Riscos da automedicação

Uso inadequado e sem prescrição médica de remédios dificulta diagnóstico de doenças severas

Por Gabrielle Pereira e Rosângela Rosendo

Em tempos em corre-corre para realizar todas as atividades da vida, é quase impossível encontrar alguém que um dia não tenha se automedicado. No impulso de concluir as várias tarefas diárias, muita gente, quando sente dor, toma de maneira indiscriminada qualquer tipo de droga, seja analgésico, antiácido, anti-inflamatório. Nessa corrida contra o tempo, e sem a mínima preocupação com a saúde, as pessoas deixam de consultar o médico, profissional capacitado para investigar sintomas, fazer diagnóstico correto e indicar o melhor tratamento para cada caso.

Segundo o pediatra, sanitarista e homeopata Salvador Aparecido Lioi, da UBS Jardim da Saúde Neusa Rosalia Morales, da Supervisão Técnica de Saúde Ipiranga, a automedicação ocorre com frequência quando uma pessoa apresenta algum tipo de dor ou incômodo e decide, por conta ou indicação de leigos, consumir qualquer tipo de medicamento para o alívio imediato de sintomas.

Identificação prejudicada

“O uso inadequado e sem prescrição de medicamentos, além de mascarar sintomas, pode dificultar, de modo especial, a identificação de uma doença mais severa, como uma apendicite”, alerta o médico ao destacar que, uma vez diagnosticada, a apendicite é tratada com cirurgia.

Entretanto, alerta Lioi, quando um indivíduo tem dor epigástrica, para garantir o alívio imediato opta pela automedicação com remédio popular à base de hioxina. “O que ele não imagina é que essa medida pode interferir no quadro de sintomas típicos de uma apendicite aguda e interferir no diagnóstico clínico e tratamento. Neste caso, é grande o risco da apendicite suporar e tornar-se uma peritonite”, adverte.

Em tempos de ocorrência de casos de dengue, o especialista alerta para o risco do uso de anti-inflamatórios, que pode interferir na capacidade de coagulação do paciente e piorar o quadro clínico.

O especialista comenta que, em alguns casos, a automedicação pode ocorrer involuntariamente. “Há situações em que crianças têm acesso fácil e ingerem remédio por acidente, o que pode gerar risco de intoxicação. Produtos descongestionantes, vasoativos, sem prescrição médica, podem provocar arritmia e até queda de pressão arterial nas crianças”, alerta o médico.

Procure o médico

Para evitar este tipo de problema, Lioi recomenda procurar o médico diante de qualquer sintoma, seguir corretamente a prescrição da receita e evitar conselhos de ‘palpiteiros’. “Sobretudo, é importante eliminar sobras de remédio em casa, porque o tempo de validade pode estar vencido e a droga perder a efetividade, aumentando o risco de intoxicação”, diz pediatra.