Agente de zoonoses é exemplo de superação

Funcionário da Suvis M’ Boi Mirim vence batalha contra drogas e transforma em poesias o cotidiano da equipe na luta contra mosquito da dengue

Por Keyla Santos

Claudio Bernardino Martins é duro na queda. Como fala o samba, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. Como se não bastasse, transforma as durezas e alegrias da vida em poemas. Exemplo de superação e determinação, o gente de zoonoses da Supervisão de Vigilância em Saúde (Suvis) M’ Boi Mirim – ex-usuário de drogas – pode inspirar outras pessoas a mudar o destino.

Martins, de 47 anos, trabalha na Suvis M’ Boi Mirim desde 2009. Afora os dragões do passado, em sua história de vida, monstros reais batem à sua porta todos os dias. “Há um ano e oito meses, diariamente, piso em escorpião, amanso urso e domestico leão”, disse Martins referindo-se à sua nova vida de cara limpa e às dificuldades que enfrenta para manter-se longe das drogas. Um dia de cada vez.

“A droga surgiu em minha vida como uma namorada. Eu tinha 17 anos. Fui usuário por quase 30 anos. Toda minha existência foi mais droga do que vida”, disse, emocionado, ao relembrar o passado. Como na maioria dos casos, Martins foi “apresentado” aos entorpecentes pela curiosidade.

Após quase três décadas de vício, ele diz ter sido difícil identificar que havia chegado ao fundo do poço. Vivia sempre sozinho, sem amigos. Tinha consciência de que, se estivesse com outras pessoas e fosse abordado pela polícia, inocentes poderiam pagar por algo que não deviam. “Só me dei conta [da tragédia pessoal] quando percebi que já não conseguia ficar abstinente”, disse.

Pai de um casal de adolescentes, o agente decidiu mudar de vida após algumas overdoses de cocaína. “Chega um tempo que você usa droga e as pessoas não conseguem mais decifrar se você está ‘usado’ ou de cara limpa. Por isso, não tive tanta dificuldade com a minha família. Sempre me esquivei”, afirmou.

Luz no fim do túnel

Mas a luz no fim do túnel surgiu em seu local de trabalho, em 2012, quando uma assistente social da vigilância sanitária conseguiu uma licença para que Martins pudesse ficar internado em uma clínica de recuperação. “Tive que ficar longe de tudo e de todos para conseguir me recuperar”, disse. Na clínica conheceu a religião que, segundo ele, o fortaleceu para que pudesse continuar.

Após nove meses de internação, em 2013 Martins voltou ao convívio social. Passou então a encarar os problemas que sempre existiram mas que ele nunca encarava de frente, pois eram mascarados pelo consumo de drogas. “Hoje eu estou tentando aprender a andar careta, de cara limpa. Nunca consegui ficar de cara limpa assim. Mas agora estou conseguindo”, afirmou, com orgulho.

Para a supervisora da Vigilância em Saúde de M’Boi Mirim, Ana Beatriz Zunder, é notável o esforço de Martins em se recuperar e superar preconceitos. “Depois de todo o processo pelo qual passou, ele conseguiu voltar ao trabalho e ser aceito no grupo. No início houve um pouco de preconceito, mas interferimos e conseguimos dar um olhar mais especial para ele. Esse foi o pontapé inicial porque, depois, ele se desenvolveu. O que a gente nota é que ele precisou de um acolhimento e depois partiu dele. Hoje ele já está fazendo o trabalho como qualquer um agente de zoonoses. Ele trabalha em equipe, o que é muito difícil. Hoje, ele é um funcionário normal como qualquer outro”, frisa Ana Beatriz.

Clique aqui e confira o poema escrito pelo agente de zoonoses para o Dia D de Combate ao Aedes aegypti.