Mobilização reúne centenas em caminhada pela paz contra a violência em São Paulo

Por que atirou em mim? Este foi o coro da população na 18ª edição da Caminhada pela vida e pela paz, na Zona Sul de São Paulo

Conduzida por entidades, no dia de finados, a caminhada teve início no Jardim Ângela, e as centenas de pessoas seguiram por várias avenidas até o Cemitério Jardim São Luis. A motivação da caminhada foi acentuada depois do episódio de violência com o jovem Douglas Rodrigues, dia 27 de Outubro na zona norte de São Paulo.

A intervenção da comunidade teve início nos anos 1990, época que o Bairro Jardim Ângela foi estigmatizado como a região mais violenta do mundo, pela Unesco, com índice altíssimo de assassinato. Hoje, o reflexo de violência na região persiste, apesar da intensa atividade das entidades com a sociedade local.

A população da Zona Norte de São Paulo se revoltou, após violência contra o  Douglas. Antes de morrer, a mãe do jovem disse que ele questionou: “Por que o senhor atirou em mim”? A partir daí a frase repercutiu na mídia, redes sociais e nos protestos realizados durante a semana. E, em solidariedade com o Bairro Vila Medeiros, o Padre Jaime clamava à população para que repetisse a frase dita pelo rapaz, estampadas em faixas, camisetas e bandeiras fortalecendo o anseio pela paz, contra a violência.

O Padre Jaime Crowe, da Paróquia Santos Mártires, percebeu as melhorias no Jardim Ângela, nos últimos 18 anos, atribuiu a evolução às ações da comunidade ao crescimento dos investimentos do Poder Público. “A soma das pequenas ações na região e algumas grandes, como a presença do Hospital M'Boi Mirim, que cria perspectivas para as pessoas da região”, cita ao relacionar os fatores, que na sua opinião, ajudaram a reduzir o número de homicídios de 130 para cada 100 mil habitantes, em 1996, para 25 nos últimos indicadores.

Padre Jaime Crowe fala em frente à base da Polícia Militar  e cita o respeito e colaborativismo tanto da polícia como da sociedade. Fotos: Márcia Brasil

Durante o percurso na caminhada o Padre cumprimentou os policiais de uma base da polícia militar e afirmou a necessidade da cooperação e de que “tanto a população quanto a polícia são vítimas da violência”, enfatizou Crowe. Disse que para continuar reduzindo a violência, o policial tem que estar junto à comunidade. “A gente luta por uma nova polícia. Não uma Polícia Militar. Uma polícia que seja integrada na comunidade. Um policial que é conhecido pelo nome, não só pela farda”, ressalta.

Osni Gomes, um dos educadores dos Centros de Juventude da Paróquia Santos Mártires, mantém firme com o público infanto-juvenil, atividades como saraus, teatro e esportes. Ele conclui que as crianças e os adolescentes são as maiores vítimas de violência no bairro. Para enfrentar a violência, os CJs (Centro de Juventudes) realizam trabalhos com os núcleos familiares, e, a partir dos menores, a contribuição para a paz e a união da família é muito maior.

O estudante de doutorado em psicologia pela PUC de São Paulo, Robert, que atua em um dos movimentos sociais junto à comunidade do Jardim Ângela no Fórum de Defesa da Vida, ressaltou que a população é bastante participativa e que as “comunidades intervêm em várias atividades culturais, fóruns e coletivos que reúnem constantemente centenas de pessoas para discutir problemas sobre a educação, saúde, moradia entre outras áreas”, salienta o psicólogo.

Já no Programa de Desenvolvimento de Área - PDA, Jane, coordenadora do Sarau Jangada do Saber, disse que "a carência de cultura e educação é muita grande, apesar do esforço da sociedade aqui na região". “Ainda há muito que fazer”, afirma.

Os esforços na região, ainda não reduziram o índice elevado de violência a mulheres. Grupos de proteção à vítimas da violência contra a mulher trabalham muito com as famílias, no atendimento à saúde física e mental. "Infelizmente os bairros Jardim Ângela e Jardim São Luis detém um número alto no quadro dos bairros mais violentos de São Paulo", defende Madalena, conselheira de saúde.

O mesmo acontece em relação a diversidade homossexual. Casos de homofobia são registrados nas instituições que atendem vítimas de preconceito. A região de M' Boi Mirim ganhou muito nas últimas décadas com o trabalho árduo destas entidades, que além de apoiar a população em todas as esferas, orienta a sociedade sobre a questão do respeito ao próximo, da liberdade de expressão e dos direitos humanos,

Ações constantes da Subprefeitura, que em parcerias com estas entidades, implementam e promovem o combate a violência, principalmente com a juventude negra e de periferia. Desta forma, foi lançado no CEU Casa Blanca, dia 29 de Outubro, o programa do Governo Federal em convênio com a prefeitura, o Juventude Viva. Para o prefeito, a violência contra jovens na periferia de São Paulo é alarmante. Segundo ele, o plano vai atuar em bairros em que ocorrem mais de 10 mortes violentas por 100 mil habitantes. Em alguns locais este índice chega a 25 mortes por 100 mil.

Bandeira com as cores do arco-íris, simbolo da diversidade na comunidade homossexual. Foto: Márcia Brasil


 Fotos: Márcia Brasil