São Paulo enfrenta epidemia de dengue, mas crescimento de notificações se estabiliza

Balanço com dados consolidados até a 16ª semana epidemiológica foram apresentados nesta quinta-feira (7). Capital registrou 86.178 notificações, 38.927 casos confirmados e oito mortes

Atualmente, a cidade de São Paulo enfrenta uma situação de epidemia de dengue, mas o crescimento do número de novas notificações nas últimas semanas tem se estabilizado. Dos 96 distritos administrativos, 31 registram incidência maior do que de 300 casos por 100 mil habitantes, o que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), caracteriza situação de epidemia. Foi o que afirmou na tarde desta quinta-feira (7) o secretário-adjunto da Secretaria Municipal de Saúde, Paulo Puccini, durante a apresentação do oitavo balanço do ano sobre a situação da dengue na capital até a 16ª semana epidemiológica.

Acompanhe a situação da transmissão da dengue no município de São Paulo
Veja aqui os casos de dengue por subprefeitura e por semana epidemiológica

No período de 4 de janeiro a 25 de abril, 86.178 casos foram notificados e 38.927 foram confirmados autóctones (contraídos no Município). No mesmo período de 2014, a cidade teve 29.586 casos notificados e, destes, 14.219 autóctones confirmados. Cerca de 38,7% dos casos estão concentrados na zona norte de São Paulo. Outras três morte foram confirmadas, somando oito óbitos pela doença neste ano. Outros 25 casos seguem em investigação.

"Em termos de volume de casos [confirmados] por semana epidemiológica, nós estamos atingindo o platô da transmissão da dengue no município de São Paulo - e não é possível cairmos se não atingirmos antes o platô. A ocorrência semanal da dengue, que vinha em ascensão, com um número de casos maior a cada semana, se estabilizou. Nós conseguimos estabilizar ela a partir da 12ª semana epidemiológica", disse Puccini.

Nas 12ª, 13ª e 14ª semanas epidemiológicas, foram confirmados 5.953, 5.309 e 4.277 casos autóctones, respectivamente. Já nas 15ª e 16ª semanas foram confirmados 2.817 e 1.514. Os números das duas últimas semanas, entretanto, ainda devem ser atualizados por confirmações tardias da doença.

O coeficiente de incidência da cidade, isto é, o número de casos por 100 mil habitantes, chegou a 302,2 na 14ª semana epidemiológica - a última divulgada pela Secretaria de Estado da Saúde do Governo do Estado de São Paulo. Apesar da nova situação de epidemia no município, ele ocupa a 287ª posição entre as cidades do estado que, por sua vez, possui coeficiente de incidência de 483,5 casos por 100 mil habitantes até a 14ª semana.

Considerando a porcentagem de habitantes por distrito, 31 estão em situação de surto epidemiológico. Os que concentram maior incidência são: Brasilândia, Pari, Raposo Tavares, Pirituba, Freguesia do Ó, Jaraguá, Cidade Ademar, Cachoeirinha, Rio Pequeno e Perus.

Diante da situação de epidemia, os casos notificados por dengue passarão a ser confirmados pelo critério clínico epidemiológico nestes distritos administrativos, em emergência. "A partir de um determinado nível de ocorrência, suspende-se a confirmação laboratorial e adota-se a confirmação por critério clínico epidemiológico, sobretudo nas regiões com elevado índice de incidência. Vale destacar ainda que a ação clínica terapêutica independe desta confirmação", disse Puccini.

A coleta de sorologia para a confirmação dos casos suspeitos de dengue só será realizada nos casos mais graves e óbitos. A medida visa agilizar a vigilância epidemiológica, o controle vetorial e a assistência aos pacientes.


Ações de combate ao mosquito
É importante esclarecer que a dengue está mais associada às altas temperaturas e à água limpa do que simplesmente à chuva, porque qualquer pequena concentração de água, desde uma tampinha de garrafa a um prato de vaso pode ser um criadouro. A Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa) considera que o aumento dos casos neste ano está associado ao calor, que acelera o desenvolvimento do mosquito e ao acúmulo de água limpa sem proteção, devido à crise de abastecimento dos últimos meses.

Os paulistanos devem se atentar à necessidade de ação individual preventiva para eliminar criadouros de mosquito Aedes aegypti. A visita de equipes é programada com base no mapeamento de pontos críticos, a partir dos casos confirmados. E uso de nebulização pesada ("fumacê") só ocorre em última instância, emergencial, e funciona para eliminar mosquitos, sem efeito prático na eliminação de criadouros. Mais de 144 mil domicílios já passaram por ação da nebulização.

A Prefeitura reforçou o trabalho dos 2.500 agentes de zoonoses em toda cidade, com ações de visitas porta a porta, grupos de orientação e ações de combate nos locais de grande concentração de pessoas. Desde março, com apoio das subprefeituras, foram realizadas em toda a cidade 195 operações Cata Bagulho, 235 “arrastões”, 212 ações de intensificação de distribuição de telas para caixas d’água e 118 limpezas de córrego.


Apoio do Exército
Desde o dia 23 de abril, 50 soldados do exército que foram colocados à disposição para combater os focos de criadouros dos mosquitos transmissores da doença acompanham as equipes de saúde. Até esta quarta-feira (6), foram realizadas 14.374 visitas a imóveis dos bairros do Limão e Vila Maria, ambos na zona norte da cidade.

"Essa parceria é o exemplo para que os problemas, como esse, sejam resolvidos com a presença da Prefeitura, do exército, que está à disposição para apoiar a população e para apoiar os órgãos que necessitam desse tipo de serviço. Quando nós verificamos a mudança de comportamento da população, em abrir as suas casas para que haja a vistoria por parte do agente de zoonoses e do militar do exército, isso demonstra a elevada confiança que a sociedade tem com o exército brasileiro", disse o coronel Ricardo Carmona, chefe da seção de Comunicação Social do Comando Militar do Sudeste (CMSE).

As visitas são realizadas apenas em dias úteis, sem chuva. No mesmo período, outros 4.319 imóveis visitados foram encontrados fechados e os moradores de outros 210 se recusaram a abrir as portas para as equipes. O índice médio de recusas nos bairros onde o Exército atuou está em 3%. Os próximos bairros a serem visitados serão Santana e Freguesia do Ó.

Os soldados foram treinados por equipes da Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa) e se somam aos 2.500 agentes de zoonoses que diariamente visitam domicílios e orientam os cidadãos acerca de como evitar a proliferação dos mosquitos. A atuação dos soldados se dará em locais onde há maior resistência da população em receber os agentes da Covisa.


Tendas de Atendimento

A cidade de São Paulo conta com nove tendas de atendimento nos distritos do Jaraguá, Brasilândia, Freguesia do Ó, Cidade Ademar, M’ Boi Mirim, Lapa, Rio Pequeno, Aricanduva/Carrão e Itaquera. Uma nova tenda será inaugurada no Hospital São Paulo, localizado na Vila Mariana, a partir desta sexta-feira (8). Adotadas com o objetivo de desafogar as unidades de saúde em regiões de maior incidência da doença, mais de 14 mil atendimentos foram realizados pelos equipamentos.

Cada uma das instalações possui uma máquina de teste rápido de sangue, que possibilita a contagem de plaquetas para a identificação de eventuais agravamentos e potenciais evoluções para dengue hemorrágica. Os munícipes devem primeiro procurar a unidade de saúde junto às tendas. Aqueles que, depois de uma triagem inicial, têm suspeita de dengue são encaminhados para as tendas, onde recebem atendimento, orientação e tratamento específicos para a doença.


Óbitos
Os primeiros óbitos registrados em 2015 foram de uma senhora de 84 anos, moradora da Brasilândia, ocorrido no dia 28 de janeiro, e de um garoto de 11 anos, morador do Jardim Ângela, ocorrido no dia 9 de março. A terceira morte foi de uma mulher de 27 anos, moradora do Lajeado, no dia 19 de março, e a quarta foi de uma moradora do Grajaú, de 41 anos, no dia 31 de março. No dia 24, faleceu também um senhor de 92 anos morador do Jaraguá.

Dentre os óbitos confirmados nesta quinta-feira, estão o de uma mulher de 25 anos, moradora de Cidade Líder, no dia 7 de abril; o de um senhor de 52 anos, morador da Vila Medeiros, no dia 10 de março e, por fim, o de uma senhora de 64 anos, moradora do Cangaíba, no dia 16 de abril.

Durante todo o ano de 2014 a capital registrou 28.990 casos autóctones (97,7% ocorreram no primeiro semestre), com 14 óbitos ao longo do ano. Em 2015, a estimativa da Secretaria Municipal de Saúde, baseada no coeficiente de incidência das primeiras oito semanas e na taxa de positividade dos exames feitos no laboratório municipal, é que o número pode ser até três vezes maior. Apesar do aumento, a taxa de letalidade do município é ainda menor do que a apresentada no ano passado, com 0,021% ante a 0,048% em 2014.


Mobilização
Desde segundo semestre do ano passado, a secretaria municipal de Saúde intensificou as ações de prevenção e adotou duas novas estratégias para o combate às doenças. A portaria 2.286/2014 estabelece que os serviços públicos e privados de saúde devem realizar, em até 24 horas, a notificação compulsória dos casos suspeitos. A Secretaria criou ainda comitês locais de prevenção nas subprefeituras, para fortalecer o contato com a comunidade e o trabalho integrado nas ações de campo. Durante uma reunião realizada na manhã de hoje, diretores de hospitais públicos e particulares receberam orientações de como agir e como diagnosticar os casos da doença.

No dia 12 de fevereiro, o Plano Municipal de Combate ao Aedes-Aegypti ganhou reforço com a integração de equipes da Defesa Civil. Em cerimônia realizada no Vale do Anhangabaú, no centro da capital, 32 viaturas do órgão foram entregues devidamente adesivadas e equipadas com alto-falantes para a conscientização da população. Sete viaturas estão somente na região norte, mais atingida pela dengue.

Durante a vigência do plano, toda quarta-feira, desde 25 de fevereiro, equipes da Secretaria de Saúde distribuem panfletos e revistas educativas que tratam das formas de prevenção e combate aos criadouros em pontos estratégicas da cidade, de grande concentração de pessoas, como terminais de ônibus e portas de estações de metrô.


Como prevenir:
- Pratos de vasos de plantas devem ser preenchidos com areia;
- Tampinhas, latinhas e embalagens plásticas devem ser jogadas no lixo e as recicláveis guardadas fora da chuva;
- Latas, baldes, potes e outros frascos devem ser guardados com a boca para baixo;
- Caixas d'água devem ser mantidas fechadas com tampas íntegras sem rachaduras ou cobertas com tela tipo mosquiteiro;
- Piscinas devem ser tratadas com cloro ou cobertas;
- Pneus devem ser furados ou guardados em locais cobertos;
- Lonas, aquários, bacias, brinquedos devem ficar longe da chuva;
- Entulhos ou sobras de obras devem ser cobertos, destinados ao lixo ou "Operação Cata-Bagulho";
- Cuidados especiais para as plantas que acumulam água, como bromélias e espadas de São Jorge; ponha água só na terra