Secretaria Municipal da Saúde

menu Menu do Site
Quarta-feira, 8 de Maio de 2019 | Horário: 08:00

Dor na menstruação pode ser alerta para a endometriose

Estima-se que 10 milhões de brasileiras sejam portadoras da doença; Hospital Municipal de Vila Nova Cachoeirinha é referência no assunto

Por Renan Cacioli

 

O dia 22 de março de 2018 representou uma espécie de renascimento para Kátia Cristina Pereira Valentin. “Faz um ano e três meses que estou livre da endometriose, sem focos”, diz a auxiliar de limpeza, que passou 24 dos seus 49 anos de vida convivendo com dores durante a menstruação e as relações sexuais.

O divisor de águas aconteceu sob os cuidados da equipe do Doutor Geraldo Maurício de Nadai, chefe do serviço de ginecologia do Hospital Municipal Maternidade-Escola de Vila Nova Cachoeirinha, na zona Norte de São Paulo, referência no diagnóstico e tratamento da endometriose.

“Em 2014, entrei em cirurgia, mas por conta do aparecimento de miomas. Na cirurgia, descobriu-se que meu útero estava praticamente destruído, se desmanchando. Eu tinha mesmo um corrimento escuro. Fiz tratamento com remédio. E quando viram depois, não tinha mais foco”, diz, aliviada. “Essa mudança representou tudo. Poder trabalhar, emagreci 22 kg... Sou outra mulher!”

A jornada foi longa. Dois anos após ter o filho Leonardo, começaram as dores fortes. “O fluxo foi aumentando muito, então procurei ajuda e fiz minha primeira cirurgia, que não resolveu praticamente nada. Na época, era uma doença muito desconhecida. Há 22 anos, nem se falava em endometriose. O que se dizia? Que era normal mulher ter cólica e bastante fluxo”, conta.

Foram duas cirurgias até o acolhimento no Vila Nova Cachoeirinha, onde ela finalmente se viu livre do problema. “A gente costuma falar que a família vira endomarido, endofilho, endosogra, todo mundo entra no esquema, porque você fica praticamente inválida. Sentir dor não é normal. Quando fui fazer minha primeira cirurgia, o médico disse: ‘A mulher não é feita para ter dor’, e eu guardo isso comigo. Toda vez que vejo uma pessoa dizendo ter dor na menstruação, falo: ‘Corre, vê, pesquisa, porque pode ser endometriose’”.

Mas o que é esta doença?

A endometriose é uma doença crônica, provocada pela migração do tecido que reveste a cavidade uterina, o endométrio, para outras partes do corpo, principalmente abdome, além de ovário, ligamentos uterinos, bexiga e intestino. Atinge mulheres a partir da primeira menstruação e pode se estender até a última.

Estima-se que 176 milhões de mulheres no mundo sejam portadoras da doença. No Brasil, o cálculo gira em torno de 10 milhões. O diagnóstico não é tão simples e, muitas vezes, exige emprego de exames de imagem de maior complexidade, como ressonância magnética e técnicas especiais de ultrassom. Calcula-se que o intervalo médio entre o início da doença e o diagnóstico seja de pelo menos sete anos.

Os efeitos da endometriose em algumas mulheres são devastadores, comprometendo de forma significativa qualidade de vida e fertilidade. As taxas de recidiva da doença ainda são elevadas, mesmo em pacientes operadas com êxito, girando em torno de 15% a 20%.

Vila Nova Cachoeirinha é referência

O Hospital Maternidade-Escola de Vila Nova Cachoeirinha, que pertence à Prefeitura de São Paulo, é atualmente a referência no SUS para endometriose profunda. Muitos casos mais graves de outras cidades e estados acabam sendo encaminhados para lá, sobrecarregando o serviço.

Para se ter uma ideia, foram 2.054 atendimentos de endometriose, entre casos novos e retornos, em 2017. No ano passado, o número já saltou para 3.311. Em 2019, até o momento, foram realizados cerca de 900 atendimentos.

Sempre buscando melhorar o serviço e reduzir o tempo de espera na fila de cirurgias, o Vila Nova Cachoeirinha atua no sentido de formar e capacitar novos profissionais com condições de abordar formas mais graves da doença. Há um programa específico de residência médica voltado a cirurgia laparoscópica e endometriose, além de programas de capacitação e aprimoramento para médicos de todo o Brasil.

*Com informações de Geraldo Maurício de Nadai, chefe do serviço de ginecologia do Hospital Municipal Maternidade-Escola de Vila Nova Cachoeirinha
 

collections
Galeria de imagens