Pro-Aim

Boletim PRO-AIM nº 26 / 4º trimestre 1996

Desigualdades sociais na mortalidade por AIDS na cidade de São Paulo 

A mortalidade por AIDS, na cidade de São Paulo, foi crescente até 1995. Em 1996, pela primeira vez na história da epidemia na cidade, ocorreu uma queda no número de óbitos, que foi observada somente no sexo masculino. No feminino foi mantida a tendência até 1996, embora com redução da velocidade de crescimento. Entretanto, este quadro mostra o comportamento da mortalidade na cidade como um todo, sem revelar suas diferenças internas.

Nesse boletim analisam-se os níveis e tendências da mortalidade por AIDS na cidade de São Paulo, nos diferentes grupos sociais, utilizando as variáveis ocupação, escolaridade e área de residência. Compara-se ainda, segundo grupos sociais, a queda da mortalidade entre os primeiros quadrimestres de 1996 e 1997, período em que o coquetel de drogas anti-retrovirais passou a ser distribuído pelos serviços públicos de saúde.

A mortalidade por AIDS, no período de 1991/96, tem mantido coeficientes mais elevados (p/100.000 hab), em áreas do centro celho da cidade. Em 1996, os maiores coeficientes para o sexo masculino foram nos distritos administrativos da República (215,2), Bela Vista (156,2), Sé (144,1) e Santa Cecília (115,4). Enquanto para o sexo feminino foram: Sé (64,5), República (55,2), Cachoeirinha (41,5) e Pari (36,6). O padrão de riscos de morte mais elevados na Área Central, bem definido entre os homens, contrasta com a maior dispersão espacial das mortes de mulheres, que apresentaram muitas áreas periféricas entre as de maiores coeficientes, revelando dinâmicas diferenciadas da mortalidade por AIDS.

As tendências foram analisadas segundo os 58 subdistritos de paz(SDP) do município e o sexo. No masculino, há uma tendência de queda bem definida em 15 subdistritos, todos eles localizados em regiões centrais ou próximas do centro e, em 21 subdistritos, a maioria localizada na periferia, há uma marcada ascensão. No feminino, todas as tendências bem definidas foram de ascensão (38 SDP). Há con-comitância de ascensão em ambos os sexos em 17 SDP, dos quais 15 são localizados na periferia da cidade. Entre estes, aqueles que apresentaram maior crescimento foram: Sapopemba, Guaianases, São Mateus, Capela do Socorro e Santo Amaro. As tendências, segundo os grupos ocupacionais, mostram que no sexo masculino ocorreu maior crescimento da mortalidade entre trabalhadores nos serviços pessoais, indústria/transporte e braçais. No sexo feminino, o crescimento maior foi observado entre trabalhadoras donas de casa e em serviços pessoais e administrativos. O crescimento diferencia do segundo grupos ocupacionais e áreas de residência, ocorre em prejuízo das populações vivendo em piores condições socioeconômico-ambientais.

No primeiro quadrimestre de 1997, observou-se uma queda de 31,5% no número de óbitos por AIDS com relação ao mesmo período de 96, sendo de 35,7% no masculino e 19% no feminino. Com relação a escolaridade, a maior queda foi em pessoas com nível superior (54%) e a menor entre analfabetos (18,4%). Com relação a ocupação, observou-se a maior queda entre trabalhadores das profissões técnicas e científicas (44,2%) e a menor entre as donas de casa(11,9%). Observou-se queda em todos os grupos ocupacionais segundo o sexo, exceto entre trabalhadoras no comércio (ascensão) e no serviço pessoal (estabilidade). Comparando-se áreas homogêneas da cidade, construídas segundo a escolaridade do chefe da família, observou-se uma queda de 46,6% nas regiões com melhores níveis educacionais e de 24,7% nas de piores. Os dados revelam que, se a razão principal da queda foi a introdução da terapia com anti-retrovirais, o acesso desigual a esta terapia pode estar gerando um impacto diferenciado na mortalidade segundo grupos sociais e contribuindo para ampliar os diferenciais existentes nas tendências.

As desigualdades sociais na mortalidade por AIDS na cidade de São Paulo são evidentes e crescentes, e exigem a busca de equidade no acesso a ações de prevenção e assistência adequadas. Estas informações visam contribuir para um melhor desenvolvimento de ações comprometidas com a vida e a redução destas iniqüidades.

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