Adolescentes entram na roda e abrem o jogo

Reuniões mensais da UBS Primeiro de Outubro abordam sexualidade, alcoolismo, e até ostentação com aparelho ortodôntico

Grupo é aberto à comunidade. Jovens têm à disposição uma equipe multiprofissional com psicólogo, educador físico e enfermeiro

 

Por Keyla Santos
Fotos: Edson Hatakeyama

Falar com adolescentes sobre saúde, sexualidade e drogas é jogo duro. A UBS Primeiro de Outubro (região Leste), em parceria com a ONG Casa dos Meninos I, encara o desafio organizando, mensalmente, um grupo aberto de adolescentes para abordar temas comuns à idade. Nessas rodas de conversas com profissionais de saúde são realizadas dinâmicas e abordagens de saúde como narguilé, alcoolismo, sexualidade na adolescência, doenças sexualmente transmissíveis, ostentação do aparelho ortodôntico, saúde bucal, gravidez na adolescência e drogas, entre outros.

O grupo existe há pouco mais de um ano. Atende adolescentes de 12 a 17 anos. “O trabalho é voltado a tudo que precisamos desenvolver pensando na qualidade de vida e também em indicadores futuros. São abordados temas como sexualidade, drogas e também projetos de vida. Os temas são sugeridos pelos colaboradores de saúde e pelos adolescentes, por meio dos questionamentos que surgem no grupo”, afirma Tiago Reis Marques, gerente de Estratégia Saúde da Família (ESF) da unidade.

Segundo Thereza Cristina, psicóloga que atua no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), o foco é a prevenção e promoção da saúde. O objetivo é minimizar os danos e os riscos. “A gente tem um pouco de dificuldade para lidar com temas relacionados às drogas por conta do tráfico, pois ele existe aqui na área. Tem muitas meninas e meninos que, infelizmente, estão envolvidos e o assunto é muito delicado. A gente os orienta a refletir a respeito dessas escolhas, apresentando coisas mais saudáveis, como esporte, lazer, cultura. A gente tenta sempre trabalhar com a rede para apoiá-los”, afirmou a psicóloga. O grupo é aberto à comunidade. Os jovens têm à disposição uma equipe multiprofissional com psicólogo, educador físico e enfermeiro.

‘Revelaram meu potencial e estão me ajudando a compreendê-lo’


Além do bate-papo com os profissionais de saúde, na ONG Casa dos Meninos I, Victor participa de cursos voltados ao mercado profssional

 

As rodas de conversa contribuem para que os adolescentes se preocupem mais com a saúde e respeitem seu corpo. Questões relacionadas ao futuro como família, estudos e profissão também são estimuladas.

Para Victor José, de 15 anos, o grupo é fundamental. “Aqui aprendi muitas coisas, como artesanato, informática e um pouco de panificação. Tive novas experiências e fiz novas amizades. Os encontros estão mudando muitas coisas na minha vida, pois eles revelaram meu potencial e estão me ajudando a compreendê-lo cada vez mais”, disse.

Victória, de 14 anos, disse que tenta passar para os amigos e familiares o que aprende no Grupo de Adolescentes

 

Pensando no futuro, Victória Regina, de 14 anos, é novata no grupo. “Aprendo muitas coisas nos encontros. Abri minha mente para o mundo profissional. Tudo que aprendi aqui eu passo para frente, para ensinar meus colegas da escola e até mesmo as pessoas da minha família”, afirmou a adolescente.

Já Alexsander Ferreira Franco da Cruz, de 16 anos, acredita que as reuniões podem mudar muitas coisas em sua vida. “A minha mente já está abrindo para coisas novas, pois estou aprendendo coisas interessantes. Recebemos várias orientações, informações sobre temas polêmicos. Assim a gente começa a se soltar, a expressar nossas opiniões sobre cada tema aplicado”, comentou.


Palestra aborda gravidez na adolescência

Manter uma rotina de diálogo com o adolescente sobre vida sexual é uma importante tarefa para pais e responsáveis. Pensando nisso, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), por meio de profissionais da rede, desenvolve ações como grupos de adolescentes a fim de orientar e se aproximar deles. Para capacitar ainda mais os profissionais foi promovida, na última sexta-feira (31), uma palestra sobre gravidez na adolescência, ministrada por Ana Marta Monteiro de Souza, médica ginecologista e gerente do ambulatório do Hospital e Maternidade-Escola Vila Nova Cachoeirinha. O evento foi organizado pela área técnica de Saúde da População Negra da Atenção Básica.

Segundo Ana Marta, uma gravidez não programada na adolescência pode trazer muitas complicações para a vida dos jovens e da família. “A adolescência é um momento de passagem. Nesse período, o adolescente está estudando, fazendo escolhas sobre o futuro profissional para ter um emprego melhor. Com a gravidez, muitos desses processos são interrompidos. A adolescente grávida não está ainda na plenitude física em termos de maturidade sexual, psicológica, física e pode ter algumas repercussões na evolução da gestação”, disse a ginecologista.

Trabalho multiprofissional

No Hospital Municipal Vila Nova Cachoeirinha o trabalho desenvolvido com adolescentes grávidas é multiprofissional, com ginecologistas e psicólogos. Muitas vezes é necessário trabalhar a questão psicológica da adolescente e da mãe, que se vê perdida diante da situação. “A questão da educação é fundamental. A mudança de cultura, a escola ser mais aberta para essas discussões e a família também estar mais aberta para conversar com seus filhos. Isso vai mudar um pouco quando essa questão for mais tranquila por parte da família. O jovem vai transar. Não adianta dizer que não”, afirmou Ana Marta. A partir do momento que é constatada a gravidez, por meio de teste em uma unidade básica da saúde (UBS), a jovem é orientada a fazer o pré-natal e recebe acompanhamento disponibilizado pela rede.