Grupo que discute Doença Falciforme se reúne na Secretaria

Especialistas discutem práticas para acolher doentes na Atenção Básica

Por Nilson Hernandes

Nesta quinta-feira (3) ocorreu, na sede da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), mais um encontro do Grupo Trabalho (GT) que discute a Linha de Cuidados das Pessoas com Doença Falciforme na Atenção Básica. A ação, organizada pela Área Técnica da Saúde da População Negra, reúne as recomendações das áreas envolvidas para compor o texto final da portaria que ampliará o atendimento à população acometida pela Doença Falciforme. A assinatura do documento pelo secretário municipal da Saúde Alexandre Padilha poderá acontecer em novembro, mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra.

A Doença Falciforme é um tipo de anemia hereditária, que atinge os glóbulos vermelhos, prejudica a oxigenação dos pulmões e leva ao entupimento dos vasos sanguíneos. Estima-se que, no Estado de São Paulo, a incidência de nascidos vivos para a doença seja de 1 para cada 4.000. Na cidade de São Paulo, de 50 a 60 crianças nascem com esse tipo de anemia por ano.

Durante o encontro - o sétimo desde o início de março -, hematologistas que atuam nos centros de referência que cuidam desses pacientes expuseram às áreas técnicas que compõem o GT as práticas necessárias para a melhor maneira de acolher os doentes falciformes na rede de Atenção Básica. “Uma das intenções dessa reunião é criar o vínculo entre as áreas técnicas e os centros de referência”, diz a enfermeira Valdete Ferreira dos Santos que, juntamente com a também enfermeira Maria Cristina Honório dos Santos, dirige a Saúde da População Negra na SMS.

O GT é composto pelo Programa Melhor em Casa, pela Atenção Domiciliar, Enfermagem, Saúde Bucal, Estratégia de Saúde da Família, Nutrição e Alimentação Saudável, Saúde da Criança e do Adolescente; Medicina Tradicional, Homeopatia e Práticas Integrativas em Saúde; Regulação, Saúde da Mulher, Saúde do Idoso, profissionais da assistência social e psicológica que atuam nas Unidades Básicas de Saúde e pela Escola Municipal de Saúde.
Na cidade de São Paulo oito centros de referência acompanham esses pacientes - na maioria crianças. São eles os hospitais São Paulo, das Clínicas, Santa Marcelina, Brigadeiro, Cândido Fontoura, Darcy Vargas, Menino Jesus e Santa Casa de São Paulo.

Primórdios do acolhimento

Em 2001, a cidade de São Paulo incluiu no teste do pezinho a detecção para anemia falciforme. Desde então, as crianças identificadas com a doença são encaminhadas aos centros de referência. Com isso a mortalidade dessas crianças diminuiu em 80%.

“Elas devem tomar antibiótico a cada 21 dias para evitar infecções, pois a imunidade nesses casos é muito baixa. Além disso, perdem o baço muito cedo por conta da doença, e esse órgão é o responsável pela fabricação de anticorpos contra infecções”, afirma Valdete. A baixa mortalidade durante a infância se inverte quando essas crianças se tornam adolescentes ou jovens adultos. A inversão se dá, entre outros fatores, pelo abandono do tratamento, que deve ser seguido pelo resto da vida.

No Brasil, vítimas são afrodescendentes

A anemia falciforme tem alta incidência em países da África, do Oriente Médio e na Índia. No Brasil, por conta da grande presença de afrodescendentes, a doença também está presente. Trata-se de uma alteração nas hemácias (glóbulos vermelhos) presentes na corrente sanguínea e responsáveis por levar oxigênio aos pulmões e demais órgãos. A alteração impede a perfeita oxigenação, leva ao entupimento dos vasos sanguíneos e ocasiona muitas dores. O primeiro caso de Doença Falciforme diagnosticado no Brasil foi em 1947, no estado da Bahia. Segundo o Ministério da saúde, o estado registra a maior incidência no país: 1 para cada 650 nascidos vivos.