Jiu-Jitsu muda vidas em Clube Municipal do Conjunto José Bonifácio

Existentes desde 1998, aulas voluntárias já atenderam mais de 3 mil pessoas; grandes campeões da modalidade aprenderam a lutar através das aulas gratuitas oferecidas no clube

Bem-estar, paciência, crescimento pessoal, disciplina e até a recuperação de um AVC. A prática do jiu-jitsu no Centro Esportivo José Bonifácio, vem proporcionando esses e outros benefícios há mais de 15 anos.

O clube possui tradição nesta arte marcial. Desde 1998, o local recebe atividades do projeto “Nascidos para Vencer”. Atletas renomados da modalidade como Serginho Moraes (que também luta MMA), Paulinho Baraúna, Ewelyn Arruda e Dimitrius Souza aprenderam a lutar jiu-jitsu através desse projeto, criado por Antônio Carlos Braga, o professor Toni.

Mestre Dan, o primeiro aluno do Nascidos para Vencer, assumiu o projeto depois que o professor Toni foi morar em Brasília. Ele praticava basquete e boxe no clube. Um dia, o Toni começou a lhe ensinar o jiu-jitsu em forma de brincadeira. Ficou interessado e começou a treinar de verdade. Em poucas palavras, ele resume a missão das atividades de jiu-jitsu oferecidas no clube: “Se todos serão campeões mundiais, eu não sei. Mas que serão grandes homens, tenho certeza”.

Desde a sua criação, o projeto já atendeu mais de 3 mil pessoas, sendo a maioria crianças e adolescentes. Muitos desses alunos resolveram seguir na área de Educação Física. A formação de todos os professores do projeto. Além das aulas voluntárias, eles também ensinam jiu-jitsu em outras academias. O Nascidos para Vencer ajudou-os a ter um futuro melhor. 

Um dos alunos que mais marcou a vida de Mestre Dan foi Serginho Moraes (foto). “Ele brigava muito, tinha problemas em casa e era extremamente hiperativo. Ele realmente se encontrou no jiu-jitsu”, relata o Mestre. Serginho já participou de lutas no UFC e foi vice-campeão do seriado “The Ultimate Fighter: Brasil”.

Entre o AVC e os aplausos
Outro caso de sucesso é o Edson Magdalendo, 41 anos, um dos campeões da última Copa Cohab Team, ocorrida em agosto. Ele não tinha essa pretensão, foi para o Clube participar e não competir, mas Mestre Dan falou: “você vai lutar agora”. Então, colocou o quimono, mas não sabia quem era meu adversário. Sentiu-se cambaleando de um lado para outro, mas a luta foi muito boa. Na hora, fluiu tudo naturalmente. No final, só percebeu que tinha ganhado depois que viu mais de mil pessoas em pé, batendo palmas para ele.

Essa história poderia parecer normal se não fosse um detalhe: Edson, também conhecido como Pata, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) em 2008. O problema de saúde do caminhoneiro (foto) foi ocasionado pela pressão arterial alta. “Quando eu tive AVC, não conseguia nem falar direito. O jiu-jitsu foi minha fisioterapia”, relata o lutador. Hoje em dia, a prática esportiva associada a uma boa alimentação são os principais meios para que Edson mantenha sua pressão arterial controlada.

Antes do acidente vascular cerebral, Pata já era aluno do CE José Bonifácio. Ele começou a treinar em 2007, alcançando a faixa branca antes do AVC. Depois da doença, o caminhoneiro nunca mais havia ganho um título no jiu-jitsu. Questionado sobre seus objetivos, Pata revelou que deseja praticar outras modalidades, mas quer continuar competindo paralelamente no jiu-jitsu: “O importante é lutar. Vencer, às vezes”, finaliza.

Entusiasmo

Mateus Trindade da Silva foi um dos casos de sucesso na modalidade. Treinando há dois anos e meio na Cohab II, o garoto de 12 anos decidiu praticar jiu-jitsu depois de saber que uma amiga também estava lutando: “Eu acabei gostando do esporte. Antes eu tinha tentado jogar futebol, e basquete, mas não consegui”. Campeão da Copa Ferraz em 2011, Mateus também teve sua vida beneficiada pelo esporte: “passei a ter mais disciplina. Antes eu brigava muito na escola, agora sou mais calmo. Além disso, o esporte melhorou meu condicionamento físico. Antes eu era bem gordinho”, conta Mateus.

Todos os dias, a aposentada Maria Isabel Siqueira tem um compromisso: trazer um dos netos para o CE José Bonifácio. Guilherme Santos, de dez anos, treina três vezes por semana no período da tarde. Já Rafaela, a irmã de apenas cinco anos, treina em outros dias durante a manhã. Teve um dia em que a escolinha estava em greve e eu a trouxe. Ela gostou e quis treinar. “A Rafaela já participou de dois campeonatos. Ela não reclama de nada, faz todos os exercícios direitinho e gosta muito da Ewelyn e do Dan. Ela fica brava quando não vem aos treinos, relata orgulhosamente Maria Isabel.

Guilherme teve um início diferente no esporte: “ele tinha problemas de falta de atenção. Aí a psicóloga dele falou que a prática de esportes ajudaria bastante. Ela indicou alguns esportes, entre eles o jiu-jitsu. Em certo dia, ele veio, gostou e prosseguiu no esporte. Hoje em dia eles estão se alimentando melhor e têm muito mais concentração. Tenho muito gosto em trazer os dois para as aulas. Sou uma verdadeira avó coruja”, finaliza.

Sem fronteiras 

Além de ensinar jiu-jitsu no Brasil, Mestre Dan também mantém um projeto na Cohab Viña Del Mar, no Chile. “Quando vou para lá, vou às faculdades para ensinar a teoria do jiu-jitsu”, enfatiza. Dan lembra que, certa vez um grupo de alunos com baixo rendimento escolar passou a praticar a modalidade. Tempo depois, o mesmo grupo passou a ser muito mais disciplinado. “O jiu-jitsu, assim como diversos outros projetos esportivos, tem essa importância.” No Chile, a arte marcial integra o currículo de Educação Física nas escolas.

Mais do que fronteiras educacionais, essa modalidade também já extrapolou fronteiras esportivas. Esse é o caso de Edvair Gomes da Silva, que conseguiu juntar a capoeira com o jiu-jitsu. “Nas rodas de capoeira, todo mundo queria algo a mais. Nesse esporte, a parte do pé é extremamente eficiente. Com o jiu-jitsu, conseguimos acrescentar novos elementos”, menciona Edvair. O gosto pela arte marcial foi tão grande que o capoeirista resolveu ensiná-la a seus filhos: “hoje em dia eles são bem mais disciplinados”, afirma.

Serviço
Ao falar sobre a prática do jiu-jitsu, Mestre Dan enfatizou as diferenças entre essa arte marcial e o MMA: “infelizmente, algumas mães não querem que seus filhos pratiquem esse esporte alegando que o jiu-jitsu é violento. Nesta arte marcial não há socos, chutes, pontapés, mordidas ou cotoveladas. Esses são elementos do vale-tudo”, salienta.

Edvair Silva registrou seu convite: “Já se diz nas redes sociais que o esporte é aquilo que salva. Com o projeto, a criança não fica com tempo ocioso na rua tendo referências negativas. Quanto mais tempo a pessoa fica no esporte, mais benefícios ela terá. Um dos exemplos disso é o Serginho Morais, que está onde está graças ao esporte”, opina.

Mestre Dan foi um dos precursores do projeto Nascidos para Vencer
Para participar do projeto e das aulas para adultos no CE José Bonifácio, basta levar seu RG, uma foto 3x4, comprovante de residência, um atestado médico que comprove que não há restrição à prática esportiva ao clube e fazer a sua carteirinha.

 

Confira abaixo os horários das aulas:

Crianças e adolescentes (de 4 a 17 anos):
Segundas, quartas e sextas - das 9h30 às 10h30
Período vespertino 

Adultos:
Segunda a sexta - das 7h30 às 9h
Segundas, quartas e sextas- das 10h30 às 12h
Terças e quintas - das 12h30 às 14h30

CE José Bonifácio
Rua Ana Perena, 110, Cohab II, Itaquera.