérgio Vaz, com o Cooperifa, que promoveu seu terceiro Natal de Livros no Largo do Piraporinha, no Jardim São Luís, na Zona Sul de São Paulo, das dez da manhã à uma da tarde, distribuiu milhares de livros para quem passava por ali, indo ou vindo da feira do bairro. A entrega foi prestigiada com presença de artistas e personalidades públicas.

Quem passava nos ônibus ou estava nas lojas do comércio popular da região era também abordado por quase cinquenta voluntários que ofereciam gratuitamente exemplares de livros novos e de todos os gêneros: ficção, ensaios, livros para crianças e jovens.

A Cooperifa tem um caráter diferente. É uma iniciativa local, que faz um trabalho de valorização da produção cultural da periferia paulistana. Desde o ano 2000, o exemplo da Cooperifa já frutificou em quase vinte iniciativas semelhantes em outros bairros da metrópole.

Às quartas-feiras, no Bar do Zé Batidão, acontece o Sarau da Cooperifa. Dezenas de poetas recitam suas produções diante do público, ou lêem poemas de autores conhecidos, invariavelmente aplaudidos e encorajados. Na laje do bar também acontece o festival Cinema na Laje, no qual são projetadas produções independentes e filmes nacionais. Em março sempre acontece o “Ajoelhaço”: os homens pedem desculpas às mulheres pelo machismo da sociedade. Eventualmente acontecem outras “Chuvas de Livros” no decorrer do ano, quando conseguem doações de editoras e amigos.

A Cooperifa é liderada pelo Sérgio Vaz, poeta que já alcançou um nível de reconhecimento no mundo editorial e literário mais amplo, com livros publicados pela Global. Mas o verbo liderar é enganador. A conjugação que se escuta nos saraus e outras atividades da Cooperifa é a da primeira pessoal do plural. Nós.

O “nós” é composto por trabalhadores de todas as áreas. Filhos de famílias humildes: operários, trabalhadores de serviços, domésticas; bancários e funcionários públicos de baixo escalão, professores de escolas públicas, estudantes; filhos de pipoqueiros, talvez pipoqueiros até hoje.

Certamente se escutam versos toscos e de rima pobre. Mas todos são escutados com respeito. E quem escuta, aprende. E evolui. Dali já saíram compositores de rap, outros que já participam de antologias e outros continuam indo aos saraus das quartas-feiras para se expressar. E esses saraus são uma experiência muito interessante. Aparece de tudo, de idosos a gays, mulheres, homens, jovens, tudo junto e misturado. Quem chega se inscreve e espera a vez para falar para um público de 150 a 200 pessoas. Uma vez apareceram mais de 500.

O caso dos escritores da periferia de São Paulo tem aspectos curiosos. Ainda que busquem o reconhecimento do campo literário mais amplo, escritores como Sérgio Vaz, Sacolinha, Ferréz e uma quantidade de autores de rap e do movimento hip-hop, permanecem diretamente ligados aos seus meio sociais de origem. Parece, para um observador externo como eu, que os processos de ascensão social derivados do reconhecimento literário fazem sentido para eles na medida em que continuam ligados às comunidades de origem. Talvez isso derive do fato de estarem na periferia de São Paulo. Ainda que na periferia, fazem parte do círculo concêntrico da gigantesca metrópole. Isso faz diferença quando se pensa em escritores com a mesma origem que nascem e vivem nas cidades afastadas de um centro magnético de cultura como é Sampa.

Esse Natal de Livros foi o terceiro promovido pela Cooperifa. No lançamento do último livro do Marcelino Freire, Sérgio Vaz conseguir livros da Editora Record. Para a comemoração, mandaram 5.000 livros para a festa, dentro do espírito de celebração dos 70 anos do Grupo Record. Além dos livros da Record, Sérgio Vaz conseguiu mais uma quantidade de livros através de outros amigos e também exemplares dos livros infantis das coleções distribuídas pelo Banco Itaú.

Para quem ainda não conhece o Sarau da Cooperifa, que acontece às quartas-feiras, a programação estará suspensa até o início de 2014. Assim, quem mora em Sampa ou passar por ali numa quarta-feira poderá assistir ou participar dos eventos no Bar do Zé Batidão, Rua Bartolomeu dos Santos, 797 Chácara Santana. Várias linhas de ônibus passam por perto, na Av. M Boi Mirim.