Idosos estimulam corpo e mente no grupo ‘Saber Envelhecer’

Além de trabalho terapêutico, proposta do grupo é trabalhar autoestima, autocuidado, socialização e evitar o sedentarismo

Grupo “Saber Envelhecer” busca acolher e tirar da ociosidade pessoas da terceira idade, trabalhando com atividades de estímulo cognitivo e motricidade

 

Por William Amorim

Há quase três anos, os profissionais da UBS Zumbi dos Palmares, da região de M’Boi Mirim, realizam um trabalho simples, mas de grandes resultados para os idosos. O grupo “Saber Envelhecer” busca acolher e tirar da ociosidade pessoas da terceira idade, trabalhando com atividades de estímulo cognitivo e motricidade. Em média, quinze pessoas participam semanalmente dos encontros, que ocorrem às segundas-feiras.

Um dos fundadores do grupo, o fisioterapeuta Fábio Inácio Couto, explica que antes de começar as atividades uma enfermeira mede a pressão de todos os usuários. “Esse procedimento é para controle. Assim, podemos orientá-los melhor. Por exemplo, se no dia vamos fazer uma atividade física e o idoso apresentar a pressão elevada, não trabalharemos isso com ele”, disse Couto.

Dinâmica do grupo

Os encontros se alternam. Em uma semana são feitos circuitos com objetos como bambolê, corda, bola e cone. A tarefa é passar pelos obstáculos, trabalhar coordenação motora, equilíbrio e agilidade.

Na outra, são feitos jogos que exercitam a memória, como quebra-cabeça. “As atividades desenvolvidas no grupo são muito boas. Antes eu vivia depressiva, triste dentro de casa. O grupo me ajudou. Gosto muito quando fazemos ginástica e jogos que trabalham a memória”, conta a auxiliar de limpeza Inês Aloiza Tavares da Silva, de 52 anos.

A cada três meses, na última segunda-feira do mês, é realizada uma festa para os aniversariantes.

Amparo emocional

Além da parte física, o grupo ampara emocionalmente os idosos que muitas vezes não sabem onde encontrar apoio.

José Henrique Costa, terapeuta ocupacional, afirma que participando do “Saber envelhecer” a autoestima dos idosos melhora e a queixa de dor diminui.

Inês, que participa do grupo a mais de dois anos, diz que sempre convida muitas amigas. “Depois que comecei a participar do grupo fique mais desinibida. Antes eu era muito envergonhada. Os profissionais mostram que não somos rejeitados. Aqui eu me sinto muito bem, é como se eu estivesse em uma família”, conta a auxiliar de limpeza.

Márcia Regina Bezerra da Silva, de 76 anos, faz trabalho voluntário e usa sua casa para ajudar dependentes químicos. Ela conta que já passou por muita coisa. Foi moradora de rua, sofreu estupro, perdeu marido, viu a filha se envolver com drogas e roubos e sua neta ser abusada. “Quando minha neta mais velha foi estuprada entrei em um quadro depressivo profundo, cheguei ao extremo, pois eu já tinha passado por isso. Foi o grupo que me tirou do buraco. Aqui eu encontrei o abraço e o conforto. Eles me ajudaram em tudo, tanto fisicamente como emocionalmente”, conta Márcia, emocionada.

Dia Internacional Contra a Discriminação Racial

A ONU (Organização das Nações Unidas) instituiu o dia 21 de Março como o Dia Internacional do Combate à Discriminação Racial. A data não passou em branco e foi debatida pelo grupo, em um encontro realizado em 23 de março. Primeiro foi apresentado o filme nacional “Xadrez das cores”, que aborda o assunto de uma forma bem-humorada. Logo após, o grupo discutiu e concordaram que a discriminação racial ainda existe.

“É difícil de explicar o porquê ainda existe tanto preconceito, mas é preciso discutir. Isso está tão impregnado na sociedade que as pessoas acabam reproduzindo esses preconceitos sem perceber”, explica a psicóloga Marília Carolina Aguiar Ribeiro.

No Brasil, mais da metade da população é negra e mulata. Mesmo assim, o preconceito ainda é muito forte. “Precisamos entender que o negro é bonito, inteligente, pode ter ensino superior; que o cabelo crespo não é ruim, é crespo e assim por diante. Devemos quebrar esse paradigma de que o negro só sobe na vida sendo cantor de pagode ou jogador de futebol”, afirma o terapeuta ocupacional João Henrique Costa Alves dos Santos.

Racismo

João, que é negro, conta que já sofreu discriminação. “Uma vez, quando era pequeno e fui cortar o cabelo no salão de uma cabeleireira que minha mãe conhecia, chegando lá ela me olhou, disse que não cortava cabelo e pediu para eu procurar outro salão. Eu voltei para casa e disse à minha mãe que o endereço estava errado, então ela me levou até o salão. Chegando ao local a cabeleireira ficou sem graça por ver que conhecia minha mãe e tinha se negado a cortar meu cabelo”, conta João.

A usuária da unidade e participante do grupo Maria dos Reis dos Santos, de 71 anos, também relata um caso de discriminação que sofreu. “Quando eu tinha uns 30 anos fui a uma agência na cidade para procurar um emprego. Tinha uma vaga para diarista, mas uma das exigências era que a pessoa não fosse de cor (negra)”. Ela diz que levou e leva essas atitudes na esportiva. “As pessoas não devem ter preconceito, pois no fundo somos todos iguais. O que muda é a pele, mas se cortar o sangue é igual”, expõe Maria.