Banco de leite do Cachoeirinha conta com cerca de 30 doadoras externas de leite

Dia 19 de maio é o dia Internacional de Doação de Leite Humano; por semana cerca de 18 litros são disponibilizados para bebês que precisam de leite materno

Por: Camila Brunelli 

Fotos: Rodox Oliveira

Quando há seis anos, a enfermeira obstétrica Vivianne Elias Silva dos Santos, resolveu parar de atuar no auxílio de partos e foi trabalhar no banco de leite humano do Hospital Municipal Maternidade-Escola de Vila Nova Cachoeirinha (HMEC), ela não sabia o tamanho do desafio que enfrentaria. Atualmente, ela chefia uma equipe de profissionais que auxiliam as puérperas na retirada do leite da mama e tratam o leite materno de várias mulheres que passam por mês pela sala de ordenha do banco de leite do hospital. Essas mulheres estão no hospital para acompanhar e alimentar seus bebês que, por algum motivo, nasceram recentemente mas ainda não puderam ter alta.

Sala de ordenha do banco de leite do Hospital Cachoeirinha

sala de apoio do banco de leite do HMEC

Nessa sala, cadeiras confortáveis e um rádio com música baixa e relaxante oferecem um ambiente tranquilo para a ordenha. “Eu sugeri este rádio para o Dr. Agenor (coordenador do banco de leite), porque se não, não dá, né? Esse espaço tem de ser minimamente acolhedor”, disse Vivianne. Ali, as mães são orientadas com relação ao uso de touca, máscara, e do frasco esterilizado para retirada do leite da mama pela bomba elétrica. Mesmo assim, Vivianne tem o cuidado de orientar a puérpera: “É importante que ela saiba tirar o leite manualmente.”

mãe tira leite com bomba elétrica em sala de apoio do Hospital

funcionária usa a bomba elétrica para ordenha 

Enquanto a entrevista acontecia, uma mãezinha que é servidora do HMEC bateu na porta. Débora queria usar a sala de apoio do banco de leite para ordenha que ia levar para o filho Daniel, de nove meses. “Para mim é uma bênção ter esses espaço no meu local de trabalho. Assim, eu posso manter a amamentação e oferecer o leite materno para o meu bebê. Se eu trabalhasse em outro lugar, eu não teria essa oportunidade”, disse ela, que atualmente está no departamento jurídico do hospital e conversou com a sua gestora sobre a break antes do almoço. A moça tem o cuidado de escalonar esses intervalos com os horários das mãezinhas que utilizam a sala para tirar o leite para seus bebês que ainda estão internados.

Vivianne faz questão de explicar que o leite que Débora vai levar para casa, não é o leite fresco, que ela retirou hoje. Ele vai para um frasco esterilizado e devidamente etiquetado, no freezer. Ela só pode levar para casa quando estiver congelado porque tudo é feito “dentro das normas”. “Eu levo dentro da bolsa térmica para manter congelado até chegar em casa”, explicou Débora.

O caso da Débora, no entanto, não é a realidade comum do banco de leite do Cachoeirinha. Todo o leite que entra e vai para o freezer (de doadora ou de mães que deixam o leite para alimentação do seu filho), passa pelo tratamento de pasteurização – um choque térmico do leite, que aumenta a duração do leite para até seis meses. O leite cru, mesmo congelado, dura apenas 15 dias. Esse tratamento térmico também é feito para matar as bactérias que possam existir.
As meninas da equipe do banco de leite trabalham com muita atenção, porque cada um dos frascos de leite tem de ser tratado individualmente, ou seja, o leite de uma mãe não pode ser misturado ao de outra. “A composição de leite de cada mãe é diferente: depende do horário em que foi tirado, do dia, da alimentação da mãe, entre outras variáveis”, explicou a enfermeira. 

fração retirada dos frascos para verificar acidez e valor nutricional do leite

pequena quantidade retirada do frasco para verificar acidez e valor nutricional 

Logo no início do processo, uma auxiliar de enfermagem da equipe de Vivianne, descongela os frascos de leite e retira 5 ml de cada um deles para a triagem do leite. Com isso, as profissionais querem saber se a acidez do leite está de acordo com as normas técnicas exigidas pela Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano – Fiocruz “Quanto mais ácido, menos cálcio esse leite contém. Um leite ácido não vai ofertar a quantidade de nutrientes que uma criança que está debilitada, na UTI neonatal, por exemplo, precisa”, explicou a nutricionista do banco de leite, Rosely Roque de Lima.

Com esses 5ml retirado, elas também conseguem mensurar o ganho nutricional que esse leite pode oferecer ao bebê que vai ser alimentado com ele. Depois de colocado em vidrinhos chamados de “capilares”, que são agitados durante 15 minutos na centrífuga hematócrito, é possível saber o valor calórico de cada frasco. Aí, eles vão para a geladeira em prateleiras separadas em: “colostro” (leite de até sete dias depois do parto), “hipocalórico”, “normocalórico”, e “hipercalórico”.
Cerca de duas horas e meia depois do início do processo, o primeiro lote de leite está pronto para ir para o freezer esperar seu próximo consumidor. Por semana, são pasteurizados, em média, três lotes de leite, cerca de 80 frascos, ou 24 litros de leite - 18 litros são disponibilizados, mas sempre o banco conta com uma reserva, ou estoque. 

É importante ressaltar, no entanto, que todo esse leite, mesmo depois de pasteurizado, passa para um freezer de quarentena. Lá, os frascos esperam por 48h, até que o laboratório do hospital processe as amostras de leite para confirmar se não há bactérias que tenham sobrevivido à pasteurização. Em quarentena ficam também os frascos que estão aguardando o resultado dos exames de sangue que são realizados nas mães antes de doar leite – para o seu próprio bebê ou não. Para todas essas mulheres são pedidos exames de HIV (sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana), HTLV I/ II (sigla em inglês que indica vírus que infecta células T humanas), Hepatite B, Hepatite C, VDRL (Sífilis), CMV (citomegalovírus), TGO (glutâmico oxalacética), TGP (transaminase glutâmico pirúvica) e sorologia de Doença de Chagas.

frascos com o leite no congelador esperando resultados dos exames das mães

todo o leite que entra no banco de leite fica no freezer - seja esperando para o consumo, ou na quarentena 

No caso de resultado positivo, esse leite só pode ser consumido pelo próprio filho. “No caso de ser de doadora externa, o cadastro será reprovado e ela não poderá ser doadora”, explicou Vivianne.

Doadoras. Atualmente, o banco de leite conta com cerca de 30 doadoras de leite materno: mulheres que produzem mais leite do que o seu próprio bebê consegue mamar. Às terças-feiras, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), disponibiliza um de seus veículos para a coleta do leite que as doadoras tiraram durante a semana e congelaram. Uma das auxiliares da equipe de Vivianne acompanha as visitas: retira o leite que foi acondicionado durante a semana e leva mais frascos para a coleta, assim como máscaras e toucas. As orientações para a retirada de leite, de como esterilizar os copos ou os acessórios das bombas tira leite e a forma correta de acondicionar o leite materno são realizadas por email ou por telefone, e caso seja necessário a auxiliar reforça as orientações dadas anteriormente.

Um dia por semana, a equipe do banco leite acumula todos os frascos de leite para otimizar o trabalho de pasteurização. Uma vez começado, ele não pode ser interrompido sob pena de estragar algum dos preciosos potinhos de leite que pode fornecer os nutrientes que bebês debilitados tanto precisam.

A nutricionista Rosely e a enfermeira Vivianne em frente à entrada do banco de leite

 a nutricionista Rosely e a enfermeira Vivianne, em frente à entrada do banco de leite do HMEC


Mulheres interessadas em doar seu leite que residam na Zona Norte, devem entrar em contato com o banco de leite do Hospital Cachoeirinha para saber se é possível, no telefone: (11) 3986.1011 ou por email: blh.hmec@gmail.com