Prazer, eu sou a Lucinha

21 de setembro- Dia Nacional das Pessoas com Deficiência

Jornalista, funcionária pública da Prefeitura de SP , voluntária, lutadora e corajosa, poucas palavras para descrever a mulher que pode ensinar a você muito mais do que imagina.

Maria Lúcia do Nascimento, conhecida por muitos como Lucinha é funcionária da Secretaria Municipal da Saúde e trabalha na CESCOM – Coordenação Especial de Comunicação. Deficiente visual desde o nascimento, devido a retinose pigmentar , Lucinha já trabalhou na AHM e foi, como sempre, simpática e atenciosa quando pedimos que falasse um pouco sobre a vida, dificuldades e aventuras de uma cega ( termo que a própria Lucinha usa em seus textos) no ambiente de trabalho, estudos e muito mais.

Filha de pais simples e que sempre tentaram protegê-la dos “perigos” do mundo não adaptável, Lucinha é uma das 5 filhas do casal, que cuida e protege ainda mais duas outras filhas que além de deficientes visuais, possuem autismo. Perspicaz e com alto poder de persuasão ela nos conta sobre a sua infância e ressalta o dia que convenceu seu pai a lhe dar um triciclo, brinquedo que fazia a sua alegria e permitiam sair pedalando pelo quintal, literalmente atropelando todos a sua frente e nos conta sobre a sua fuga, escondida do seu pai para procurar o seu primeiro emprego.

Lucinha tem uma personalidade decidida e quando perguntamos sobre as reais dificuldades que um deficiente visual tem no mundo feito, infelizmente, ainda somente para os que enxergam e bem mal adaptado para qualquer Pessoa Com Deficiência (leia aqui, cadeirantes, deficientes auditivos, intelectuais entre outros) foi clara e objetiva em afirmar que melhorou se compararmos 20, 30 anos atrás, porém que estamos longe do ideal e cita por exemplo, o total desconhecimento e descumprimento da lei que obriga os restaurantes e lanchonetes a fornecerem cardápio em braile. No âmbito do entretenimento o débito com relação as adaptações também são grandes, ainda é rara a emissora de TV aberta que oferece sinal digital e transmite ao menos duas horas por semana de programação com audiodescrição ( recurso que narra as cenas mudas e descreve as imagens dos filmes e programas exibidos) conforme preconiza a portaria 188/2010. Ela ainda sonha com o dia em que chegará no cinema e todos os filmes contarão com este recurso ou, como boa devoradora de livros que é, encontrará todos dos lançamentos em braile nas livrarias, latinhas de refrigerantes e cervejas distintas em formatos ou demarcadas em braile entre outros. “Para mim, essa é a verdadeira inclusão”, declara.

Estudante do Instituto de Cegos Padre Chico até o final do ensino fundamental, ela lembra ainda as dificuldades que encontrou quando foi para um colégio não totalmente adaptável, bem como quando entrou na faculdade, Lucinha ressalta que sempre contou com o auxilio de colegas de classe para ditarem a matéria e que simples equipamentos como gravadores, como o que era fornecido na graduação, auxiliam a vida estudantil de um deficiente visual.


Atualmente assessora de comunicação e imprensa da Secretaria Municipal da Saúde de SP e membro da ONG ADEVA (Associação de Deficientes Visuais e Amigos), ela ressalta a importância do trabalho feito por esta ( e outras organizações sérias) de preparação para a inserção do deficiente visual no mercado de trabalho, tendo em vista a real necessidade de preparar este colaborador para que ele não seja somente um número necessário para o cumprimento da chamada Lei de Cotas, situação a qual, infelizmente, ela ainda vê com frequência.

Conhecer, conversar e ler sobre sua vida nos traz aquela sensação de que todos precisam estar juntos, para que este dia 21 de setembro não seja somente mais um dia Nacional das Pessoas Com Deficiência e sim marque o inicio de uma caminhada de todos , deficientes ou não, em prol da igualdade e acessibilidade e como diz a nossa personagem “... em vez de chorar as derrotas, procure sempre correr atrás das vitórias”.