Atletas do Jabaquara levam tocha olímpica no dia 24 de julho na avenida Sena Madureira

Corredora nas Olimpíadas de Helsinque em 1952 e marido, medalhista do Pan Americano em 1955, percorrem trajeto de 400 m

Fotos: Marcos Bruno

Às 11h, do dia 24 de julho, Daise Jurdelina de Castro Freire vai percorrer 200 metros com a tocha olímpica pela avenida Sena Madureira na Vila Mariana. Em seguida, a atleta olímpica de 1952, com medalhas de ouro e prata em competições de 100 metros e 200 metros nos Jogos Pan Americanos, no México, passa o facho para o seu marido Edgard Freire, recordista em corridas de 5.000 metros em 1955 na mesma competição.


O casal de atletas está emocionado por participar desse evento em São Paulo. Sentem-se lembrados. Edgard Freire ainda está na ativa. Treina quatro vezes por semana na Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp), onde trabalha como biomédico e professor. Moram na Vila Guarani, região do Jabaquara, de onde vão sair bem cedo para carregar a tocha no próximo domingo.

A história de atletismo de Daise Freire dá um enorme salto para sua infância na Vila Matilde, onde viveu em uma chácara com muita terra e árvores frutíferas. Brincar com os irmãos de correr e subir em árvores, de barrabol, um outro nome para queimada, sempre ganhando de todos acabou levando-a para as pistas de corrida, contra a vontade do pai, que preferia ver a caçula em casa.

“Nasci em 18 de setembro de 1933 na Vila Matilde, estudei em colégio de madres, porque naquela época meninas estudavam em escolas de freires. Mamãe trabalhava em uma escola, meu pai era bancário. Nós ficávamos na chácara, onde brincávamos muito. Pulávamos de uma árvore de frutas para outra. Brincávamos de pegar e de correr. Sempre digo que meu primeiro técnico foi meu irmão. Íamos correndo de uma rua para outra”.

“No colégio, eu pulava corda, e as freiras aprendiam a pular comigo. Eram freiras italianas. A educação era ótima. Saímos da Vila Matilde e fomos morar em Santana. Aos dez anos, fui me preparar para a escola industrial, que hoje é um curso técnico. A história do meu esporte começa na escola, onde eu jogava barrabol e basquete. Foi a professora Lais que observava que eu era uma criança diferente. Procurou falar com a mamãe para me convencê-la a me deixar ir para um clube para treinar.”

“Fui apresentada naquela época ao AD Floresta Associação Desportiva Floresta, que fica em Santana. Era um clube social da classe média alta. Eu fui muito bem recebida, e apresentada ao professor Paulo Resende. Na época eu nem sabia o que estava fazendo ali. Esse técnico ficou muito impressionado porque eu corria muito rápido. Quando eu saía do colégio, eu ia para lá treinar, levada por minha professora. Em seis meses, no campeonato de meninas, eu estava com 14 anos. Eu ganhei a corrida de 50 metros e salto de altura. Ele foi ficando entusiasmado e me pôs para corridas de maior distância. Depois de um ano, fui para um campeonato no Rio de Janeiro. Fui acompanhada de mamãe, porque naquela época, não era para andar sozinha. Nesse dia, da prova de 200 metros, eu nem entendia por que eu corria essa distância. O técnico me dizia que eu deveria prestar atenção apenas no cronômetro. Ele dizia que eu deveria correr muito mais do que no treino. Daí bati o recorde brasileiro junto com a mulher que era recordista sul-americana da época. E eu bati o seu tempo. Foi assustador porque ela era muito capaz. Depois desse dia, os treinamentos foram ficando mais fortes. Comecei a bater recordes. Eu era uma menina que batia recordes de adultos. Toda vez que havia um campeonato brasileiro ou sul-americano, eu batia os recordes. Foi muito histórico porque eu era muito criança.”

“Eu tinha de viajar e foi muito difícil, porque o papai não gostava, não admitia. Houve um conselho do diretor do banco que o convenceu, que era o Ermínio de Morais. Minha avó foi escrava dele, e o meu pai foi criado por eles. Meu pai ouvia muito essa família. Ele lhe explicou que se eu não fosse representar o Brasil lá fora, o juiz iria assinar. Papai chorou muito, ficou muito triste, porque achava que a filha era dele, mas eu tinha de ir ao Sul Americano. Eu fui para o Peru. Havia muitas competições e eu sempre ganhava e batia recordes. Daí houve o primeiro Pan, na Argentina. Eu não fui bem. Estava muito assustada. Aquilo não era o que eu queria, mas havia insistência do técnico e da professora.”

“Ganhei muitas medalhas até que chegaram as Olimpíadas. Meu técnico, nessa época, estava saindo do AD Floresta. Se hoje estou sentada aqui falando é porque foi ele que me transformou.”

“A emoção de participar do trajeto da tocha olímpica só aconteceu porque o subprefeito do Jabaquara, Elder Vieira, lembrou de mim e do meu marido. Devemos muito a ele. É bom ser lembrado. E agora estamos nos preparando para o domingo. Sou eu que vai passar a tocha para meu marido Edgard, com quem estou há 61 anos”.