Pro-Aim

Boletim PRO-AIM nº 03 / 1º trimestre 1991

A desigualdade do perfil de mortalidade no município de São Paulo

A morte é um acontecimento importante para a atuação dos serviços de saúde. Um dos principais usos das informações de mortalidade é na realização dos diagnósticos de saúde. A análise do perfil de mortalidade no município de São Paulo contribui para a definição das prioridades para a atuação dos serviços públicos na prevenção de mortes, atuando nos fatores que as determinam ou mesmo organizando os serviços para o atendimento das necessidades.

Com a criação do PRO-AIM, esses diagnósticos no que se refere a mortalidade tornaram-se rotineiros, atuais e descentralizados. Isto permitiu uma utilização mais ampla das informações nas diversas fases do trabalho em saúde.

O perfil da mortalidade do município como um todo, no entanto, representa uma média geral e não permite captar as profundas diferenças nos perfis de diferentes grupos sociais. O PRO-AIM permite a realização de diagnósticos locais, identificando os riscos diferenciados e indicando ações específicas das equipes de saúde.

Tem-se observado que apesar das doenças do aparelho circulatório se apresentarem como principais causas de morte em todas as regiões, na região central o segundo grupo de causas de morte é representado pelas Neoplasias ou Tumores, enquanto em regiões mais periféricas como Santo Amaro e Itaquera, este posto é ocupado pelas mortes violentas ou causas externas, indicando prioridades diferenciadas.

Numa comparação entre os tipos de violência ou tumores que levam à morte em diferentes regiões, observam-se indicadores importantes. De acordo com estudo realizado pelo PRO-AIM, no período de maio/90 a abril/91, o homicídio representou 38 % das mortes violentas na região central, enquanto nas periferias o percentual foi de cerca de 60 %, indicando ser esta a principal razão dos altos índices. Ocorrem, em média, mais de 5 assassinatos por dia nas regiões de São Miguel Paulista, Itaquera e Santo Amaro, que são provocados tanto por brigas entre quadrilhas quanto pelo assassinato de trabalhadores e indigentes, refletindo as péssimas condições de vida e o risco permanente que correm as populações da periferia de São Paulo.

Em relação aos tumores, de acordo com o mesmo estudo, existe também uma diferença importante, pois o câncer de colo de útero, por exemplo, prevenível por exame simples e barato e ligado às condições de vida, tem maior importância como causa de morte, em relação aos outros tumores, na periferia. O mesmo ocorre com outras doenças como a desnutrição, as meningites, as cirroses ou a própria hipertensão arterial e indicam diferenças no acesso e qualidade do serviço oferecido à população, nos padrões de consumo, no stress que é tanto maior quanto piores as condições de vida, revelando que existe uma diferença muito grande nas formas de viver, adoecer e morrer de grupos sociais distintos no município de São Paulo, refletindo a desigualdade em relação à própria sobrevivência.

Numa análise mais descentralizada como vemos na Tabela 1, podemos comparar o perfil da mortalidade de dois subdistritos da região central de São Paulo. Enquanto o perfil do Jardim Paulista é semelhante aos de países de primeiro mundo, em Santa Ifigênia, região com cortiços e prostituição, temos um perfil mais semelhante ao observado nas periferias.

É preciso reduzir os diferenciais nos riscos de morrer das populações e isto só será possível com o conhecimento profundo da realidade, permitindo a definição de ações e prioridades que derrubem o muro que separa as condições de vida das diferentes populações no município de São Paulo

Para maiores informações, entre em contato com:
PRO-AIM
Viaduto Dona Paulina - Baixos
CEP: 01501-020 São Paulo-SP
Tel/fax: (011) 3247-7038 / 3247-7033
e-mail : proaim@prefeitura.sp.gov.br