BiBiTanTã leva folia ao Parque do Ibirapuera

Cordão proporciona alegria e bem-estar a pacientes de saúde mental

Grupo busca fazer a diferença ocupando espaços públicos, aberto a todos, sem que haja distinção

 

Por Karina Mendes
Foto: Edson Hatakeyama

O Parque Ibirapuera vibrou, na tarde da terça-feira (2), com o desfile de marchinhas do Cordão BiBiTanTã. A folia de Carnaval reuniu usuários e funcionários dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) Itaim Bibi, Butantã, Lapa e também dos Centros de Convivência e Cooperativa (CECCO) Ibirapuera, Campo Limpo e Previdência.

Com aproximadamente dez anos de vida, o cordão BiBiTanTã surgiu após uma atividade desenvolvida com um grupo de samba no CAPS Itaim, em 2006. Depois de contagiar de alegria os usuários que sofrem de transtornos mentais, os funcionários se uniram à equipe do CAPS Butantã e fundaram o bloco carnavalesco que, mais tarde, levaria para o estandarte do cordão a junção dos nomes de seus bairros: Itaim Bibi e Butantã. Nascia, assim, o BiBiTanTã.

Apesar de parecer apenas folia de Carnaval, o bloco vai além. As unidades envolvidas trabalham o ano todo para desenvolver canto, composição, dança e a confecção das fantasias. Tais tarefas dão aos pacientes a sensação de pertencimento na sociedade. “Acho que eles se sentem muito mais inseridos quando desenvolvem essas atividades, pois estão fazendo tudo o que as outras pessoas fazem” diz Ana Galuzi, terapeuta ocupacional do CECCO Ibirapuera.

‘O samba sara, o samba cura’

Com mestre de bateria, ritmistas e até aulas de dança no decorrer do ano, o cordão se tornou, para muitos, uma energia que os pacientes do CAPS e os usuários do CECCO agarram para viver. O samba enredo deste ano retrata o que o este estilo musical representa em suas vidas: “Eu sei que o samba sara. Eu sei que o samba cura. Estamos todos juntos, na festa e na mistura”.

A inspiração do bloco e do tema deste ano vem de há muitos séculos. Vem do povo africano, que tem uma história regada de luta e sofrimento, mas que, apesar de todas as dificuldades, sempre foi persistente e fez de suas rodas de samba uma força de resistência. Assim como os africanos, muitos dos pacientes com transtornos mentais têm uma vida cercada de sofrimento e preconceito. Assim, fizeram do BiBiTanTã uma razão para ser persistente.

“A vida dos africanos foi muito dura e sofrida, mas eles resistiram. Os pacientes também têm essa dor na carne e fizeram da alegria que o batuque traz para alma sua força de resistência”, diz Magda Gebrim, psicóloga do CECCO Ibirapuera e idealizadora do cordão.

Cordão ganha as ruas

O cordão, que começou na parceria entre o CAPS Itaim e o CAPS Butantã, busca mais foliões. O BiBiTanTã não é apenas um Carnaval dentro de uma unidade fechada. Busca fazer a diferença ocupando espaços públicos, aberto a todos, sem que haja distinção. Irene de Lourdes, usuária e conselheira gestora do CECCO Ibirapuera, diz que no cordão todos se juntam, os iguais e os diferentes. “O BiBiTanTã é alegria. Me sinto feliz de estar aqui. Todos se juntam, sejam os iguais ou os diferentes. Aqui tem igualdade e liberdade”, diz Irene.

Este ano, o cordão passou pelas ruas do Centro, no dia 31 de janeiro; pelo Parque Ibirapuera, no último dia 2 e se juntou ao bloco Mais Saúde, na última quinta-feira (4), no desfile que saiu da Praça da Republica e percorreu as ruas do Centro.