Obras do CEFAI de Itaquera começam em janeiro

Educação Inclusiva. O CEFAI – Centro de Formação e Atendimento à Inclusão, atenderá pessoas com necessidades educacionais na rede municipal

13/12/2006 - Itaquera

 

A Coordenadoria de Educação de Itaquera, apresentou à comunidade local, aos técnicos da área e portadores de necessidades educacionais especiais, em 5/12, o espaço onde será constituído o primeiro CEFAI da Zona Leste (Centro de Formação e Atendimento à Inclusão), que passará a atender, assim que concluídas as obras de reforma, com data prevista para o início de janeiro, cerca de 2,2 mil crianças com necessidades educacionais especiais, já matriculadas em 90 creches, EMEIs e EMEFs da região. Desses, 55 são conveniados da Prefeitura. “A inclusão dessas crianças na nossa rede, encerrou com mais de 2 mil ações que tramitavam no Ministério Público, solicitando vagas”.

 

O espaço, localizado na Av. Maria Luíza Americano, s/nº (altura do nº 2000), que anteriormente abrigava a Unidade de Parques e Jardins (UPJ), foi cedido pelo Subprefeito de Itaquera à pasta da educação, tirando definitivamente do papel as determinações do decreto nº 45.415 e da portaria nº 5.718, ambos do final do ano de 2004.

 

A perspectiva da atual gestão é que cada uma das 13 Coordenadorias de Educação da cidade, deverá ter sob sua responsabilidade o funcionamento de um CEFAI. O da região de Itaquera, regulamentado pela Portaria nº 4.610, de 12/06/05, visa ampliar as estratégias da proposta de inclusão escolar, que tem como objetivo: 1) apoiar o processo de inclusão social e escolar das crianças com deficiências na rede escolar de Itaquera; 2) facilitar o desenvolvimento das potencialidades do educando com deficiência favorecendo sua efetiva inclusão no sistema educacional; 3) orientar e instrumentalizar a família com vistas à inclusão social; 4) articular ações que facilitem a conjugação de esforços dos diferentes níveis de governo e da sociedade civil, abrangendo as áreas sociais da educação e saúde na interface com assistência social, cultura, lazer e esportes, transporte e justiça; e, 5) incentivar a participação da comunidade nas ações de inclusão social e escolar, a partir da formação de uma rede de apoio social.

 

Segundo a professora Maria Elisa, membro da Coordenadoria, “não é fácil chegar na sala de aula e ajudar o professor a lidar com as questões da deficiência e do preconceito”. Mas, aos poucos, segundo ela, a Coordenadoria foi entrando nas escolas, vencendo as barreiras e fazendo a inclusão das crianças deficientes. “Mostramos a todos o potencial dessas crianças e jovens e, agora, acho que, finalmente, chegamos num momento de cultivar isso tudo. Sobretudo, continuarmos ajudando o nosso professor a colocar a inclusão pra frente.”

 

Embora sejam pioneiras em suas estratégias e estarem produzindo mudanças nas escolas, as professoras da Coordenadoria ainda consideram as iniciativas insuficientes para dar conta de toda a problemática presente nesse processo. “Precisamos expandir mais e qualificar melhor os educadores em relação ao trabalho com o aluno com deficiência”, explica a Coordenadora de Educação de Itaquera, Elizabete dos Santos Manastarla. A adaptação curricular e a elaboração de estratégias pedagógicas diferenciadas são necessárias para uma melhor participação e aproveitamento escolar das crianças com deficiência.

 

O distensionamento das relações interpessoais e profissionais presentes no processo de inclusão escolar é outro aspecto a ser considerado, sendo que para tanto, a formação e acompanhamento dos trabalhos dos educadores é uma forma de contribuir para a mudança, visando a formação de uma cultura de inserção escolar prazerosa e proveitosa para todos os envolvidos (alunos com e sem deficiência e educadores).

 

Para superar os obstáculos, a professora Manastarla adiantou que vários trabalhos já vêm sendo desenvolvidos pela Coordenadoria de Itaquera nos últimos anos, como a formação dos educadores, elaboração de propostas de adequação dos esforços físicos, de acesso à tecnologia assistiva, de acompanhamento das crianças nas suas respectivas escolas, de promoção de debates e/ou eventos com a comunidade etc.

 

Segundo a Coordenadora, “a inserção escolar de crianças com deficiência prevê a organização de um conjunto de esforços e ações capazes de proporcionar condições de uma inclusão escolar não perversa, ou seja, não basta a presença da criança na escola, é necessário que o seu acesso à educação seja pleno, não excludente, tanto do ponto de vista pedagógico como sócio/relacional”.

 

De acordo com as portarias, as escolas de educação especial visam atender, em caráter extraordinário, todos os que optarem por esse serviço. Em especial, os alunos que não tiveram suas necessidades educacionais ou sociais atendidas em classes comuns. No entanto, o decreto, que estabelece diretrizes para a política de atendimento a esse público, assegura a plena matrícula em classes comuns, visto que “reconhecida, considerada, respeitada e valorizada a diversidade humana, fica vedada qualquer forma de discriminação”.

 

A matrícula no ciclo, ano e agrupamento deve corresponder com a idade cronológica do interessado, conforme critérios definidos em conjunto com os alunos, sua família e os profissionais envolvidos no atendimento. Entende-se por pessoas com necessidades educacionais especiais todas as que, cujas necessidades se relacionem com diferenças determinadas, ou não, por deficiências, limitações, condições e/ou disfunções no processo de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.

 

O projeto pedagógico do CEFAI leva em conta inúmeros fatores como: o número de alunos por classe; o acesso em horários que viabilize os atendimentos complementares ao pleno desenvolvimento do aluno; o atendimento de suas necessidades básicas de locomoção, higiene e alimentação; bem como o estabelecimento de parcerias e ações que incentivem o fortalecimento de condições para que os alunos especiais possam participar efetivamente da vida social.

 

“A educação inclusiva, ao longo prazo, eleva a qualidade de vida das pessoas especiais porque acaba interferindo positivamente na formação da família e na inserção no mercado de trabalho”, relatou o analista de sistema da PRODAM, Sidney Tobias de Souza, deficiente visual e há 18 anos na empresa. “As crianças sem deficiência (ditas normais) também ganham ao conviver com a diversidade, com as diferenças, pois aprendem a deixar os preconceitos de lado e a serem pessoas solidárias”, finalizou Souza. Os serviços de educação especial serão oferecidos em caráter transitório, na perspectiva de se garantir a permanência/retorno à classe comum.

 


Comunidade é duplamente atendida

 

O espaço onde funcionará o CEFAI de Itaquera, ficou fechado por muito tempo e, por isso, foi alvo de várias manifestações da comunidade, que exigia um destino social para o local. “Antes de o Subprefeito liberar esse espaço à educação, o atendimento às crianças era feito na sede da própria Coordenadoria, que ficou pequena”, esclarece Manastarla.

 

O projeto arquitetônico prevê a construção de dois vestiários, quatro salões e uma piscina, onde estudantes universitários (estagiários) desenvolverão sessões de hidroterapia com as crianças, jovens e adultos. O jardim existente no local será mantido e utilizado no trabalho de desenvolvimento sensorial dos alunos, através das cores, aromas e texturas das plantas, flores, pedras.

 

Devido à importância de capacitar os profissionais, um dos salões será destinado especialmente para a realização de cursos de formação. Os outros salões, de 63 metros quadrados cada, serão utilizados para os demais trabalhos especializados que atenderão deficientes físicos; visuais e auditivos; e mentais.

 


CEFAI, um palco de parcerias

 

Um dos objetivos do projeto é dar continuidade às parcerias com as universidades, a exemplo das já existentes com as Faculdades de Psicologia e de Medicina da USP que fornecem apoio às crianças autistas, psicóticas e deficientes mentais; e terapias ocupacionais, através dos estudos voltados à reabilitação e tecnologia assistiva, atendendo aos deficientes físicos, visuais, mentais e auditivos. São parceiras ainda a Faculdade São Camilo (fonoaudiologia); Universidade Camilo Castelo Branco (fisioterapia); Universidade Mackenzie (deficiência mental); UNICID (deficiência mental); e Faculdade Santa Marcelina (deficiência mental).

 

O lançamento da pedra inaugural do CEFAI Itaquera, contou com a apresentação dos jovens assistidos pelo Centro de Ação Social Espaço Livre e pelas crianças da banda musical da EMEF João Naoki Sumita. “Se eu tivesse seguido as orientações dos médicos que cuidavam de mim e diziam que não podia mais estudar, hoje eu não estaria terminado o ensino médio e pensando em fazer faculdade. Por isso, acho que devemos apostar em qualquer pessoa que tenha vontade de viver”, defendeu José Roberto de Amorim, integrante do Movimento Fraternidade Cristã de Deficiente (FCD). Amorim lembrou que em outubro de 1992, a ONU (Organização das Nações Unidas) adotou o dia 3 de dezembro como Dia Internacional das Pessoas com Deficiência.