São Paulo é a única representante do Brasil na Conferência Internacional da Aids em Amsterdam

Evento abordará aspectos psicossociais da doença e estratégias de combate com representantes de todos os continentes

São Paulo é a única cidade da América Latina a participar da conferência AIDSImpact, que será realizada pela Secretaria da Saúde de Amsterdam em colaboração com a Universidade de Amsterdam entre os dias 28 e 31 de julho. A infectologista Eliana Battaggia Gutierrez, coordenadora do Programa Municipal de DST/Aids, contará a experiência da cidade no combate à Aids e as novas estratégias desenvolvidas para atingir a meta de superação da epidemia até 2030.

A representante da Capital estará na mesa denominada “Contos de três cidades”, que reunirá ainda São Francisco (EUA) e Amsterdam (Holanda) para expor suas experiências de combate à doença de acordo com as especificidades socio-históricas de cada uma delas. O objetivo comum de controlar o HIV em nível municipal seguirá, para cada cidade, diferentes estratégias determinadas pelas características locais.

No caso de São Paulo, de acordo com estudo recentemente divulgado pela Prefeitura, a Aids tende a se concentrar em grupos vulneráveis e, geograficamente, na região central. A PCAP (Pesquisa de Comportamento, Atitudes e Práticas em Relação às DSTs) identificou também que enquanto 97% dos entrevistados reconhece o preservativo como melhor método para evitar DSTs, somente 53% teve acesso gratuito a camisinhas no ano anterior e 35% fez um teste de detecção ao menos uma vez na vida.

Essas características direcionaram a ação do Programa DST/Aids, combinando antigas e novas estratégias em tratamento e prevenção. Foi preciso desenvolver soluções e materiais de divulgação específicos para gerar impacto em cada um dos grupos mais afetados: homens jovens homossexuais, pessoas em situação de rua e usuários de drogas.

Para o primeiro grupo, o programa tem levado a testagem a locais especialmente frequentados pela população LGBT, com unidades móveis. A iniciativa treinou mais de mil agentes de saúde para a realização de testes rápidos, trabalhando também em parceria com ONGs que oferecem o teste oral de HIV. O resultado foi um aumento de 16,4% das testagens em dois anos.

Grandes displays de distribuição de preservativos começaram a ser usados em julho de 2014. Seis meses depois, já havia 26 jumbos expostos em locais públicos. O município forneceu mais de 9 milhões de camisinhas somente no terceiro trimestre de 2014, mais que o dobro do número alcançado no primeiro trimestre daquele ano, antes da utilização dos displays.

Além disso, recentemente foi criado o aplicativo “TánaMão”, que calcula riscos de exposição e mostra os serviços mais próximos para distribuição de preservativos, testagem e profilaxia pós-exposição (PEP). A PEP – administração do coquetel antirretroviral para evitar uma possível contaminação até 72 horas após a situação de risco – foi recentemente regulamentada em nível nacional, mas já era oferecida e promovida no município de São Paulo desde 2007. Com maior difusão, houve um crescimento de 161% no uso do procedimento em apenas dois anos, indo de 1.025 casos em 2012 para 3.459 em 2014, com destaque para o aumento da PEP logo após a exposição sexual.

O tratamento da população em situação de rua, no entanto, ainda representa um enorme desafio. Quando o respeito aos direitos humanos é tomado como fundamento irredutível, o acesso a essas pessoas exige soluções muito direcionadas. O programa De Braços Abertos (DBA) veio responder a esta demanda em 2014, oferecendo abrigo, alimentação, treinamento e trabalho remunerado a centenas de pessoas.

No âmbito do DBA, a Prefeitura desenvolveu os Consultórios na Rua, ajudando também a controlar epidemias. A marginalização dessa população dificulta sua inserção nos equipamentos regulares de saúde e a solução foi levar os serviços à rua, onde o Programa DST/Aids também está atuando com trailers de testagem de HIV e sífilis. Os testes nestes locais vêm delimitando um perfil de cerca de 5% de pessoas infectadas com HIV e de 27% com sífilis, que são encaminhadas para tratamento. As equipes da região central, que contam com um médico infectologista, tratam regularmente de cerca de 50 pacientes soropositivos.

Atualmente, a rede municipal do Programa DST/Aids conta com 26 unidades especializadas para testagem, aconselhamento e, em dez delas, tratamento. Dos 54.803 pacientes que procuraram os serviços de saúde, 34.369 estão seguindo tratamento, o que representa entre 60% e 70% dos pacientes soropositivos na cidade. A Prefeitura ainda financia 18 ONGs voltadas para o controle do HIV, sete casas de acolhimento provisório ou permanente para adultos e crianças soropositivos e realiza parcerias em projetos estratégicos. A meta até 2020 é aumentar em 34% o número de soropositivos em tratamento e em 61% o número de pacientes com carga viral indetectável.

AIDSImpact

O evento reúne gestores, médicos e acadêmicos de todo o mundo para debater aspectos psicossociais e comportamentais em temas relativos à prevenção, cuidado e tratamento da Aids/HIV de um ponto de vista global e de comunidades específicas. A primeira edição da conferência aconteceu em Amsterdam em 1991 e agora, 24 anos depois, retorna à capital holandesa em um momento otimista. Os avanços no tratamento e na profilaxia mudaram a cara da doença e permitem que o relatório recentemente divulgado pela UNAIDS avalie o controle da epidemia nos próximos 15 anos como uma possibilidade real.