Projeto Deslocamentos

Parceria entre Saúde e Cultura leva educação e arte para pacientes em sofrimento mental.

Por: Marcella Jeane Duarte
Colaborou: Sofia Siqueira



No dia 1º de dezembro foi finalizado mais um ano de trabalho do Projeto Deslocamentos. O encontro foi realizado no museu Lasar Segall, com a presença de representantes de CAPS, CECCO, museus e pacientes participantes do projeto, além da coordenadora, Olga Scartezini Rezende, assistente social do Centro de Convivência e Cooperativa do Ibirapuera.

O projeto é uma parceria entre equipamentos públicos da rede de Saúde Mental (CAPS e CECCOS da região Sudeste) e equipamentos da Cultura (museus Lasar Segall, Afro Brasil e Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo) que possibilita a criação de uma rede de cuidado, atenção e acessibilidade voltada para pacientes em algum tipo de sofrimento mental.

O trabalho também é caracterizado por contribuir com políticas públicas integrativas e por possibilitar que os participantes tenham condições de se apropriarem de seus territórios e para que possam ter acesso ao que por ele é ofertado.

Ações educativas



Os pacientes que participam do projeto realizam visitas monitoradas pelos educativos dos museus parceiros além de atividades de ação educativa e criativa. A aprendizagem adquirida vem através da contextualização e interpretação das obras expostas. Olga destaca que a arte atua como “mediadora das relações do homem com o mundo”.

As visitas e discussões também ajudam os participantes a trabalharem a subjetividade. Para Olga, a experiência proporciona a oportunidade de “problematizarmos a nossa forma de estar no mundo”.

Ainda que os participantes estejam acometidos por graves comprometimentos mentais, a experiência pode ser proveitosa: “Quando estão estáveis, estimulados para uma vivência potente, o lado mais preservado vem à tona. É (importante) trabalhar a organização interna, fortalecer com essas vivências que são fora da clínica convencional”, ressalta Olga.

Além da participação dos educativos dos museus, os pacientes também são acompanhados por terapeutas. “Se dentro da ação educativa tiver algum tema que seja angustiante, um terapeuta está presente”, reforça Olga.

Benefícios para pacientes e profissionais

Para a terapeuta residente Luiza Helena de Oliveira Fernandes, que atua no CAPS AD do Jabaquara, na Vila Mariana, uma das coisas que mais se sobressaem no projeto é a possibilidade de ver profissional e paciente em condição de igualdade. “Ocorre troca de experiências, de saberes... Acho que é um projeto muito importante porque une vários setores da assistência, acho que potencializa a vida das pessoas na criação de sentidos, de formas de viver e ocupar o espaço e o território” reafirma.



Para ela, a experiência também trouxe um novo olhar profissional: “Foi importante para parar e repensar a minha prática, pensar em novas formas de intervir com esses usuários, de pensar em formas de potencializar a autonomia deles, de pensar em formas de aumentar a qualidade de vida deles”, pontua.

Bárbara Harume Watanabe, que também é terapeuta residente, percebeu mudanças no paciente que ela acompanhou durante as visitas: “Ele teve mudanças extremamente significativas, tanto na questão da autonomia, mas também de poder vislumbrar outros meios de vida, coisas que ele deixou de fazer e pôde retomar”.
Em relação a sua prática profissional, ela salienta que a experiência foi positiva, como “um registro de um novo modo de se fazer saúde, de se produzir cuidado, que tem a ver com você ocupar os espaços”.

Ela também acredita que experiências fora dos serviços convencionais são importantes e acrescenta: “ao invés da gente manter as pessoas dentro dos serviços e oferecer algum tipo de técnica que a gente conheça por que a gente não vai pra vida junto com eles, para os espaços que eles circulam o que faz muito mais sentido para o resgate de autonomia”.

 

Assista ao Giro de Notícias sobre o evento aqui.