Acidentes de trânsito, mergulhos e quedas podem lesar coluna e medula espinhal

Lesões são permanentes, mas podem ser tratadas de forma satisfatória

Por Maria Lucia do Nascimento

No Brasil, dados do Ministério da Saúde e eestudos realizados em centros de reabilitação apontam os acidentes automobilísticos e ferimentos por projétil de arma de fogo como a segunda causa mais comum das lesões na coluna e na medula espinhal. De acordo com a Área Técnica do Centro Especializado em Reabilitação (CER IV M’Boi Mirim), levantamentos dos centros de referência em traumatologia da cidade de São Paulo revelam que estas lesões estão relacionadas, principalmente, à quedas, em especial de lajes.

A medula espinhal é a estrutura mais frágil do canal medular. Nela encontram-se os neurônios e a formação das raízes nervosas. É na medula espinhal que ocorre a lesão medular.

As lesões na coluna e na medula espinhal comprometem as estruturas contidas no canal medular, que tem uma parte óssea (as vértebras) e por dentro delas passam a medula espinhal e as raízes nervosas, podendo levar a alterações motoras, sensitivas, autonômicas e psicoafetivas.

Estas alterações se manifestam, principalmente, por meio da paralisia dos membros superiores e inferiores, de tônus muscular, dos reflexos superficiais e pprofundos, perda da sensibilidades tátil e dolorosa, descontrole esfincteriano e de temperatura corporal, disfunção sexual, vasoplegia (queda acentuada da pressão arterial) e sudorese, entre outras.

Número de vítimas de TRM é elevado

Não existem dados precisos sobre a incidência e a prevalência dessas lesões, já que essa condição não é sujeita a notificação. Já o número de vítimas de Trauma Raquimedular (TRM) é assustador, segundo a equipe do CER M’Boi Mirim. São 40 casos novos por ano por milhão de habitantes - cerca de seis a oito mil. Destes, 80% são homens e 60% se encontram entre os 10 e 30 anos de idade. “As estimativas são de mais de 10 mil novos casos de lesão medular a cada ano no país, sendo o trauma a causa predominante, o que representa uma incidência muito elevada se comparada a outros países”, alertam o fisioterapeuta Igor Kaoru Naki e o ortopedista Alexandre Marú de Araújo, ambos do CER IV M’Boi Mirim.

Novas tecnologias

A reabilitação é o principal tratamento. Ela tem a missão de ajudar os pacientes com lesão medular a se adaptar e superar os desafios da restrição dos movimentos. Esse processo é feito por uma equipe multidisciplinar. Ela é capaz de atender cada indivíduo integralmente em suas demandas terapêuticas.

Os centros de reabilitação também têm associado inovações tecnológicas para que o indivíduo desenvolva seu maior potencial funcional possível. Incluem-se nestes avanços a Tecnologia Assistiva e a Robótica, que colaboram de forma importante para a melhoria da qualidade de vida das pessoas com lesão medular. O exoesqueleto, por exemplo, poderá ajudar o paciente com mobilidade reduzida a andar. O Japão tem sido pioneiro, com grandes avanços tecnológicos na utilização deste aparelho que, em pouquíssimo tempo, estará disponível no comércio em larga escala.

Na imagem ilustrativa abaixo, retirada do site institucional de divulgação da empresa Robo Care Center Japão, um paciente com paraplegia usando exoesqueleto em caminhada.
 

 

Estudo com células-tronco (autólogas adultas), feito pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital da Universidade de São Paulo, com células retiradas da medula óssea da própria pessoa, além do tratamento em 15 dos 32 pacientes (tetraplégicos e paraplégicos), cuja evolução vinha sendo acompanhada há dois anos pelos médicos do HC, já apresenta bons resultados. Ao receberem estímulos elétricos nas pernas os impulsos passaram pelo ponto da ruptura e chegaram até o sistema nervoso central . Com a terapia, pacientes relataram uma melhora na sensibilidade dos membros afetados pela paralisia e passaram a senti-los melhor.

Outro paciente, em Bonn, na Alemanha que em 2011, após implante de células-tronco autólogos, com uma semana de tratamento de reabilitação no Centro ISST na cidade alemã de Unna, pela primeira vez em três anos e meio de lesão conseguiu realizar contrações voluntárias de quadríceps - músculo responsável por esticar as pernas.

Como se vê, o diagnóstico de uma lesão na coluna e na medula espinhal, seus sintomas clínicos e efeitos traumáticos dizem que elas são incuráveis. Os trabalhos com células-tronco descritos acima, contudo, mostram passos importantes no tratamento dessas lesões e que os pesquisadores estão obtendo descobertas surpreendentes que podem ser de grande ajuda para as pessoas com paraplegia e tetraplegia.