Pro-Aim

Boletim PRO-AIM nº 24 / 2º trimestre 1996

Ocupação e mortalidade no município de São Paulo

A ocupação é um dado da Declaração de Óbito (DO) pouco utilizado nas análises de mortalidade. A ampliação de seu uso pode trazer novos elementos para a compreensão dos perfis de mortalidade relacionados às condições de vida dos diferentes grupos sociais.

Uma dificuldade para esse tipo de estudo no Brasil é a incompatibilidade entre a classificação ocupacional adotada pelo IBGE para a base populacional e a do sistema de informações de mortalidade, o que impede a comparação das estimativas do risco de morte segundo grupo ocupacional. Neste boletim serão apresentados alguns elementos para a análise da mortalidade na Cidade de São Paulo segundo a ocupação registrada na "DO". Não se pretende relacionar a causa da morte a um posto de trabalho específico. A ocupação será entendida como um indicador social que pode contribuir para o conhecimento dos diferenciais de mortalidade. Para isso serão utilizados os grandes grupos ocupacionais da CBO (*):

trab. profissões científicas e técnicas;
gerentes/diretores/membros dos Três Poderes;
trab. serviços administrativos;
trab. comércio;
trab. serviços pessoais;
trab. agricultura/pecuária;
trab. prod. industrial e transportes;
trab. braçais.
 

A composição de alguns grupos é bastante heterogênea, como no grupo IV onde estão tanto comerciantes quanto comerciários. Outra questão é que algumas formas de registro na "DO", tais como dona de casa, aposentado, estudante e desempregado não definem um grupo ocupacional. No caso dos aposentados, o correto seria preencher a ocupação desempenhada anteriormente, o que nem sempre ocorre. Para uma melhoria na qualidade da informação, foi escolhida a faixa etária potencialmente produtiva (15 a 64 anos).

Nesta faixa etária, em 1995, ocorreram 22.326 óbitos de homens e 9.440 de mulheres no município de São Paulo. As principais causas de morte no sexo masculino foram homicídios - 19,8%, AIDS - 9,9%, doenças isquêmicas do coração (DIC) - 8,9% e doenças cerebrovasculares (DCV) - 5,5% e no sexo feminino foram DCV - 10,2%, DIC - 9,6%,AIDS- 6,8% e neoplasia de mama - 5,7%.

Entre os óbitos ocorridos no sexo masculino, 13,4% das "DO" não tinham ocupação mencionada ou a mesma não foi localizada na CBO e em 9,4% a ocupação foi codificada como aposentado. Entre as mulheres, 52,4% foram registradas como donas de casa. Estes problemas prejudicam a análise dos dados, pois considera-se que há sub-registro da ocupação. Os grupos que apresentaram baixo número de óbitos não foram considerados neste estudo.

Comparando os grupos ocupacionais quanto a faixa etária, verifica-se que, em relação aos óbitos masculinos no grupo II, 67% tinham entre 45 e 64 anos, já no grupo VIII, apenas 19,7% ocorreram nesta faixa etária. Quanto aos óbitos femininos no grupo I, 58,4% tinham entre 45 e 64 anos, e no grupo III esta faixa concentrou 39,3% das mortes. Estes números demonstram que nos grupos ocupacionais menos qualificados morre-se mais precocemente.

No que diz respeito a causa de morte, a primeira entre os homens dos grupos I e III foi AIDS, dos grupos IV, V, VII e VIII foi homicídio, e do grupo II foram doenças isquêmicas do coração. Entre as mulheres, a primeira causa no grupo III foi AIDS, nos grupos V e VII foram doenças cerebrovasculares, no grupo I foi neoplasia de mama, e no grupo IV, AIDS e homicídio. Estes dados indicam diferentes inserções destes trabalhadores nas situações de risco geradoras dos agravos considerados e as inequidades no acesso e qualidade dos serviços de saúde.

O uso rotineiro da variável ocupação nas análises de mortalidade pode contribuir para o equacionamento das limitações metodológicas e de qualidade da informação, ampliando o conhecimento dos problemas e das necessidades da população.

(*) Classificação Brasileira de Ocupações, Ministério do Trabalho, 1977. Versão adaptada para o sististema de informação de mortalidade/ Ministério da Saúde.

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