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Quarta-feira, 17 de Abril de 2019 | Horário: 11:55

Precisamos perder a mania de não levar o TOC tão a sério

Entenda por que os hábitos repetitivos podem incapacitar rotina de quem sofre do transtorno


Terapeuta Patrícia Malengo, no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Adulto III Paraisópolis

Por Renan Cacioli

De acordo com uma das definições da palavra “mania”, trata-se de “hábito estranho, incomum e geralmente repetitivo”. No dia a dia, costumamos associá-la a algo engraçado, leve, que não prejudica ninguém. Porém, quando passa a comprometer a rotina da pessoa a ponto de incapacitá-la, a tal da mania pode receber um nome mais complexo: Transtorno Obsessivo-Compulsivo, o popular TOC.

No entanto, mesmo quando se fala em TOC, o imaginário popular geralmente remete a um costume qualquer, um mal menor. “A palavra mania é muito perigosa, ela pode incidir em outros diagnósticos. O TOC causa sofrimento psíquico, está habituado a um ritual que, se não for efetuado, provoca sensação de algo negativo, trágico. Esse ritual pode ser um comportamento ou pensamento obsessivo”, explica Patrícia de Camargo e Melo Malengo, terapeuta ocupacional especializada em psicopatologia.

Ou seja, dando um exemplo prático: se você gosta da casa sempre em ordem, organizada, e não pode ver nada fora do lugar, isto é perfeitamente normal. Agora, caso passe um pano pelo mesmo lugar repetidas vezes e, ainda assim, na sua mente, aquele local continua sujo, é sinal de que está na hora de procurar ajuda.

“A característica principal é que esse pensamento ou comportamento vai causar uma disfuncionalidade. Não tem a ver com deixar quarto organizado ou com você funcionar de uma maneira mais rígida. O TOC é excesso”, diz a profissional.

Segundo o psiquiatra Edmundo Clairefont Dias Maia, assessor de Saúde Mental da Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) Norte, estudos epidemiológicos atuais apontam para a prevalência do TOC em torno de 2,3% da população em geral. Apesar de poder surgir na infância, o transtorno frequentemente só é diagnosticado mais tardiamente, em razão do desconhecimento dos sintomas pelos familiares e mesmo pelos clínicos generalistas.

“Fatores educacionais, como ênfase na disciplina e nos deveres a serem cumpridos, podem reforçar a tendência ao exagero da responsabilidade e da culpa, aspectos bastante exagerados em paciente com TOC ou quadros similares”, afirma o psiquiatra.

Como procurar ajuda?

A rede pública de saúde em São Paulo oferece tratamento a portadores desse distúrbio em diferentes graus. A porta aberta é o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Dentro dele, há tratamento medicamentoso e acompanhamento multidisciplinar. O objetivo é diminuir o sofrimento psíquico, favorecer a compreensão do quadro que acometeu essa pessoa e ajudá-la a se instrumentalizar para lidar com as características do transtorno, ou seja, entender por que faz isso e como pode fazer diferente.

Quando o quadro é mais ameno, a manutenção do caso pode acontecer nas próprias Unidades Básicas de Saúde (UBS), com acompanhamento clínico que pode ser compartilhado com um psiquiatra do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF).

O TOC tem cura?

“Não é a maior incidência, mas existem casos leves em determinadas faixas etárias em que você tem o desaparecimento dos sintomas. Mas, na grande maioria, o que acontece é o controle da doença”, afirma a terapeuta Patrícia de Camargo.

É comum, também, a associação deste transtorno com outras doenças, como a depressão (66%); fobia simples (22%); fobia social (18%); transtornos do comportamento alimentar (17%); dependência de álcool e drogas (14%); transtorno do pânico (12%); Síndrome de Tourette (doenças dos tiques motores e vocais) (7%).

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