‘Unidades básicas ganham com a energia dos jovens’

Rejane Calixto Gonçalves, coordenadora da Atenção Básica, faz balanço positivo das primeiras semanas do programa Jovem SUS

'Para o jovem está sendo uma boa experiência porque toma contato com o que é o SUS. Muitos não conheciam ou conheciam de ouvir falar', disse Rejane

Por José Antonio Leite
Foto: Edson Hatakeyama


Jéssica Karlen, de 24 anos, entrou em outubro com o pé direito. Foi aprovada para ingressar no programa Jovem SUS junto a 800 jovens que concorreram com 9.700 candidatos. "Estou vendo minha vida com outra perspectiva", afirmou. Jéssica optou por atuar na Unidade Básica de Saúde (UBS) Joaquim Antonio Eirado, em Santana (zona Norte). Sua felicidade não reside apenas no fato de ter vislumbrado uma nova profissão. Cresce na medida em que vê no rosto de Rosália Valásquez, de 69 anos e usuária da unidade, um sorriso de retribuição. "Com esse pessoal o atendimento na UBS melhorou. Não perdemos tanto tempo na fila. Estamos muito agradecidos", afirmou a usuária.

Relatos como o de Rosália podem ser encontrados em várias das 200 UBS que receberam os bolsistas do Jovem SUS. Por meio das secretarias da Saúde e do Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo e da Coordenadoria de Políticas para a Juventude, eles estão sendo qualificados em unidades localizadas nas seis regiões de saúde da cidade (Norte, Sul, Leste, Oeste, Sudeste e Centro).

Para participar do Jovem SUS os candidatos tiveram de preencher alguns requisitos: morar na Capital, ter idade entre 18 e 29 anos, ensino fundamental completo, estar desempregado há pelo menos quatro meses, sem seguro-desemprego e renda individual na família igual ou menor que R$ 394,00.

Os beneficiários recebem bolsa-auxílio de R$ 827,40 (para 6 horas diárias de atividades teórico-práticas). Integrados às unidades e suas normas, estão atuando no acolhimento aos usuários e seus acompanhantes. Também fornecem informações sobre os procedimentos e serviços prestados no local. Com a equipe multidisciplinar da UBS, integram atividades de grupo e oficinas voltadas para ações de prevenção à saúde. Para falar dos primeiros resultados do projeto, Rejane Calixto Gonçalves, coordenadora da Atenção Básica da Secretaria Municipal da Saúde, conversou com o Portal da SMS.

Qual seu balanço das primeiras atividades do Jovem SUS?

Muito positivo. O objetivo inicial do programa era qualificar o atendimento nas UBS, principalmente no primeiro contato que o usuário tem com aquela unidade. Então, os jovens estão na entrada da unidade, orientando, esclarecendo dúvidas. O primeiro contato do usuário é com esse jovem. Após duas semanas da chegada deles às unidades, temos um retorno que a população os recebeu com aprovação.

Na UBS Joaquim Antonio Airado há relatos muito bons da diminuição de filas...

Esse era um ponto que faltava na unidade. Os profissionais que ficam na recepção já desenvolvem atividades administrativas. Muitos dos jovens conhecem a comunidade e as pessoas que as procuram. Isso é importante porque, conhecendo a unidade e o usuário, a conversa e os encaminhamentos ficam mais fáceis e ágeis. Por outro lado, para o jovem está sendo uma boa experiência porque toma contato com o que é o SUS. Muitos não conheciam ou conheciam de ouvir falar.

E esses jovens podem se tornar multiplicadores no sentido de mostrar para a população a importância do Sistema Único de saúde.

Essa também é uma expectativa nossa. Um dos objetivos é formar esse jovem, dar a ele formação cidadã, com o conhecimento dos princípios do SUS, do atendimento do que é feito nessas unidades e transformar o jovem. Para ele é um enriquecimento do ponto de vista do conhecimento. Quem sabe dali [da unidade] saiam novos trabalhadores do SUS.

Há outras motivações? Conversamos com jovens que ficaram encantados em levar saúde à população.

A bolsa (R$ 827,40) é importante, mas não é o único motivador. Porque dentro do programa vem junto um processo de formação do jovem. Nele, abordamos temas relacionados à saúde, ao trabalho. A ideia é ajudar na preparação do jovem para o mercado de trabalho. Ele encontra possibilidade de conhecer o SUS e se qualificar para enfrentar a disputa no mercado de trabalho. Uma das motivações é ampliar seus conhecimentos.

Fala-se muito da necessidade de propiciar mais humanização ainda ao atendimento na saúde. Isso também no programa Jovem SUS.

Sim, o programa vem no bojo de medidas que a SMS tem trabalhado para melhorar e humanizar mais ainda o atendimento aos usuários. Os jovens acolhem os usuários, ouvem suas dúvidas, organizam a espera, ajudam na acomodação dos usuários. A questão do encaminhamento faz parte das ações de humanização e acolhimento. Isso vai modificar o atendimento. Esperamos que a população sinta que o atendimento está se tornando mais humanizado.

Durante o lançamento oficial do programa, no dia 29 de setembro, o secretário municipal da Saúde Alexandre Padilha frisou que mais do que tratar as doenças é necessário estimular a promoção da saúde.

Esse jovem vai ter contato com a unidade de saúde, vai verificar que ela não apenas trata das doenças. A maioria das ações tem a ver com a promoção da saúde. Um dos pilares do programa relaciona-se com a capacitação, a promoção, faz com que o jovem esteja inserido nas atividades na unidade, nas discussões com equipes. Esse jovem tem de ser parte integrante da equipe enquanto estiver na vigência do programa. E depois pode fazer uma opção de trabalho. O programa não é só para quem recebe a ação, mas também para quem está executando.

A Secretaria procura que os jovens atuem em unidades de sua comunidade.

Muitas vezes procuramos que isso aconteça, mas entre esses 800 jovens há aqueles que estão em unidade fora de sua comunidade, pois nem sempre é possível que ele esteja justamente em seu bairro. Mas, ainda assim, ele vai ter a possibilidade de conhecer o território onde a unidade está inserida, o que é muito bom.

Já há relatos bem interessantes.

Temos relatos de jovens que tinham impressão diferente do que era o SUS e, quando chegaram à unidade, começaram a enxergar o que o SUS faz, que se trata de um bom sistema e essencial para a população. O programa beneficia a população e o jovem. Se a proposta é ajudar na formação do jovem, ele está se beneficiando. O usuário, por sua vez, tem quem o acolha e oriente. A UBS também ganha com a energia dos jovens.