Cecco Ibirapuera vai além da jardinagem

Centro oferece oficinas e leva alunos ao encontro do bem-estar

Oficina integra usuários dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), moradores da região e interessados em aprender técnicas para atuarem profissionalmente

 

Texto e fotos por Keyla Santos


Como forma de levar as pessoas a encontrar bem-estar, cultura, integração com a vida e com a natureza, o Centro de Convivência e Cooperativa (Cecco) do Parque Ibirapuera – equipamento ligado às Secretarias Municipais de Saúde, do Verde e do Meio Ambiente, do Trabalho e da Cultura -, desenvolve atividades diárias para todos os públicos. Uma delas é a Oficina de Jardinagem. Ela integra usuários dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), moradores da região e interessados em aprender técnicas para atuarem profissionalmente. A atividade teve início há um ano e ocorre às terças-feiras.

A oficina é liderada pela bióloga, paisagista e professora de jardinagem Assucena Tupiassú. Ela passa as manhãs de terça-feira explicando técnicas básicas de jardinagem aos cerca de 20 alunos que frequentam suas aulas. É quase uma filosofia de vida. A atividade com as plantas os ajuda a esquecer dos problemas e, ao mesmo tempo, se autoconhecer por meio da jardinagem ou, simplesmente, aprendem a cuidar do jardim de casa.


'Quem acha que está fazendo pelo outro se engana, porque na verdade estou recebendo e crescendo junto com eles. Para mim é uma dádiva, um presente mesmo', disse a bióloga

 

“Eu não sou psicóloga, mas acabo ligando o ser humano com o ser planta. Os cuidados que a gente tem que ter de água, alimentação e cuidados. Trabalho muito isso”, disse Assucena. A bióloga acrescentou ainda que durante as aulas são todos jardineiros. “Aqui há pessoas com transtorno mental, com problemas com álcool e drogas mas que, neste momento, são todas jardineiras. Esquecem a esquizofrenia, a síndrome de Down, o álcool e a droga. No momento que a gente está aqui, todo mundo é da mesma equipe de jardinagem e eles levam isso muito a sério”, afirmou.

Assucena conta que os alunos frequentam as aulas a fim de conseguir uma profissão acabam, inclusive, conseguindo colocação no mercado de trabalho. “Jardineiro é a coisa mais rara. Hoje muitas pessoas precisam de jardineiro, mas existem poucos profissionais para atender a demanda porque não existe escola para a formação de jardineiro. Então, isso aqui é mais uma chance na vida”, disse.

Para ela, participar de uma atividade como essa é uma dádiva. “Eu aprendo direto com eles. Cada um que vem faz uma pergunta. Um faz uma atividade de maneira diferente e eu tento sempre escutar o que eles estão falando. Na oficina toda quem mais ganha sou, eu porque além da felicidade de estar com esse grupo, que é muito bacana, é um aprendizado. Quem acha que está fazendo pelo outro se engana, porque na verdade estou recebendo e crescendo junto com eles. Para mim é uma dádiva, um presente mesmo”, disse a bióloga.


‘As aulas me ajudaram a ver um mundo que estava obscuro na minha frente’

O técnico em comunicações Rogério Vanderlei, de 43 anos encara a Oficina de Jardinagem como terapia complementar contra a depressão. “As aulas me ajudaram a ver um mundo que estava obscuro na minha frente. A energia que eu sinto mexendo na terra, mexendo nas plantas, me ajudou e mudou minha forma de olhar o mundo. Hoje eu olho mais pra cima, vejo as cores, sinto o cheiro da terra, das árvores quando chove. Isso já traz um complemento para minha vida, deu outro sentido. Não acabei com a depressão, mas [a oficina] me ajuda a equilibrar um pouco. A gente também aprende a respeitar a natureza”, disse Vanderlei, frequentador da oficina há cinco meses.

Nela Vanderlei diz ter conseguido experiência profissional na área de jardinagem. “Foi ótima. Não fiz nada a mais nada a menos do que eu faço aqui. Trabalhei com o que eu gosto, que é a natureza. Passaram-se oito, nove horas e eu nem senti o tempo passar”, afirmou.

O torneiro mecânico David Pinto da Silva, de 57 anos, é alcoólatra. Frequenta a oficina há um mês e está feliz por aprender uma nova profissão. “Estou aprendendo a podar, a plantar, e isso é muito bom pra mim e para o meu cérebro. Minha pretensão é sair daqui com uma profissão e arrumar um ‘bico’ para complementar minha renda”, disse Silva.

Já para a aposentada Sônia Marli Pian de Moura, de 59 anos, a oficina é importante, pois envolve vários tipos de pessoas. “Aqui é possível ajudar e aprender muito com tudo. É possível aprender a se dedicar a alguém que precisa de um contato mais delicado, de uma atenção maior. Com essas pessoas é possível aprender muitas coisas. A vida muda um pouco também, porque a gente aprende a fazer algo de interessante para alguém que tem dificuldades, tenta resolver e se dedica cada vez mais”, afirmou Sônia.

 Integrantes da Oficina de Jardinagem retiram as mudas do vaso para plantar no jardim do Cecco


SERVIÇO
Cecco Ibirapuera

São oferecidas atividades gratuitas para a população. Entre elas estão: oficina de jardinagem, práticas integrativas, artes plásticas, artesanato, linguagem corporal de dança, linguagens expressivas e culturais, projetos especiais e núcleo de economia solidária são algumas das atividades realizadas pelo Centro de Convivência e Coopertativa (Cecco) do Parque Ibirapuera. Saiba mais em: http://www.ceccoibirapuera.com.br/